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Bangcoc corre risco de perder uma de suas marcas: a comida de rua

O desmantelamento das barracas de comida e a gestão das calçadas foram um dos principais objetivos políticos da Junta militar que tomou o poder em 2014

Comida de rua: para justificar a medida, as autoridades alegam a necessidade de recuperar as calçadas para o uso normal de transeuntes (Paula Bronstein/Getty Images)

Comida de rua: para justificar a medida, as autoridades alegam a necessidade de recuperar as calçadas para o uso normal de transeuntes (Paula Bronstein/Getty Images)

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EFE

Publicado em 3 de abril de 2017 às 10h36.

Bangcoc - A campanha das autoridades para desalojar as calçadas de Bangcoc projeta uma sombra de incerteza sobre o futuro de milhares de famílias que vivem das barracas de comida de rua que abarrotam a cidade e que são uma das maiores marcas da capital tailandesa.

A preocupação é notável entre os vendedores de rua, como os da avenida Ekkamai, que dedicam seu dia a dia ao comércio de frutas, carne grelhada, macarrões, entre outros, em postos a poucos metros das placas instaladas em postes de luz que advertem que as vendas em via pública serão proibidas a partir de 17 de abril.

Um deles, uma mulher que se identifica como Pan, disse que vendeu porco assado na área durante os últimos quatro de seus 57 anos e que ela e seu marido, Chum, não têm como sobreviver de outra maneira.

"Não podemos encontrar um novo espaço para vender nossa comida, que é a única coisa que sabemos fazer", lamentou.

A vendedora Nittaya Potibut, de 40 anos, afirmou que ela encontrou um novo lugar para seu negócio, mas que custará 12 mil baht por mês (cerca de R$ 1 mil) alugar um espaço em um edifício de escritórios.

"Se não vendo comida na rua, tenho que vendê-la a um preço mais caro, o que significa uma perda considerável da clientela", comentou desolada. "Muitos clientes se queixaram que não querem comprar comida em outro lugar", acrescentou.

Durante os últimos dez anos, as despesas desta vendedora, além do custo dos ingredientes dos alimentos, incluíam uma multa mensal de mil baht (cerca de R$ 100), para poder levar seu negócio adiante.

A essa quantia se somam os 500 baht (cerca de R$ 50) que paga mensalmente à sala de massagem que está junto a seu posto, já que lhe proporciona água para cozinhar e lavar os pratos.

Atualmente, Nittaya ganha por dia 5.000 baht (cerca de R$ 500) e abre seu posto seis dos sete dias da semana.

Pan, Chum, Nittaya e os demais vendedores da Ekkamai não são os únicos afetados pela medida.

Para centenas de vendedores de outras áreas do centro urbano, como Thong Lor e Phra Khanong, também começou a contagem regressiva.

Assim como Ekkamai, estes são bairros onde a legislação foi aplicada mais recentemente e que não poderão exceder a data limite fixada pela Administração Metropolitana de Bangcoc (BMA, na sigla em inglês).

O desmantelamento das barracas de comida popular e a gestão das calçadas foram um dos principais objetivos políticos da Junta militar que em maio de 2014 tomou o poder na Tailândia.

Para justificar sua campanha, as autoridades alegam a necessidade de recuperar as calçadas para o uso normal de transeuntes, à parte de questões de higiene e o eventual perigo de danos na mobília urbana.

As barracas de comida de rua são, no entanto, uma das marcas de Bangcoc, onde tanto a população local como os turistas estrangeiros se habituaram a desfrutar em plena via pública das delícias da cozinha tailandesa, com grande reputação na Ásia.

Para isso, não é preciso gastar mais do que 70 bath (cerca de R$ 6), um preço irrisório comparado com o que se cobra em locais fechados, que nem sempre oferecem as mesmas especialidades com a mesma qualidade.

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