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"Ameaça Trump" será debatida em cúpula de Malta sobre crise da UE

Segundo o presidente do Conselho Europeu, "a mudança em Washington coloca a UE numa situação difícil"

Donald Tusk: "a nova administração parece questionar os últimos 70 anos da política externa americana" (John Thys/AFP)

Donald Tusk: "a nova administração parece questionar os últimos 70 anos da política externa americana" (John Thys/AFP)

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AFP

Publicado em 2 de fevereiro de 2017 às 11h31.

Os líderes europeus vão discutir na sexta-feira, em Valeta, as várias crises que abalam a União Europeia, incluindo a nova administração dos Estados Unidos, percebida pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, como uma das ameaças que pesam sobre o bloco.

"A mudança em Washington coloca a UE numa situação difícil, especialmente quando a nova administração parece questionar os últimos 70 anos da política externa americana", declarou Tusk em uma carta apocalíptica de convite aos líderes.

Embora a reunião de Malta estivesse planejada para abordar um dos aspecto da crise migratória e o futuro da União Europeia após a partida do Reino Unido, o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estará no centro dos debates da primeira cúpula europeia desde a sua chegada ao poder.

Após sua eleição como presidente dos Estados Unidos, a União Europeia tornou-se um dos alvos de críticas de Trump, que celebrou o Brexit e chegou a assegurar que outros países devem seguir os passos do Reino Unido, enquanto que questionou a parceira americana na Otan.

Suas críticas causaram mal estar entre os europeus, com o presidente francês, François Hollande, pedindo uma resposta "firme".

"Vamos discutir as relações transatlânticas durante o Conselho Europeu informal de La Valetta na próxima sexta-feira", apontou o primeiro-ministro de Luxemburgo, Xavier Bettel.

Tomada de destino

A chegada de Trump representa uma "nova situação geopolítica", nas palavras de Tusk, quando a UE começa a se recuperar da crise financeira de 2008 e está pronta para enfrentar outros desafios no bloco, com a imigração ou o Brexit.

E, na arena internacional, o presidente do Conselho alerta para uma China "mais firme" no mar e uma política "agressiva" da Rússia com a Ucrânia e os países vizinhos, assim como o papel do "islão radical" nas guerras no Oriente Médio e África.

"A Europa já não pode confiar a outros a sua própria segurança (...) Temos de nos recuperar e tomar o destino nas nossas mãos", declarou uma fonte diplomática europeia, em declaração semelhante à feita recentemente pela influente chanceler alemã, Angela Merkel.

A cúpula de Valeta, a este respeito, deve tratar de um assunto sensível para a UE: como cortar a rota migratória do Mediterrâneo central, que se tornou a principal rota para a Europa, onde transitaram mais de 181.000 migrantes em 2016.

Malta, que detém a presidência rotativa da UE, procura alcançar um acordo semelhante ao alcançado com a Turquia em março passado, que reduziu drasticamente o número de migrantes e refugiados que chegaram da costa grega.

No entanto, a situação política instável na Líbia complica uma possível solução.

Merkel sugeriu na terça-feira na Suécia "conversar com o Egito, Tunísia, Marrocos e chegar a uma solução em conjunto".

Paralelamente, a UE concentra-se na formação dos guardas costeiros líbios e no apoio financeiro, bem como na luta contra as redes de tráfico de seres humanos.

Os líderes europeus concordaram em Bratislava, em uma reunião sem o Reino Unido, de reforçar a sua política de segurança e defesa antes da cúpula de 25 de março para marcar o 60º aniversário da fundação do projeto europeu.

"O sinal mais importante que devemos expressar em Roma é que estamos prontos para nos unir", disse Tusk em sua carta de convite aos líderes que se reunirão durante a tarde na capital maltesa, sem a britânica Theresa May.

Esta reunião poderia ser a última antes da notificação oficial do Brexit, se o processo parlamentar no Reino Unido terminar em 8 de março, ou seja, um dia antes de uma nova cúpula em Bruxelas, onde May poderia anunciar aos seus colegas a saída do Reino Unido, dando início a dois anos de negociações difíceis.

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