Trump: as atenções do país agora se voltam para a necessidade de o novo presidente formar sua equipe de governo para começar a trabalhar a partir de 20 de janeiro (Reuters)
AFP
Publicado em 9 de novembro de 2016 às 20h48.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a candidata democrata derrotada, Hillary Clinton, fizeram nesta quarta-feira apelos urgentes à unidade nacional, em um esforço por garantir uma transição tranquila ao novo governo chefiado pelo republicano Donald Trump.
Visivelmente emocionada, Hillary finalmente cumprimentou Trump por sua vitória nas eleições de terça-feira e revelou ter se colocado à disposição do futuro presidente para trabalhar "em benefício do nosso país".
Trump "será nosso presidente". "Devemos ter a mente aberta e lhe devemos a oportunidade de liderar. Nossa democracia constitucional determina a transição pacífica do poder, e não é que apenas respeitamos isto, mas o protegemos", afirmou Hillary.
A candidata derrotada também expressou sua "esperança de que ele será um presidente bem sucedido para todos os americanos".
Pouco depois, na Casa Branca, o próprio Obama disse que se comunicou por telefone com o novo presidente e o convidou para uma reunião na Casa Branca.
"Tive a chance de convidá-lo para vir à Casa Branca amanhã (quinta-feira) para conversar sobre como garantir que haverá uma transição bem sucedida entre nossas duas presidências", disse Obama.
O presidente em fim de mandato lembrou que quando ele próprio chegou à Casa Branca, em 2008, tinha profundas diferenças com o então presidente, George W. Bush.
"Mas a equipe do presidente Bush não podia ter sido mais profissional e mais gentil em garantir que houvesse uma transição tranquila (...). Dei instruções à minha equipe para seguir o exemplo que o presidente Bush estabeleceu há oito anos", disse Obama.
Passada a ressaca da espetacular vitória de Trump, as atenções do país agora se voltam para a necessidade de o novo presidente formar sua equipe de governo para começar a trabalhar a partir de 20 de janeiro, quando ocorrerá a passagem de comando.
O ex-presidente da Câmara de Representantes Newt Gringrich é um dos nomes mencionados para assumir o departamento de Estado, assim como o do legislador Bob Corker, presidente da comissão de Relações Exteriores do Senado.
O senador Jeff Sessions, integrante da comissão das Forças Armadas na Câmara, é um nome mencionado para a secretaria de Defesa.
Alguns pesos-pesados da política americana que, durante a campanha, apoiaram incondicionalmente Trump - como o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani e o governador de Nova Jersey, Chris Christie, também deverão aportar sua cota de poder.
Na área econômica, analistas mencionam o banqueiro Carl Icahn como um nome a ser levado em conta, assim como Steve Mnuchin, ex-alto funcionário do Goldman Sachs.
Trump, um empresário sem qualquer experiência política, rompeu na terça-feira com todos os prognósticos e surpreendeu o mundo ao se tornar o 45º presidente dos Estados Unidos.
Impulsivo, às vezes até mesmo grosseiro, o futuro presidente de 70 anos moderou sua retórica agressiva após a divulgação dos resultados que deram um fim a uma polarizada campanha eleitoral contra Hillary Clinton, marcada por insultos e ataques pessoais.
"Serei o presidente de todos os americanos", anunciou, exultante, este astro de 'reality show' em seu discurso da vitória, ao lado da esposa, Melania Trump, e de seus filhos, em Nova York.
"Os homens e as mulheres esquecidos do nosso país não serão mais esquecidos", acrescentou em seguida em seu primeiro tuíte como presidente eleito, em alusão ao seu principal apoiador: o eleitor rural e operário branco.
Além da conquista da Casa Branca, os republicanos têm outros motivos para comemorar.
O partido manteve o controle das duas câmaras do Congresso, um detalhe que garante a Trump uma administração sem maiores tropeços, nem a necessidade de negociar constantemente com o partido democrata.
Além disso, Trump terá nas mãos a indicação do juiz que falta para completar o colegiado da Suprema Corte, uma decisão que garantirá uma maioria de orientação conservadora na máxima instância judicial do país.
Depois da repentina morte do juiz ultraconservador Antonin Scalia, em fevereiro, a Suprema Corte tem atualmente um número par de juízes.
Obama chegou a nomear o juiz moderado Merrick Garland para o cargo, mas os republicanos conseguiram bloquear sua indicação.
Com a Casa Branca e o Legislativo nas mãos, os republicanos terão o poder para desfazer as reformas de Obama, em particular seu controverso programa de assistência de saúde, conhecido como "Obamacare".
Na América Latina, o grande afetado pode ser o México, país sobre o qual Trump anunciou mudanças nas políticas comerciais, com a criação de tarifas alfandegárias às importações, assim como com a China.
Uma incógnita mais é se ele manterá a normalização das relações com Havana, iniciada por Obama.