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Biden pede que país 'reduza a temperatura política' e que evite o caminho da violência

Presidente americano prestou solidariedade a Donald Trump, alvo de atentado no sábado, e defendeu a união nacional

Joe Biden, presidente dos EUA, faz discurso do Salão Oval (Erin Schaff/AFP)

Joe Biden, presidente dos EUA, faz discurso do Salão Oval (Erin Schaff/AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 14 de julho de 2024 às 21h44.

Última atualização em 14 de julho de 2024 às 21h44.

Cerca de 24 horas depois do atentado contra o ex-presidente Donald Trump, durante um discurso na Pensilvânia, o presidente dos EUA, Joe Biden, fez um apelo ao país para que "reduza a temperatura" no meio político, afirmando ainda que esse não deve ser o caminho a ser seguido pelos americanos.

— Não há lugar nos EUA para este tipo de violência. Qualquer violência. Ponto. Sem exceções. Não podemos permitir que esta violência seja normalizada — disse o presidente, durante o discurso que durou seis minutos.

A escolha pelo Salão Oval como cenário do discurso, algo que Biden havia feito apenas duas vezes em seu mandato, reiterou a seriedade com a qual o presidente encarou o atentado, e como deverá lidar com as investigações e impactos políticos posteriores.

— Quero falar esta noite sobre a necessidade de baixarmos a temperatura na nossa política e lembrarmos que, quando discordamos, não somos inimigos, somos vizinhos, somos amigos, colegas de trabalho, cidadãos e, o mais importante, , somos compatriotas americanos. Devemos ficar juntos — afirmou Biden. — O tiroteio de ontem [sábado] no comício de Donald Trump na Pensilvânia apela a todos nós para darmos um passo atrás, fazermos um balanço de onde estamos, como iremos avançar a partir daqui.

O presidente citou casos recentes de violência política nos EUA, como a invasão da casa da ex-presidente da Câmara Nancy Pelosi, planos para sequestrar a governadora do Michigan, Gretchen Whitmer, e os ataques contra pessoas ligadas à apuração dos votos na eleição de 2020, quando derrotou Trump em meio a denúncias infundadas de fraude. Esse, segundo Biden, não é o caminho que os EUA devem seguir daqui para frente.

— Todos nós enfrentamos agora um momento de testes à medida que as eleições se aproximam — declarou Biden. — Não importa quão fortes sejam as nossas convicções, nunca devemos apelar para a violência.

Desinformação

O presidente ainda atacou a desinformação relacionada à eleição (e que já começa a povoar as redes com teorias da conspiração sobre o atentado), além de uma possível interferência de outros países, uma menção indireta à Rússia, acusada de atuar para favorecer Donald Trump na eleição de 2016, quando ele derrotou Hillary Clinton. Para Biden, são elementos que "atiçam as chamas da divisão".

— Todos nos EUA foram tratados com dignidade e respeito, e o ódio não deve ter porto seguro — disse o presidente. — Precisamos sair dos nossos silos, onde apenas ouvimos aqueles com quem concordamos, e onde a desinformação é galopante, onde atores estrangeiros atiçam as chamas da nossa divisão para moldar os resultados consistentes com os seus interesses, não os nossos.

Segundo pesquisa divulgada pelo instituto YouGov neste domingo, 57% dos americanos acreditam que o país está muito dividido, e apenas 4% acreditam que a nação está unida. Em 2020, um dos pontos da campanha do democrata era a nececessidade de unir e curar os EUA, mas quatro anos depois a percepção é de que essa divisão se aprofundou e ganhou contornos violentos.

No sábado, também na Casa Branca, Biden confirmou que teve uma conversa "curta, mas boa" com o republicano, na qual desejou sua pronta recuperação, e disse na fala que "não há espaço para esse tipo de violência nos EUA. O democrata, cuja presença na eleição de novembro ainda é incerta, anunciou ainda uma revisão independente da estratégia de segurança adotada pelo Serviço Secreto.

Além do discurso da noite deste domingo, Biden concederá uma entrevista à rede NBC na segunda-feira, na qual deve expandir alguns dos tópicos citados por ele na fala, como a necessidade de controle de armas de combate, como o fuzil usado para balear Trump. A pauta armamentista é um tema quente de campanha há décadas, e opõe diametralmente os dois candidatos: Biden é defensor de restrições mais amplas e do veto à venda de determinados armamentos; Trump, por sua vez, é contra controles mais incisivos, seguindo a pauta da Associação Nacional do Rifle, uma das principais doadoras do partido.

Em meio a uma crise interna, com pedidos cada vez mais numerosos para que desista da reeleição, Biden planejava usar a semana em que as atenções estarão voltadas para a Convenção Nacional Republicana para gerar uma agenda positiva. Contudo, ainda não se sabe até que ponto o atentado vai mexer em seus planos: uma viagem para o Texas, marcada para segunda-feira, foi adiada, mas os eventos marcados para os dias seguintes foram mantidos, pelo menos por enquanto.

Segundo a CNN, citando fontes da campanha de Biden, sua equipe ainda tenta encontrar um ajuste fino para o restante da campanha. Diante da comoção nacional com o atentado, retomar a linha de ataques contra o republicano parece uma estratégia arriscada, até certo ponto suicida — desde sábado, todos os anúncios do democrata foram suspensos, e ainda não se sabe quanto serão retomados. E com menos de 120 dias até a eleição, e pesquisas mostrando Biden em desvantagem, o cenário parece desafiador, se não perigoso, para os planos de reeleição do presidente.

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