Bolívia: Evo Morales anunciou a conexão de várias fontes de água para melhorar o abastecimento nas cidades (AFP)
Agência Brasil
Publicado em 2 de dezembro de 2016 às 10h38.
A Bolívia enfrenta, há duas semanas, sua pior seca desde a década de 1980. Chove apenas 10% do que é normal nesta época do ano.
O governo do país declarou situação de emergência nacional, pois falta água potável em várias cidades, principalmente na capital, La Paz.
Essa decisão permitirá aplicar fundos inicialmente reservados para outras áreas na solução da crise. O ecologista equatoriano Patricio Cabrera, da Fundação Futuro Latino-Americano, explica o que está por trás da forte estiagem.
"As causas naturais estão relacionadas aos fenômenos climáticos, ao aumento da temperatura, ao desmatamento, à falta de cuidado com as fontes de água. Normalmente, essa é uma zona que sofre o impacto da conversão do uso do solo para a agricultura. Sabemos também que é uma zona que sofre muitos impactos com a diminuição das geleiras. Cada um desses fatores é parte dessa complexa situação natural de falta de precipitação" disse.
O fenômeno El Niño, que altera a temperatura da água do Oceano Pacífico, com profundos efeitos no clima, também está entre os fatores que provocaram a grande seca na Bolívia.
"Sabíamos desde o início do ano que o fenômeno do El Niño provocaria impactos sérios em 2016. O que os nossos técnicos nos disseram é que em algumas zonas haveria o aumento das precipitações, como na parte norte do Pacífico. Por exemplo, eram esperadas inundações no Equador. Mas, em outras zonas, como na Bolívia e em algumas regiões do Chile, ia acontecer o contrário, a possibilidade de seca e falta de chuva. No final do primeiro semestre se dizia que o El Niño não impactaria tanto o clima como previsto no início do ano. Porém, no final, ele teve um forte impacto em regiões como La Paz", afirmou Patricio Cabrera.
Ele, que tem mestrado em Ecoeficiência, critica o governo da Bolívia pela falta de ação agora e no passado, pois, explica, era possível prever a situação.
"Na verdade havia toda essa quantidade de dados. Mas, além disso, não se trata de uma situação para a qual o governo deveria ter tomado decisões apenas este ano. Me parece que há elementos que fazem com que essa situação seja crítica agora, como a falta de planejamento e de gestão adequada das bacias hídricas no passado. O problema tem a ver com a falta de informação para tomar decisões. Deveriam ter feito um balanço hidríco para adequar a oferta à demanda em La Paz, sabendo que o volume de água dos rios está diminuindo. Esses não são processos que ocorrem da noite para o dia."
O presidente Evo Morales anunciou a formação de comissões ministeriais encarregadas da perfuração de poços e da conexão dos sistemas de água potável com novas fontes de água, com o objetivo de aliviar o drama nas cidades de Oruro, Potosí, Cochabamba, Sucre e La Paz. Nesta última, cerca de 400 mil pessoas têm acesso mínimo ou nenhum acesso à água.
"Creio que a situação vai piorar. Porque, com a falta de água, vão começar a aparecer problemas de saúde, de salubridade e de produção", diz Cabrera. O governo do Chile ofereceu na semana passada ajuda humanitária ao governo boliviano para enfrentar a situação de emergência.