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OPINIÃO Eleições francesas: Macron vence a batalha das rejeições

Em artigo, Maurício Moura, fundador do instituto de opinião pública IDEIA, trata da reeleição do presidente francês Emmanuel Macron e das dificuldades que terá de enfrentar numa França dividida

Emmanuel Macron é reeleito presidente da França neste domingo, 24 de abril (Benjamin Girette/Bloomberg/Getty Images)

Emmanuel Macron é reeleito presidente da França neste domingo, 24 de abril (Benjamin Girette/Bloomberg/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 25 de abril de 2022 às 06h00.

Por Maurício Moura

O museu do Louvre, localizado no coração de Paris, hospeda uma das maiores obras da humanidade: a Mona Lisa. A obra é um retrato de óleo de madeira pintado pelo renascentista italiano Leonardo da Vinci entre os anos 1503 e 1506. Apesar das suas dimensões reduzidas (77cm x 53cm), esta obra que representa uma mulher misteriosa se tornou, ao longo dos séculos, o retrato mais famoso da História da Arte ocidental.

Independentemente do ângulo que nos colocamos para admirar o quadro sempre parece que a Mona Lisa olha diretamente para nós. E reeleição do presidente Emmanuel Macron pode ser analisada por diversos ângulos e olhares.

Do aspecto pró Macron, foi um resultado incrível. O atual chefe de Estado francês é o primeiro presidente a garantir uma reeleição desde 2002. Naquele ano, o então presidente Jacques Chirac derrotou o pai da atual candidata e líder de extrema-direita Marine Le Pene, Jean-Marie Le Pen.  E o resultado deve ser comemorado ainda mais se pensarmos nas diversas crises da presidência de Macron: greves, pandemia, desigualdade, acusações constantes de arrogância e agora, a guerra na Ucrânia.

A popularidade positiva presidencial (variável crítica para um segundo mandato) oscilou entre 40 e 50 pontos percentuais. A julgar pela média das pesquisas públicas francesas, Macron chegou à campanha com 45% de aprovação. Um patamar passível de flertar com a derrota que, no final, não se materializou.

Do ângulo mais negativo, primeiro, vale destacar a diminuição da rejeição da extrema-direita francesa. Em 2002, Jean-Marie Le Pen teve 17.8% dos votos no segundo turno. Em 2017, sua filha Marine Le Pen, já teve praticamente o dobro dos votos do pai (33.9%).

O resultado de 2022 foi ainda melhor (quase 42% dos votos apurados). Um crescimento que redimensiona a política francesa e mostra uma evolução positiva de décadas. A campanha desse ano mostrou uma Le Pen mais “humanizada” e com versões mais brandas de ideias mais radicas (como o distanciamento entre a França e a União Europeia).

A eleição para o Congresso, já ocorre em junho, e muito provavelmente deve entregar um aumento da participação do partido de Le Pen. Será uma nova e dura realidade para o Em Marché (partido do presidente reeleito) que deverá perder a maioria no Parlamento.

Um país dividido

Além disso, vale destacar que o país saiu muito dividido dessa eleição. O mapa eleitoral mostra os grandes centros metropolitanos amplamente pró-Macron e as cidades pequenas, médias e rurais com fortíssimo sentimento de abandono. Uma equação amplamente complexa na gestão de um segundo mandato sem a maioria para governar. Ou seja, a polarização que habita as os pleitos eleitorais, vai contaminar o mandato desde o início.

Nesse contexto, Macron se junta ao time de eleitos globais (Joe Biden, por exemplo) que venceram um duelo de rejeições. Na França de 2022, a rejeição a extrema direita (mesmo que cadente) superou a reprovação do atual governo. No Brasil, também, a batalha de rejeições será a protagonista da campanha (já é inclusive).

Portanto, a foto de Macron Presidente seguirá nas paredes das instalações do governo francês. Todavia, assim como a Mona Lisa, o reeleito precisará ter vários olhares para as diversas nuances desse resultado. Por ora, assim com a obra de Leonardo Da Vinci, o ocidente agradece por manter esse quadro na parede.

Maurício Moura é fundador e CEO do instituto de pesquisa de opinião pública IDEIA e professor da Universidade George Washington

 

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