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Argentina acusa "Clarín" e "La Nación" de terem comprado empresa ilegalmente

A presidente fez hoje um relato pormenorizado das circunstâncias da operação e que, segundo ela, se assemelham a um "thriller argentino"

O processo da Papel Prensa é mais uma página na guerra aberta entre o Governo e o grupo Clarín (.)

O processo da Papel Prensa é mais uma página na guerra aberta entre o Governo e o grupo Clarín (.)

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Da Redação

Publicado em 24 de agosto de 2010 às 23h05.

Buenos Aires - O Governo argentino levará à Justiça o relatório oficial apresentado hoje sobre a companhia Papel Prensa segundo o qual houve "ilegalidades" na compra da empresa por parte dos jornais "Clarín" e "La Nación" durante a última ditadura militar (1976-1983).

"Estes expedientes serão apresentados pelo procurador do Tesouro e a Secretaria de Direitos Humanos ante os palanques judiciais correspondentes para julgar os fatos", disse a presidente argentina, Cristina Fernández de Kirchner, durante a apresentação do relatório sobre a única empresa dedicada a produção de papel jornal no país.

Recebida pelo Governo em plenário, políticos governistas, empresários e representantes do corpo diplomático, Cristina anunciou também a apresentação de um projeto de lei para declarar a produção de papel jornal como de interesse nacional, garantir a igualdade de condições de acesso para todos os veículos e evitar a importação.

O relatório contém "provas irrefutáveis sobre a apropriação ilegal da empresa Papel Prensa S.A. por parte dos atuais grupos controladores do setor privado", ou seja, os diários "Clarín" e "La Nación", segundo Alberto González Arzac, conselheiro do Estado na direção da empresa.

Beatriz Paglieri, representante do Estado na direção da companhia, assegurou que a investigação determinou que a Papel Prensa vendeu papel "abaixo do custo de produção" às empresas relacionadas com os acionistas privados e obrigou seus concorrentes a importar papel jornal a preços 50% mais altos.

O capital da Papel Prensa está dividido entre o grupo Clarín (49%), o Estado (27,46% de forma direta e 0,62% por meio da agência oficial Télam) e o "La Nación" (22,49%), com 0,43% nas mãos de terceiros.

Fundada em 1972 com o objetivo de livrar a imprensa local da importação de papel, a Papel Prensa fornece papel jornal para 170 veículos do país e tem 75% do consumo doméstico.

A história da Papel Prensa fica nebulosa em 1976, após o início da ditadura militar argentina, em uma trama que envolve a dona do "Clarín", Ernestina Herrera de Noble; o presidente do grupo, Héctor Magnetto; e o diretor do "La Nación", Bartolomé Mitre.

Naquele ano, houve a compra de ações das mãos de Lidia Papaleo, viúva do proprietário anterior da Papel Prensa, David Graiver, morto em um acidente aéreo em 7 de agosto de 1976 relacionado ao grupo guerrilheiro Montoneros.

Após a morte de Graiver, segundo o relatório, Papaleo e vários de seus familiares e sócios do grupo empresarial Graiver foram ameaçados até vender as ações da Papel Prensa.

A presidente fez hoje um relato pormenorizado das circunstâncias da operação e que, segundo ela, se assemelham a um "thriller argentino", com "dados apavorantes" que reconstroem uma "história obscura, sórdida, de vexações e humilhações".

Segundo a versão oficial, em novembro de 1976, "depois de ameaças pessoais sobre ela e sua filha", Papaleo "é obrigada a assinar" a venda.
 


Em 1977, poucos dias após terminar os trâmites da venda, Papaleo foi sequestrada pela ditadura, torturada, estuprada e condenada a 15 anos de prisão.

A venda foi fechada por US$ 996 mil em parcelas, mas o valor patrimonial da companhia era de US$ 4,3 milhões. Papaleo só recebeu US$ 7 mil, a primeira parcela antes de sua prisão.

"É como se já se soubesse que ela nunca poderia cobrar", apontou Cristina, ao denunciar que os sócios privados da empresa atrapalharam a investigação e ocultaram documentação.

O processo da Papel Prensa é mais uma página na guerra aberta entre o Governo e o grupo Clarín, antigo aliado do kirchnerismo e hoje inimigo da presidente e seu marido e antecessor no cargo, Néstor Kirchner.

O grupo Clarín, o mais poderoso do país, é o principal afetado pela legislação de comunicação impulsionada pelo Executivo e acaba de sofrer uma dura derrota pela decisão do Governo de retirar a licença da Fibertel, sua empresa de serviços de internet.

O grupo denunciou que o relatório "é o passo mais ousado do Governo kirchnerista contra os meios de comunicação, e em particular contra os diários 'La Nación' e 'Clarín'".

Os dois jornais publicaram hoje um editorial no qual asseguram que "a Justiça não encontrou vínculo algum entre a detenção dos Graiver e a Papel Prensa" e denunciaram um "plano" do Governo para assumir a companhia.

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