Presidente dos EUA, Joe Biden: ação de Biden é um decreto abrangente que vai atrás de monopólios corporativos em uma ampla faixa de setores (Tom Brenner/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 18 de maio de 2021 às 10h59.
O presidente dos EUA, Joe Biden, telefonou nesta segunda-feira, 17, para o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, e defendeu um cessar-fogo na Faixa de Gaza. Na ligação, Biden demonstrou preocupação com o conflito, mas não exigiu uma trégua imediata, como quer a ala progressista do Partido Democrata.
Como sempre, Israel vem contando com o socorro diplomático do governo americano e Biden ainda não deu sinais de que pretende mudar a posição histórica dos EUA. No entanto, a proteção inabalável da Casa Branca vem colocando em risco o apoio de parte da base democrata, especialmente da ala progressista do partido.
A violência completou ontem uma semana, com mais de 200 palestinos mortos em ataques aéreos de Israel, deflagrados em resposta a milhares de foguetes lançados pelo Hamas, que mataram 10 israelenses. Biden e seu secretário de Estado, Antony Blinken disseram que o governo israelense "tem direito de se defender", mas evitaram ao máximo críticas ao aliado e até agora não fizeram nenhum pedido de moderação nos bombardeios.
A posição vem deixando Biden exposto às críticas crescentes dos eleitores progressistas e de congressistas de seu partido, que exigem uma política mais dura com relação a Israel - uma mudança gradual, mas perceptível, na disposição dos democratas.
O senador Bob Menendez, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, considerado pró-israelense, disse estar "profundamente preocupado" com os ataques a Gaza, exigindo uma completa "prestação de contas" por parte de Israel. Bernie Sanders, também senador e porta-voz informal da juventude do partido, chamou a situação de "inconcebível" e disse que os Estados Unidos deveriam reavaliar os US$ 4 bilhões anuais em ajuda militar a Israel.
Sanders, que é judeu, e outros progressistas veem o conflito cada vez mais sob o prisma da justiça social, especialmente porque o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu se apega ao poder por meio de uma aliança com a extrema direita e abordou o problema de maneira ideológica, especialmente durante a presidência de Donald Trump.
Em artigo no New York Times, Sanders escreveu que Netanyahu "cultivou um tipo cada vez mais intolerante e autoritário de nacionalismo racista". A deputada hispânica Alexandria Ocasio-Cortez, uma das estrelas do Partido Democrata, pediu uma ação da Casa Branca contra o "apartheid" israelense, um termo que enfurece Israel, mas que foi recentemente endossado pela ONG Human Rights Watch, que lamentou que o governo israelense adote "uma política de domínio" sobre os palestinos.
Logan Bayroff, diretor de comunicação do grupo pró-Israel J Street, disse que há uma percepção crescente de que a ação israelense, incluindo a expulsão de famílias palestinas de Jerusalém Oriental, contribui para a crise. "Existe mais disposição dentro do Partido Democrata de criticar não apenas os foguetes do Hamas, mas também a política do governo israelense", disse Bayroff. "Isso cria um grande contraste com o governo Biden."
Apoio
Do outro lado, os republicanos acusam Biden de não dar apoio suficiente a Israel e afirmam que a ala esquerda democrata se aliou ao Hamas. "Não há equivalência moral entre Israel e Hamas" afirmou o líder republicano da Câmara dos Deputados, Kevin McCarthy. "Os EUA deveriam apoiar inequivocamente nosso aliado Israel e o povo judeu."
Segundo o Washington Post, alguns senadores democratas demonstraram insatisfação com um acordo de US$ 735 milhões para a venda de armas de precisão para Israel, aprovado no dia 5, menos de uma semana antes de o conflito começar. "Permitir que esta venda de bombas inteligentes siga sem pressionar Israel a concordar com um cessar-fogo abre caminho para mais carnificina" afirmo ao jornal um deputado do partido, membro do Comitê de Relações Exteriores da Câmara.
Os esforços diplomáticos por um cessar-fogo, apoiados por Biden, são liderados pelo presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sissi, e pelo rei da Jordânia, Abdullah II. De acordo com diplomatas ouvidos pelo Washington Post, no entanto, o governo israelense até agora recusou a mediação. Eles disseram que o comando militar e político de Israel pretendem causar o máximo de danos à infraestrutura do Hamas antes de aceitar uma trégua.