Mundo

Árvores fornecem informações sobre o histórico do clima

Anéis de crescimento permitem reconstituir cenário ambiental recente da cidade de São Paulo


	Anéis de crescimento fornecem dados sobre temperatura e precipitação, entre outros
 (Lunae Parracho/AFP)

Anéis de crescimento fornecem dados sobre temperatura e precipitação, entre outros (Lunae Parracho/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 6 de setembro de 2012 às 10h41.

São Paulo - Por meio da análise dos anéis de crescimento de árvores é possível reconstruir como os fatores do clima oscilaram na cidade de São Paulo em certos períodos. Essa é a conclusão da pesquisa do biólogo Gustavo Burin Ferreira, do Instituto de Biociências (IB) da USP, que estudou 43 cedros do Instituto Butantan, do Parque da Cantareira e do próprio IB, entre 2007 e 2011, para conhecer mais sobre o passado climático da cidade.

A partir da análise das informações, Ferreira descobriu que o fator que mais se correlaciona com o crescimento das árvores estudadas é a temperatura no final do inverno: quanto maior ela é, menor é o crescimento. “Explicando de uma maneira simples e finalista, é como se a árvore ‘queimasse a largada’ e começasse o processo de crescimento antes da hora”, diz Ferreira.

Para estudar as árvores sem destruí-las, o pesquisador utilizou o trado de incremento, uma espécie de broca oca que retira amostras de madeira. A partir delas, é possível saber as medidas dos aneis de crescimento e confrontá-las com os dados já existentes sobre o clima na cidade. “Depois de remover tendências naturais de crescimento, o que estiver variando é causado por fatores que não estejam relacionados a estas tendências”, explica.

Ferreira afirma que o estudo prova que, apesar de difícil, é possível fazer esse tipo de análise em cidades. “Nas árvores urbanas, são muitos fatores envolvidos, como poluição e podas, entre outros. Isso pode mascarar alguns efeitos, além de abrir um grande leque de possibilidades. Mesmo assim, ainda é possível obter resultados.”


Outro obstáculo encontrado na pesquisa foi a falta de dados sobre o clima da cidade, principalmente antes da década de 1960. A dissertação de mestrado Análise dendroclimatológica do cedro (Cedrela fissilis L. – Meliaceae) para reconstrução do cenário ambiental recente da cidade de São Paulo, SP, foi orientada pelo professor Gregório Ceccantini e apresentada em 2012.

Poucos estudos no Brasil

A dendroclimatologia — ciência que estuda as relações entre o clima e os anéis de crescimento das árvores — é uma área recente no Brasil. Ferreira conta que, até 60 anos atrás, acreditava-se que ela não teria sentido nos trópicos por não haver uma sazonalidade bem definida no clima dessas regiões.

Há apenas cerca de 40 anos, pesquisadores alemães observaram a relação entre os anéis de crescimento e a sazonalidade da disponibilidade de água. Mesmo assim, são poucas as pesquisas do tipo no Brasil, o que motivou Ferreira a realizar o estudo.

Os anéis de crescimento são porções de madeira que se repetem sazonalmente e possuem demarcações de tempo de natureza morfológica ou anatômica, que permitem individualizar um intervalo de tempo.

Acompanhe tudo sobre:ClimaMeio ambienteSustentabilidade

Mais de Mundo

Violência após eleição presidencial deixa mais de 20 mortos em Moçambique

38 pessoas morreram em queda de avião no Azerbaijão, diz autoridade do Cazaquistão

Desi Bouterse, ex-ditador do Suriname e foragido da justiça, morre aos 79 anos

Petro anuncia aumento de 9,54% no salário mínimo na Colômbia