Apenas metade dos eleitores comparece às urnas na Argélia
A maioria dos colégios foi fechada, e muitas mesas eleitorais foram saqueadas durante no início da jornada de votação
EFE
Publicado em 4 de maio de 2017 às 21h34.
Argel - Apenas a metade dos eleitores registrados votou nesta quinta-feira nas eleições legislativas na Argélia, marcadas pela apatia da população, especialmente dos jovens, apesar dos esforços do governo para que o comparecimento às urnas fosse maciço.
Os colégios eleitorais fecharam às 20h (hora local; 16h de Brasília) após uma longa jornada de votação sem filas e sem incidentes graves, apesar de distúrbios ocorridos em Cabilia, uma região onde a abstenção costuma ser grande.
Testemunhas na cidade berbere de Buira, situada a 100 quilômetros a leste da capital Argel, relataram à Agência Efe protestos contra as eleições nas cidades de Raffur, Chorfa, Taharij, Mechdala e Takarbucht.
"Sabem que ninguém vai votar, por que colocaram estas urnas, é um gesto de provocação", disse uma testemunha que preferiu não ser identificada.
A maioria dos colégios foi fechada, e muitas mesas eleitorais foram saqueadas durante no início da jornada de votação, exceto no oeste de Buira, onde o ambiente foi tranquilo, acrescentou a fonte.
No restante da Argélia, os que optaram por votar compareceram de forma ordenada às mais de 50 mil mesas eleitorais montadas para um processo que grande parte dos jovens considera inútil.
"Nada me convence a ir votar, realmente estou cansado dos discursos e não sei nada destes candidatos, porque nunca fazem o que dizem", contou Bilal, um jovem vendedor que preferia conversar na praça Grand Post, o coração da capital.
Bilal, de 30 anos, se identificou com o "youtuber" local DZ Jocker, estrela da campanha eleitoral com um vídeo viral chamado "Mansotich" ("não voto", em tradução livre) no qual, em ritmo de rap, falava sobre os problemas do país.
"Assim que ganharem seus lugares no Parlamento, vão se esquecer de nós. Por que tenho que votar então?", alegou.
Diferente era a opinião de Samira Sari, que se identificou como militante da Frente de Liberdade Nacional (FLN), partido que dirige o país desde a proclamação da independência, em 1962.
"Estou aqui para votar e cumprir meu dever e espero muita sorte e estabilidade para nosso país", disse.
Segundo dados do ministro do Interior, Noureddin Bedui, três horas antes do fechamento dos colégios tinham votado 33,53% dos registrados, número levemente inferior ao das eleições de 2012, que no mesmo momento tinha contabilizado 33,97%.
São duas as razões principais que afastaram os argelinos das urnas: a primeira, a certeza absoluta de que a vitória será, mais uma vez, ampla para a FLN, do presidente Abdelaziz Bouteflika.
A FLN tem a maior bancada do Parlamento - com 220 dos 462 deputados -, casa que domina ao lado do Grupo Nacional Democrático (RND), a oposição oficial que é liderada pelo ex-premiê e ex-chefe de gabinete de Bouteflika, Ahmed Ouyahia.
Todo aponta que os dois partidos repetirão os resultados ou os melhorarão, com grande vantagem sobre a oposição islamita autorizada, que tem a terceira maior bancada.
A segunda razão da abstenção é a percepção dos argelinos de que os políticos apenas se preocupam com os problemas cotidianos, e em particular com a aguda crise econômica que em 2014 desencadeou a abrupta queda dos preços do petróleo e do gás.
A diminuição dos investimentos - as duas matérias primas representam 97% das exportações nacionais - levou a cortes na área social em uma economia de cunho socialista com grande número de empregos públicos e fortes subsídios à moradia e a produtos básicos.
Outro foco de interesse destas eleições era saber onde e como votaria o presidente argelino, que pouco aparece em público desde 2013, quando sofreu um grave acidente cardiovascular.
Pouco depois do meio-dia, Bouteflika chegou sorridente, acompanhado por irmãos, ao colégio eleitoral do bairro Biar, em Argel, usando uma cadeira de rodas empurrada por um de seus seguranças.
Lá, cumprimentou os fiscais da mesa eleitoral antes de ser levado à cabine, onde um de seus acompanhantes depositou a cédula.
As dúvidas sobre seu verdadeiro estado de saúde, habituais desde o infarto, aumentaram no final de fevereiro, depois que a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, cancelou, pouco antes de embarcar, uma visita oficial a Argel devido à impossibilidade de se reunir com Buteflika.