Amorim: divergências entre Brasil e EUA dificultam reformas
Genebra - O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, minimizou neste sábado um esfriamento das relações do Brasil com os Estados Unidos depois de uma discordância diplomática em relação ao Irã, mas afirmou que o incidente sugere que as reformas das instituições globais serão difíceis. Para Amorim, a oposição de grandes potências após uma […]
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.
Genebra - O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, minimizou neste sábado um esfriamento das relações do Brasil com os Estados Unidos depois de uma discordância diplomática em relação ao Irã, mas afirmou que o incidente sugere que as reformas das instituições globais serão difíceis.
Para Amorim, a oposição de grandes potências após uma mediação do Brasil e da Turquia sobre o polêmico programa nuclear iraniano sugere que elas resistirão a mudanças na ordem mundial, como reformas no Conselho de Segurança da ONU.
Falando a jornalistas em Genebra, durante conferência do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos, Amorim disse que os Estados Unidos e o Brasil discordaram apenas sobre a tática a ser usada no Irã, não em objetivos estratégicos.
"Não vejo problema algum entre o presidente Lula e o presidente Obama", afirmou. "Temos de ser pessoas maduras e temos de entender que as pessoas, especialmente pessoas maduras que concordam com os mesmo objetivos, podem discordar nas táticas."
As autoridades brasileiras reclamaram em particular de que seus esforços de boa fé para restaurar um empacado acordo de troca de combustível nuclear, em maio, foram descartados, com pouca ênfase dada ao status do Brasil como potência emergente.
O Brasil e a Turquia votaram contra uma nova rodada de sanções da ONU ao Irã, que tem o objetivo de pressionar o país islâmico a interromper suas atividades nucleares, que o Ocidente suspeita ser direcionado para o desenvolvimento de armas atômicas. O Irã nega e diz que o programa tem como meta a geração de energia.
Amorim afirmou concordar com um comunicado emitido na conferência em Genebra pelo vice-secretário de Estado norte-americano, Jim Steinberg, de que as discordâncias dos EUA na tentativa de mediação brasileira e turca tinham a ver com táticas e que não sinalizavam uma divergência de interesses ou objetivos.
<hr> <p class="pagina">Mas, em meio a um debate sobre o crescente papel global das potencias emergentes, como o Brasil, o ministro disse a representantes mundiais que a disputa "mostra o quão resistente as grandes potências serão às mudanças (na balança do poder das instituições internacionais), o quão difícil será para mudar o Conselho de Segurança".</p>
"Mas uma reforma virá ao Conselho algum dia, um dia ou outro", acrescentou Amorim.
Índia e Brasil, ao lado de Japão e Alemanha, estão batalhando por um assento permanente no Conselho de Segurança. Esses países alegam que o órgão atualmente reflete uma ordem obsoleta e antiquada do pós-Segunda Guerra Mundial. Mas a falta de consenso entre os atuais membros do conselho brecou as reformas. Os EUA, por exemplo, querem o Japão na instituição, mas a China rejeita o vizinho.
Os Bric --Brasil, Rússia, Índia e China-- buscam mais representatividade no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional.
Steinberg disse na conferência que os EUA apoiam o crescente papel dos Bric e de outras potências, como a Turquia e a África do Sul, mas afirmou que o constante diálogo com Washington é necessário para que as diferenças sejam superadas.
"Não vemos a ascensão deles como uma inerente ameaça aos nossos interesses, mas reconhecemos que a cooperação não virá automaticamente e que nós inevitavelmente enfrentaremos assuntos nos quais nossos interesses divergirão", afirmou.
Washington tem um "forte senso" da necessidade de reforma no Conselho de Segurança, o órgão mais poderoso do mundo sobre o assunto, mas ainda não há um consenso sobre a melhor forma de mudá-lo para manter sua efetividade e aperfeiçoar sua legitimidade.
"Por causa da importância do Conselho para nós em negociações como as do Irã e da Coreia do Norte, não é algo que mudaremos facilmente", afirmou.
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