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Associated Press confirma covas coletivas e massacres em Mianmar

A revelação foi feita após uma série de entrevistas conduzidas pela publicação com testemunhas dos incidentes em Bangladesh, mas é negada pelo governo

Refugiada Rohingya em Bangladesh: mais de 655 mil pessoas deixaram suas casas em Mianmar em razão da violência (Tyrone Siu/Reuters)

Refugiada Rohingya em Bangladesh: mais de 655 mil pessoas deixaram suas casas em Mianmar em razão da violência (Tyrone Siu/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 1 de fevereiro de 2018 às 11h05.

Última atualização em 1 de fevereiro de 2018 às 15h15.

São Paulo – A agência de notícias internacionais Associated Press (AP) confirmou nesta quinta-feira a existência de cinco covas coletivas e a ocorrência de massacres contra a minoria muçulmana Rohingya em Mianmar, país de maioria budista.

A revelação foi feita após uma série de entrevistas conduzidas pela publicação com testemunhas dos incidentes em Bangladesh, país que abriga milhares de refugiados pertencentes ao grupo. As alegações são negadas pelo governo, que tenta acobertar a crise impedindo o acesso da imprensa. Dois jornalistas da agência Reuters que trabalhavam nessa cobertura foram presos.

A perseguição contra o grupo em Mianmar é histórica e relatos de estupros, execuções e torturas por parte das autoridades do país são frequentes. No entanto, a tensão com o exército aumentou nos últimos meses, após um ataque de insurgentes que causou a morte de nove policiais em Rakhine, estado onde a maioria dos Rohingya vive e fronteira com Bangladesh.

Desde então, forças de segurança têm pressionado os vilarejos com violência. Imagens de satélite compiladas pela ONG Human Rights Watch mostram que, entre novembro e outubro do ano passado, 354 vilas foram parcialmente ou totalmente destruídas.

Como resultado, uma grave crise humanitária se instalou e deu cabo ao deslocamento de milhares dessas pessoas. Desde agosto de 2017, a ONU estima que ao menos 655 mil Rohingya buscaram refúgio no país vizinho.

As revelações feitas hoje pela AP jogam luz sobre a gravidade da situação. Oficialmente, o governo de Mianmar nega a existência de qualquer perseguição e frequentemente minimiza os massacres, classificando-os como fatalidades de confrontos com insurgentes. Para a ONU, contudo, o caso é urgente e traz todos os sinais de que uma limpeza étnica está em curso, em vias de se caracterizar um genocídio, e tem o apoio de organizações como a HRW.

A crise colocou a líder do governo, Aung San Suu Kyi, em uma saia justa. Nobel da Paz em 1991 por sua luta pacífica pela democracia em Mianmar, Suu Kiy vem sendo criticada pelo seu silêncio diante do conflito. Nas poucas vezes em que se pronunciou sobre o tema, negou a destruição das vilas e o êxodo dos muçulmanos. Nesta quinta, sua casa foi atacada, mas ainda não está claro se o ato tem ligação com a situação da minoria.

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