Joe Biden, presidente dos Estados Unidos (Eros Hoagland/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 2 de maio de 2024 às 18h11.
Última atualização em 2 de maio de 2024 às 18h19.
O presidente americano, Joe Biden, chamou a China e a Rússia, rivais dos Estados Unidos, e a Índia e o Japão, seus aliados, de países “xenofóbicos”. A fala foi feita nesta quarta-feira durante um evento para angariação de fundos em Washington, D.C. – e ocorreu apenas algumas semanas após o democrata ter elogiado a aliança EUA-Japão. Biden buscava argumentar que os países mencionados teriam melhor desempenho econômico se “abraçassem mais” a imigração.
"Uma das razões pelas quais nossa economia está crescendo é por causa de vocês e de muitos outros, porque damos boas-vindas aos imigrantes", declarou Biden a uma audiência de maioria asiático-americana. "Por que a China está estagnada economicamente? Por que o Japão tem problemas? E a Rússia e Índia? Porque são xenofóbicos. Eles não querem imigrantes. Os imigrantes são o que nos tornam fortes. Não é uma piada. Temos um influxo de trabalhadores que querem estar aqui e contribuir."
Conforme publicado pela CNN, o líder americano já havia retratado o Japão, a Rússia e a China como “xenófobos” numa entrevista em março. Na ocasião, ele afirmou que essas nações não querem ter pessoas de fora em seus países. Desde que assumiu a Presidência, contudo, Biden tem buscado fortalecer os laços com seus aliados asiáticos, especialmente com Nova Délhi e Tóquio, parceiro de longa data de Washington e fundamental para contrabalancear a China na região.
Em abril, a Casa Branca recebeu o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, e os líderes celebraram o que Biden chamou de uma “aliança indestrutível”. Já o premiê indiano, Narendra Modi, foi recebido em Washington no ano passado. Na época, o encontro foi visto como uma oportunidade de fortalecimento de laços com a nação mais populosa do mundo – e pontos de atrito, como as violações de direitos humanos, foram evitados. Biden afirmou que suas relações iriam “definir o século”.
As falas de Biden não receberam reação imediata dos governos japonês ou indiano. Nesta quinta-feira, o porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que o democrata fez um panorama “mais amplo” sobre a postura americana em relação à imigração. Ele pontuou que os aliados e parceiros “sabem bem como o presidente Biden valoriza sua amizade, cooperação e as capacidades que eles trazem em toda a gama de questões, não apenas relacionadas à segurança”.
Embora muitos especialistas possam concordar com a declaração do líder americano, “não é algo diplomático a se dizer sobre um dos aliados mais próximos dos Estados Unidos, especialmente porque o país tem seus próprios problemas com xenofobia”, avaliou Jeffrey Hall, professor de estudos japoneses na Universidade de Estudos Internacionais de Kanda, à rede americana NBC. Para ele, a fala foi “desnecessária” e pode ser interpretada como um “rebaixamento” dos japoneses.
"Isso não é uma maneira realmente eficaz de fazer o Japão resolver vários problemas de sua sociedade, que até mesmo os japoneses concordariam que são problemas", pontuou.
O Japão reconheceu que enfrenta dificuldades com sua população em declínio, e o número de bebês nascidos no país em 2023 caiu pelo oitavo ano consecutivo. Kishida, o premiê japonês, classificou a baixa taxa de natalidade como “a maior crise que o Japão enfrenta”. O país sempre foi conhecido por ter uma posição mais fechada em relação à imigração, ainda que nos últimos anos algumas políticas tenham sido modificadas para estimular o fluxo de trabalhadores estrangeiros.
Para manter o crescimento econômico, o país precisará de 6,74 milhões de imigrantes até 2040, segundo a NBC, que citou dados da Agência de Cooperação Internacional do Japão. O país ficou em 35º lugar entre 56 países no Índice de Política de Integração de Migrantes de 2020, que caracterizou a abordagem japonesa como “imigração sem integração”. Pesquisadores afirmam que direitos a oportunidades iguais e contra a discriminação eram negados a estrangeiros no país.
A população da Índia, por sua vez, aumentou para se tornar a maior do mundo: segundo as Nações Unidas, o país está a caminho de abrigar mais de 1,4 bilhão de pessoas. No início deste ano, Nova Délhi promulgou uma nova lei de cidadania que acelera a naturalização para hindus, parses, siques, budistas, jainistas e cristãos que fugiram para o país vindos do Afeganistão, Bangladesh e Paquistão. A determinação, porém, exclui os muçulmanos, que são maioria nos três países.