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Ajudar pobres e migrantes não é comunismo, diz papa Francisco

O texto aborda a santidade no mundo contemporâneo e é o quarto grande documento do pontificado de Francisco

Papa Francisco: "É nocivo e ideológico o erro das pessoas que vivem suspeitando do compromisso social dos outros" (Max Rossi/Reuters)

Papa Francisco: "É nocivo e ideológico o erro das pessoas que vivem suspeitando do compromisso social dos outros" (Max Rossi/Reuters)

Maurício Grego

Maurício Grego

Publicado em 10 de abril de 2018 às 10h03.

Última atualização em 10 de abril de 2018 às 10h06.

Defender os mais frágeis, ajudar os pobres e acolher migrantes não é "comunismo", mas sim uma maneira de conquistar a "santidade". É o que defende o papa Francisco em sua nova exortação apostólica, a "Gaudete e exsultate", tradução em latim de "alegrem-se e exultem", divulgada nesta segunda-feira (9).

O texto aborda a santidade no mundo contemporâneo e é o quarto grande documento do pontificado de Francisco, depois das exortações "Evangelii gaudium" ("Alegria do Evangelho", de 2013) e "Amoris laetitia" ("Alegria do amor", de 2016) e da encíclica "Laudato si" ("Louvado seja", de 2015).

"É nocivo e ideológico o erro das pessoas que vivem suspeitando do compromisso social dos outros, considerando-o algo de superficial, mundano, secularizado, comunista, imanentista, populista", diz a nova exortação.

Sem desencorajar os fiéis com modelos inalcançáveis, Francisco os convida a olharem para a "santidade da porta ao lado", a do marido ou da esposa que cuida do próprio cônjuge, do trabalhador que faz bem sua função, dos avós que ajudam os netos, das autoridades que pensam no bem comum e não no próprio bolso.

O Papa adverte logo no início do documento que não se deve esperar um "tratado sobre a santidade", mas sim um "objetivo humilde" de "encarná-la no contexto atual, com seus riscos, desafios e oportunidades".

"Muitas vezes ouve-se dizer que, face ao relativismo e aos limites do mundo atual, seria um tema marginal, por exemplo, a situação dos migrantes. Que fale assim um político preocupado com os seus sucessos, talvez se possa chegar a compreender; mas não um cristão, cuja única atitude condigna é colocar-se na pele do irmão que arrisca a vida para dar um futuro aos seus filhos", afirma.

Segundo Jorge Bergoglio, a preocupação com os mais carentes não é a "invenção de um Papa nem um delírio passageiro", mas sim o que diz o próprio Evangelho.

"A defesa do inocente nascituro, por exemplo, deve ser clara, firme e apaixonada, porque neste caso está em jogo a dignidade da vida humana, sempre sagrada, e exige-o o amor por toda a pessoa, independentemente do seu desenvolvimento. Mas igualmente sagrada é a vida dos pobres que já nasceram e se debatem na miséria, no abandono, na exclusão, no tráfico de pessoas, na eutanásia encoberta de doentes e idosos privados de cuidados, nas novas formas de escravatura, e em todas as formas de descarte", diz a exortação.

"Não podemos propor-nos um ideal de santidade que ignore a injustiça deste mundo, onde alguns festejam, gastam folgadamente e reduzem a sua vida às novidades do consumo, ao mesmo tempo que outros se limitam a olhar de fora enquanto a sua vida passa e termina miseravelmente", salienta.

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