Voluntária de ONG alimentando uma criança de 2 anos rejeitada pela sua comunidade na Nigéria (Reprodução/Facebook)
Da Redação
Publicado em 11 de março de 2016 às 22h10.
São Paulo - Depois de uma trabalhadora humanitária ajudar um menino nigeriano acusado de bruxaria e publicar uma foto do ato no Facebook, pessoas do mundo todo foram tocadas pelo desejo de doar e oferecer ajuda.
A imagem mostra Anja Ringgren Lovén, fundadora do African Children's Aid Education and Development Foundation (DINNødhjælp), alimentando uma criança de 2 anos rejeitada pela sua comunidade na Nigéria.
Jeg har set meget her i Nigeria igennem de sidste 3 år. Jeg har forskånet jer for mange oplevelser når vi har været på...
Publicado por Anja Ringgren Lovén em Domingo, 31 de janeiro de 2016
Em suas fotos ela aparece dando comida e água à criança e envolvendo-a em um cobertor. Ela então leva o garoto até o hospital, de acordo com o New Zealand Herald, para ser tratado por micose.
A publicação agora conta com 16 mil curtidas, e dentro de dois dias conseguiu 1 milhão de Danish Krone (ou aproximadamente 150 mil dólares) em doações para a organização.
"Milhares de crianças estão sendo acusadas de serem bruxas e já vimos torturas, mortes e crianças extremamente assustadas", disse Lovén em seu post no Facebook.
"Isso nos mostra nosso motivo de lutar. É o motivo pelo qual eu vendi tudo o que tinha. É a razão para entrar nesse território inexplorado".
A sua organização sem fins lucrativos, fundada em 2012, ajuda crianças acusadas de bruxaria ao trazê-las para o orfanato da instituição onde recebem abrigo, cuidados médicos, alimentação e educação.
Uma semana depois de subir as fotos originais, Lovén publicou uma atualização que destaca uma criança, quem ela chamou de Hope, que aparece saudável e feliz após ter sido tratada.
Quando se trata de cuidar de crianças acusadas de bruxaria, a realidade é bem mais complicada do que as fotos conseguem passar.
A crença em bruxaria ou a capacidade de prejudicar os outros com seus poderes sobrenaturais, por exemplo, ao causar doenças ou outros infortúnios, é "bem difundida” nos países sub-Saharan, de acordo com um relatório da Unicef de 201, Crianças Acusadas de Bruxaria.
Milhares de crianças são acusadas de bruxaria e subsequentemente sofrem abusos, abandono ou são mortas. O número exato de vítimas é difícil de analisar, mas o relatório da Unicef cita um especialista em 2003 que estimou que havia umas 23,000 crianças acusadas de bruxaria e vivendo sozinhas nas ruas de Kinshasa.
“Esse fenômeno [relacionado as crenças de bruxaria] são frequentemente falsamente associados com a 'tradição africana'", diz o relatório. "[Eles] são totalmente ou parcialmente mal-compreendidas pelos observadores ocidentais”.
Uma variedade de fatores políticos e econômicos contribuem para perpetuar as acusações de bruxaria hoje, de acordo com o relatório da Unicef. Por exemplo, o conflito político e as guerras civis podem ser responsáveis por famílias de poucos recursos e um grande número de crianças órfãs, ficarem vulneráveis a essas acusações.
"Acusações de bruxaria contra crianças podem ser uma direta consequência da incapacidade das famílias de fazer com que as suas necessidades básicas sejam supridas", disse o relatório.
O relatório do Unicef foi escrito especificamente para informar “agências de proteção infantil”, como a Lovén. Seu objetivo é melhorar a eficácia das intervenções dessas organizações ao promover um melhor conhecimento das representações locais e de suas crenças.
A Unicef recomenda uma abordagem sistêmica para mudança, em vez de focar em casos individuais:
“Qualquer resposta às acusações de bruxaria contra crianças deveria fortalecer os sistemas de proteção nacional de crianças para prevenir e responder ao abuso. As intervenções devem prometer mudanças sociais ao aumentar a consciência entre os líderes comunitários e trabalhar com os profissionais de Direito”.