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Os bambolês na vida de Dilma Rousseff

A primeira mulher a ocupar a Presidência do Brasil deu demonstrações de jogo de cintura em vários momentos de sua vida; desafio agora é bambolear no Planalto

Dilma, nos braços do povo, será a primeira mulher a subir a rampa do Planalto (ARQUIVO/AGÊNCIA BRASIL)

Dilma, nos braços do povo, será a primeira mulher a subir a rampa do Planalto (ARQUIVO/AGÊNCIA BRASIL)

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Da Redação

Publicado em 31 de outubro de 2010 às 22h50.

São Paulo - Era fim de tarde de uma segunda-feira em janeiro de 2008, quando um embrulho de uma loja infantil chegou ao Palácio do Planalto. No quarto andar, estavam o líder do PMDB na Câmara Federal, deputado Henrique Eduardo Alves, o ministro da Articulação Política, José Múcio Monteiro, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o presidente nacional do PMDB, Michel Temer.

Em pauta, os cargos em empresas de energia que seriam preenchidos por peemedebistas - justamente numa área comandada a mão de ferro pela então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Sabia-se que não seria uma negociação fácil.

Henrique Alves recebeu o pacote e pediu ao ministro que o entregasse a Dilma. Diante da curiosidade de todos, o deputado revelou: "É um bambolê para a ministra ter mais jogo de cintura".

Soube-se depois pela imprensa que Dilma recebeu com gargalhada aquele presente cercado de ironias, que teria sido comprado em uma lojinha de R$ 1,99. No meio político, sempre disseram que Dilma Vana Rousseff, natural de Belo Horizonte (MG), não tinha habilidade nas negociações. Muito durona, queria impor as suas opiniões. Quase três anos depois, a faixa presidencial é dela e o paradeiro do bambolê - brinquedo cujo nome surgiu do verbo bambolear (gingar) - é incerto e não sabido, num jargão policialesco.

Na verdade, Dilma nem precisou de muito jogo de cintura para costurar a sua candidatura à Presidência da República. Lula, o padrinho, determinou e ponto final. O processo todo foi facilitado pela queda de estrelas do PT, como José Dirceu e Antonio Palocci, que, em tese, seriam candidatos naturais à sucessão de Lula.

Filha de pai búlgaro (Pedro Rousseff) e mãe mineira (Dilma Jane da Silva), família da classe média alta, "Dilminha" - seu apelido na infância - tinha três sonhos: ser bailarina, bombeira ou trapezista.

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Dilma adorava andar de bicicleta, subir em árvore e ler "Sítio do Picapau Amarelo", de Monteiro Lobato. O gosto pela leitura, a propósito, foi adquirido com o pai, que morreu quando ela tinha 14 anos. Surgia, naquele momento, o primeiro grande desafio de sua vida: seguir os planos traçados pelo pai para a família ao lado da mãe e dos irmãos Igor e Zana.


O período de guerrilha foi marcado por medos e superações. Eventual falta de ginga (ou bambolê, como queiram) poderia significar a morte. Casou-se com o companheiro de militância Claudio Galeno e viveu em diferentes cidades, até que a distância entre os dois acabou separando o casal. Naquela época, tornou-se "Stela" e "Marina" para fugir da repressão. Foi militante do Comando da Libertação Nacional (Colina) - uma organização de extrema-esquerda - e iniciou um relacionamento amoroso com o advogado e militante gaúcho Carlos Araújo.

Ficou presa de 1970 a 1972 nos porões da Oban e do Dops, em São Paulo, tendo sido torturada. Deixou a prisão 10 quilos mais magra. (Foi chamada por José Dirceu, na despedida dele do governo Lula, de "companheira de armas e de lutas".)

Viajou a Porto Alegre para aguardar a libertação de Araújo e, em 1975, obteve sua primeira atividade remunerada como estagiária na Fundação de Economia e Estatística (FEE), vinculada ao governo do Rio Grande do Sul. No ano seguinte, nascia a filha Paula Rousseff Araújo, que lhe daria o neto Gabriel um mês antes das eleições de 2010.

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Ajudou a fundar o PDT (ver foto ao lado com Leonel Brizola) e colocou no currículo passagens pela secretaria municipal da Fazenda de Porto Alegre e pela secretaria de Minas e Energia do Rio Grande do Sul. Filiou-se ao PT no início da década e participou do governo Lula nos cargos de ministra de Minas e Energia e ministra-chefe da Casa Civil. Até a vitória deste ano, nunca havia disputado uma eleição. Com a ajuda dos marqueteiros e do presidente Lula, Dilma conseguiu evitar que os escândalos envolvendo Erenice Guerra, indicada por ela para a Casa Civil, atrapalhassem a vitória.

Antes disso, em abril de 2009, mais um bambolê em sua vida - talvez o mais difícil. Dilma anunciou que estava fazendo um tratamento contra um câncer no sistema linfático. Precisava superar a doença e a desconfiança em torno de sua real condição física de sustentar uma candidatura a presidente. Conseguiu. No 1º de janeiro de 2011, Dilma, aos 63 anos (nasceu em 14/12/1947), será a primeira mulher a presidir o Brasil.

 

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Sem Lula fisicamente ao seu lado, precisará de muito jogo de cintura (leia-se distribuir cargos) para consolidar uma aliança forte e garantir a governabilidade. O PMDB, partido do seu vice, Michel Temer, e as demais legendas aliadas estão prontos para enviar quantos bambolês julgarem necessários ao Palácio do Planalto.

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