Mundo

Biden alerta que situação migratória na fronteira 'será caótica por um tempo'

Biden e Andrés Manuel López Obrador, conversaram por videoconferência sobre as consequências da suspensão de norma que permite expulsar automaticamente quase todos os que chegam sem visto

O aumento esperado do número de imigrantes deixaria ainda mais à mostra as divisões profundas nos Estados Unidos (AFP/AFP Photo)

O aumento esperado do número de imigrantes deixaria ainda mais à mostra as divisões profundas nos Estados Unidos (AFP/AFP Photo)

AFP
AFP

Agência de notícias

Publicado em 10 de maio de 2023 às 08h27.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prevê uma situação "caótica por um tempo" na fronteira com o México, quando for suspensa a norma que permite expulsar de imediato a maioria dos migrantes. "Ainda vamos ver. Será caótico por um tempo", respondeu Biden, nesta terça-feira, 9, aos jornalistas que perguntaram se seu governo está preparado para um aumento significativo dos migrantes, quando, às 23h59 locais de quinta-feira, horário de Washington (00h59 de Brasília da sexta-feira), expirar o chamado Título 42, uma norma implementada durante a pandemia que permite expulsar automaticamente quase todos os que chegam sem visto ou documentação necessária para entrar.

Horas antes, Biden e seu colega mexicano, Andrés Manuel López Obrador, conversaram por videoconferência sobre as consequências da suspensão desta norma.

Os dois presidentes precisam se coordenar porque, assim que a norma sanitária for suspensa, será usado exclusivamente o Título 8, que permite pedir asilo desde que o solicitante consiga convencer que será perseguido ou torturado se voltar ao seu país, mas também autoriza a deportação acelerada dos demais. E parte dos expulsos vai acabar no México.

"Discutiram a estreita coordenação contínua entre as autoridades fronteiriças e as fortes medidas de aplicação da lei", antecipando o Título 8, cujas consequências são "mais graves" porque pune os deportados com cinco anos de proibição de entrada, informou a Casa Branca em nota.

O aumento esperado do número de imigrantes deixaria ainda mais à mostra as divisões profundas nos Estados Unidos, país fundado sobre as promessas de segurança e refúgio, mas onde a preocupação com a imigração ilegal torna incerta a sua acolhida.

Muitos dos que conseguem escapar da crise econômica e política nos seus países já cruzaram a fronteira. Frustrados pela falta de opções legais, alguns se infiltraram na longa fronteira de 3.100 quilômetros que separa o país mais rico do mundo de seu vizinho do sul.

As cidades texanas de El Paso, Brownsville e Laredo declararam estado de emergência e lidam como podem com centenas de pessoas, a maioria da América Latina, e outras de China, Rússia e Turquia.

Em El Paso, alguns migrantes dormem nas ruas, se protegem do sol com mantas ou descansam sobre papelões. Menores imundos pedem esmolas.

O prefeito da cidade, Oscar Leeser, advertiu que seus oficiais se preparavam para a chegada de muitos mais na sexta-feira, após uma visita recente à cidade mexicana de Ciudad Juárez. "Na rua, calculamos [que havia] entre 8.000 e 10.000 pessoas", disse.

Título 42

Migrantes cruzam a fronteira às margens do Rio Grande na altura de El Paso, Texas, em 8 de maio de 2023

O Título 42, ativado durante o governo do ex-presidente republicano, Donald Trump, com o suposto objetivo de prevenir a entrada de pessoas com covid-19 no país, serviu na prática para expulsar rapidamente imigrantes, sem ter que aceitar suas solicitações de asilo.
Com sua expiração, os migrantes poderão apresentar novamente solicitações de asilo pela via judicial, um processo que pode demorar anos.

A administração do presidente democrata Joe Biden está sob forte pressão do Partido Republicano, que reclama que a fronteira está pouco controlada. Alguns membros desse partido conservador preveem a chegada de um milhão de pessoas pela fronteira nos próximos três meses.

Além disso, a 18 meses da eleição presidencial, na qual a migração costuma ser um tema que gera discórdia, Biden espera que as novas regras ajudem a frear o fluxo na fronteira, para onde enviou 1.500 soldados a mais para ajudar em tarefas administrativas como entrada de dados.

O governador republicano do Texas, Greg Abbott, lamentou, na segunda-feira (8), que o governo "estenda o tapete de boas-vindas para pessoas de todo o mundo" e ordenou o envio de centenas de soldados texanos para a fronteira, "para ajudar a interceptar e repelir" imigrantes que tentem entrar no Texas.

Aplicativo para celular

Mapa da fronteira entre México e Estados Unidos localizando o número de migrantes mortos e desaparecidos entre 2022 e 2023, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações em 23 de abril.

Em uma tentativa de prevenir chegadas multitudinárias pela fronteira, o governo Biden criou novas regras que estimulam os imigrantes a solicitar consultas para os seus pedidos de asilo por um aplicativo de celular.
Porém, os que se encontram em Ciudad Juárez reclamam que o aplicativo CBP One não funciona direito.

Frustrados, alguns decidiram se entregar para a patrulha fronteiriça americana em uma das passagens.

"Dizem para mantermos a calma, para esperarmos aqui, mas nunca voltam. Não sabemos por quê", queixou-se a venezuelana Marjorie, mãe de duas crianças.

Além deste aplicativo, há vários meses, um número limitado de venezuelanos, cubanos, haitianos e nicaraguenses pode solicitar asilo, mas apenas 30.000 por mês, e sob condições.

No sul de Brownsville foi estabelecido um centro de processamento improvisado em um campo de beisebol.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou nesta terça-feira que a situação migratória nos Estados Unidos será "caótica por um tempo", depois que expirarem as restrições da era da covid-19 no fim desta semana. O democrata também disse que um default dos Estados Unidos sobre a dívida "não é uma opção".

Centenas de pessoas, muitas delas venezuelanas, perambulam pelas ruas em meio a um clima tenso, após a morte de oito migrantes atropelados por uma caminhonete em um ponto de ônibus no domingo. O motorista, George Alvarez, foi indiciado por homicídio culposo.
Em El Paso, a travessia fronteiriça tradicionalmente mais usada, as autoridades transformam escolas vazias em abrigos e reforçam o transporte para ajudar os migrantes a chegar aonde quiserem para se reunir com familiares ou amigos, ou em busca de trabalho.

Acompanhe tudo sobre:Estados Unidos (EUA)ImigraçãoJoe Biden

Mais de Mundo

Argentinos de classe alta voltam a viajar com 'dólar barato' de Milei

Trump ameaça retomar o controle do Canal do Panamá

Biden assina projeto de extensão orçamentária para evitar paralisação do governo

Com queda de Assad na Síria, Turquia e Israel redefinem jogo de poder no Oriente Médio