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África busca culpados em meio à piora da crise de coronavírus

Ritmo de infecções no continente mais pobre do mundo foi relativamente lento no início, mas disparou quando economias reabriram, passando marca de 600 mil

Garoto passa em frente a um grafite que promove a luta contra a covid-19 nas favelas de Mathare, em Nairobi, Quênia, 22 de maio de 2020.  (Baz Ratner/Reuters)

Garoto passa em frente a um grafite que promove a luta contra a covid-19 nas favelas de Mathare, em Nairobi, Quênia, 22 de maio de 2020. (Baz Ratner/Reuters)

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Bloomberg

Publicado em 20 de julho de 2020 às 12h51.

Última atualização em 20 de julho de 2020 às 16h37.

Líderes africanos têm assumido uma postura crítica em relação aos cidadãos em meio à dificuldade de conter a propagação do coronavírus com sistemas de saúde já precários que estão sobrecarregados com maior fluxo de pacientes.

A mensagem dos governos de vários países - que inicialmente elogiavam os cidadãos por apoiarem as medidas contra a pandemia - mudou, e algumas autoridades agora os repreendem por não fazerem o suficiente.

A mudança de tom marca a tentativa de líderes do continente de se livrarem de parte da responsabilidade pelo número crescente de casos e evitar possíveis distúrbios sociais, disse Amaka Anku, chefe da prática de África do Eurasia Group.

Eles estão “lembrando os eleitores de que o governo estabeleceu regras claras que as pessoas precisam seguir”, disse Amaka. “Então, se algumas pessoas não as seguem, o governo não deve ser responsabilizado.”

O ritmo de infecções no continente mais pobre do mundo foi relativamente lento no início devido a quarentenas rigorosas impostas por muitos países, mas os casos confirmados dispararam quando as economias reabriram, ultrapassando a marca de 600 mil na semana passada. Manter o distanciamento físico se mostrou difícil em muitas favelas, e os apelos para o uso de máscaras muitas vezes não são ouvidos, pois algumas pessoas questionam a gravidade da doença.

A piora da pandemia “pode criar uma receita para distúrbios políticos”, afirmou Dismas Mokua, analista político em Nairóbi, capital do Quênia. “Cidadãos insatisfeitos com o status quo culparão o governo pelos erros de omissão e de comando que resultam em aumento de infecções e mortes, bem como oportunidades econômicas perdidas.”

Na África do Sul, que tem quase metade dos casos confirmados de vírus no continente, o governo tem enfrentado críticas por impor algumas regras de quarentena aparentemente arbitrárias que causaram dificuldades econômicas indevidas. Embora inicialmente autoridades tenham admitido que cometeram erros e tenham se comprometido a corrigi-los, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, foi à ofensiva na semana passada e criticou os que continuam em bebedeiras, organizando festas e que não usam máscaras em público.

Também na semana passada, o governo da Costa do Marfim disse que o uso de máscaras em público será obrigatório, já que as recomendações para adotar a medida foram amplamente ignoradas, e instou cidadãos a manterem o distanciamento físico. O presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, alertou que as restrições de mobilidade serão restabelecidas se os cidadãos não cumprirem o dever cívico de manter a pandemia sob controle - um alerta também enviado pelo ministro da Informação de Gana, Kojo Oppong Nkrumah.

Na Nigéria, autoridades enfatizaram cada vez mais que os cidadãos devem assumir a responsabilidade por sua própria saúde e alertaram que pessoas que não usarem máscaras ou não respeitarem o distanciamento físico serão presas. Várias centenas de pessoas já foram processadas.

Os cidadãos precisam exercer responsabilidade pessoal, mas seu impacto individual na trajetória da doença é limitado, disse Mokua.

“É responsabilidade dos líderes políticos oferecer orientação” e achatar a curva de infecção, disse. “Não podem passar a bola.”

(Com a colaboração de Tope Alake, Katarina Hoije e Ekow Dontoh).

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