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Al Qaeda busca crianças-soldado no norte da Síria

A campanha foi iniciada este ano pela filial da Al Qaeda em seus domínios no norte da Síria para alistar menores em suas fileiras


	Crianças na Síria: a campanha tenta conscientizar a população com a distribuição de folhetos, pintando murais e colocando cartazes em lugares públicos
 (Bassam Khabieh / Reuters)

Crianças na Síria: a campanha tenta conscientizar a população com a distribuição de folhetos, pintando murais e colocando cartazes em lugares públicos (Bassam Khabieh / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 22 de junho de 2016 às 10h19.

Beirute - Mohammed, de 14 anos, conseguiu sair das fileiras da Frente al Nusra, grupo jihadista sírio vinculado à Al Qaeda, após ser recrutado em sua aldeia, no norte da província de Idlib, onde um grupo de ativistas lançou a campanha "Crianças, não soldados" para acabar com este fenômeno.

O adolescente foi recrutado pelos jihadistas há dois meses em seu vilarejo na região de Jabal Zawiya "durante um festival da campanha 'Infir' (una-se contra o inimigo, em árabe)", segundo relatou seu pai, Mustafa, à Agência Efe por telefone.

A campanha foi iniciada este ano pela filial da Al Qaeda em seus domínios no norte da Síria para alistar menores em suas fileiras.

Mohammed foi recrutado pela Frente al Nusra quando visitava, junto com sua mãe e sua irmã, sua aldeia na Síria para ver seus familiares e verificar o estado de sua casa, já que a família de Mustafa, que se recusou a divulgar seu nome real e o de seu filho por "segurança", residia em território turco há dois anos.

Sua intenção era retornar à Turquia junto com seu pai, mas isso não foi possível porque a fronteira foi fechada e eles tiveram que permanecer em Jabal Zawiya.

"Há dois meses, minha mulher me informou que meu filho Mohammed tinha se unido a um campo de treinamento da Frente al Nusra", lembrou Mustafa.

A filial da Al Qaeda "atrai os menores com dinheiro, lhes oferece um salário mensal de US$ 100 e armas. Quanto ao tema religioso, ela (a Frente al Nusra) o manipula, porque, na realidade, não conhece as raízes da religião", lamentou o pai, que também denunciou que disseram a seu filho que a permissão de sua família não era necessária.

"Nossa situação econômica é complicada, meu trabalho não é suficiente para viver e acredito que meu filho se uniu (à Frente al Nusra) por dinheiro", ponderou Mustafa.

Mohammed frequentava a escola na Turquia, mas interrompeu seus estudos quando se transferiu para seu país de origem. "Estava entediado, sem poder estudar e sem saber nenhum ofício", justificou seu pai.

Ao saber da decisão de seu filho, Mustafa, preocupado pelo destino de Mohammed, recorreu a um primo seu na Síria, professor em uma escola, que compareceu ao campo de treinamento dos jihadistas onde o adolescente se encontrava para adverti-lo do risco de sua decisão.

Após visitá-lo várias vezes, o familiar conseguiu convencê-lo a deixar a base do Frente al Nusra, 15 dias após sua incorporação.

Agora, Mohammed está com sua mãe e irmã em sua aldeia de Jabal Zawiya, à espera que seu pai consiga tirá-los da Síria, já que, como ele insistiu, a Turquia mantém a fronteira fechada "e através de traficantes é muito caro".

Mustafa assegurou que seu filho nunca participou de combates e que, durante os 15 dias em que esteve no campo de treinamento, estudou a sharia, a lei islâmica, além de ter tido uma formação militar e aprendido a usar armas.

Este pai recebeu o apoio da campanha "Crianças, não soldados", cujo diretor, Asim Zedan, opinou que a ausência de instituições educativas e o grande número de deslocados pelos bombardeios são alguns dos motivos pelos quais os menores aderem a organizações como a Frente al Nusra.

Para combater essa praga, sua campanha, iniciada em maio em Idlib e na província vizinha de Aleppo, realiza sessões com famílias e com os próprios jovens.

Além disso, tenta conscientizar a população com a distribuição de folhetos, pintando murais e colocando cartazes em lugares públicos com mensagens contrárias ao recrutamento de crianças e adolescentes.

Essas ações desencadearam o "assédio" da Frente al Nusra e do grupo radical Jund al Sham aos ativistas, e o boicote a seus cartazes e murais.

No entanto, "o resultado da campanha foi positivo, porque tiramos vários menores dos campos de treinamento e os levamos de volta para a escola", explicou Zedan.

A média de idade dos meninos oscila entre 13 e 17 anos e Zedan lembrou que não é apenas a Al Qaeda que recruta menores na Síria, mas também o regime governante de Bashar al Assad, o grupo terrorista Estado Islâmico e outras facções armadas.

"A Frente al Nusra começou no início de 2016 através de seu Centro de Defesa da Jihad (guerra santa), dirigido pelo clérigo Abdullah Mohaisani, com a campanha 'Infir'", acrescentou Zedan, que calcula que, desde então, os jihadistas recrutaram cerca de 500 menores, a maioria em campo de deslocados internos.

"É um fenômeno que surgiu com a situação de guerra na Síria. É um desastre que ameaça a sociedade e deve ser tratado rapidamente", frisou Zedan.

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