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Acordos de Oslo completam 20 anos e paz ainda é promessa

20º aniversário dos Acordos de Oslo passa despercebido e quase não é lembrado entre os palestinos, e mais ainda pelos israelenses

Vista de assentamento próximo a Jerusalém: obstáculos que extremistas de ambos os povos colocaram para a reconciliação empurraram ladeira abaixo o processo (Ammar Awad /Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 13 de setembro de 2013 às 14h54.

Jerusalém - O 20º aniversário dos Acordos de Oslo passa despercebido e quase não é lembrado entre os palestinos, e mais ainda pelos israelenses, embora suas bases políticas continuam vigentes como há duas décadas e ainda façam parte das atuais negociações de paz.

"O que deveríamos celebrar exatamente? A paz nunca vimos. A única coisa que trouxeram foram mais e mais terrorismo", afirmou David Pilsk, morador de Jerusalém que hoje estava mais preocupado com os preparativos do Yom Kippur, a jornada mais sagrada do judaísmo e que começará ao entardecer desta sexta-feira.

Ocupado com as últimas compras antes do tradicional jejum, Pilsk esboça um sorriso de incredulidade ao ouvir falar de Oslo. Sua cabeça, sem dúvida, está em outro lugar.

Nem sequer os principais jornais israelenses, repletos hoje de material sobre o 40º aniversário da Guerra do Yom Kippur, mencionam os acordos que na época fixaram a base para paz entre israelenses e palestinos.

Em 13 de setembro de 1993, os já falecidos líderes israelense Yitzhak Rabin e palestino Yasser Arafat deram um morno aperto de mãos na Casa Branca para simbolizar o começo de um novo período e assinaram um acordo que criou a Autoridade Nacional Palestina (ANP) como entidade política transitória.

"O acordo permanente deveria ter sido assinado em maio de 1999. Estamos só quatorze anos atrasados", lembrou hoje, com ironia, um pequeno anúncio do bloco pacifista Gush Shalom no jornal "Haaretz".

Os obstáculos que extremistas de ambos os povos colocaram para a reconciliação (Rabin pagou com a própria vida) empurraram ladeira abaixo o processo, que desembocou em 2000 no pior enfrentamento armado na região, a Intifada de al-Aqsa.

Nascido em 1989, o palestino Amjad Jalil, da aldeia de Yabel Mukaber, em Jerusalém Oriental, tinha na ocasião 11 anos. Pouco se lembra dos Acordos de Oslo.

"Sei que existem e que os israelenses não cumpriram suas promessas e seguem roubando nossas terras. Em frente a nossa aldeia construíram Har Homa", afirmou em referência a um dos assentamentos que mais contribuiram para o fracasso da paz.


Deste período difícil, no qual até os israelenses e palestinos mais pacifistas perderam a inocência, cada parte prefere se lembrar de suas próprias feridas.

Os palestinos lembram as humilhações e a usurpação, os ataques de colonos, as demolições de casas, as restrições ao acesso de água, as barreiras (entre elas a que separa toda Cisjordânia), as batidas e operações militares, as mortes de milhares de milicianos e civis e, sobretudo, o temor de que a solução de dois Estados se dissolva pelos assentamentos (há cinco vezes mais colonos judeus do que há 20 anos).

"A comunidade internacional acreditava em qualquer processo que sentasse as duas partes juntas, ignorando a imensa disparidade entre ocupante e ocupado e fechando os olhos para as violações israelenses do direito internacional", explicou o atual negociador palestino para a paz, Saeb Erekat, em uma declaração por causa do aniversário de Oslo.

Segundo sua opinião, "a maior parte do fracasso de Oslo se deve à impunidade de Israel " e só se a comunidade internacional deixar de tratar o país "como um Estado que está acima da lei" as duas partes poderão negociar de igual para igual.

Para o lado oposto, "Oslo" é sinônimo de "terrorismo" e de "fanatismo islâmico" e os israelenses lembram o número de mortos sem precedentes que sofreram desde então em incontáveis atentados e vítimas de milhares de foguetes disparados desde Gaza e que hoje ameaçam mais da metade de seu território.

"Para alcançar uma solução é preciso olhar para frente e fazer um esforço para conseguir o final do terrorismo e da violência. Com isso se conseguirá a solução de dois Estados: um para o povo judeu e outro para o povo palestino, um ao lado do outro em coexistência, reconciliação e cooperação", afirmou Yigal Palmor, porta-voz da chancelaria israelense.

Apesar de, efetivamente, muitos dos objetivos estipulados em Oslo não terem saído do papel, dois de seus artífices, o atual presidente israelense, Shimon Peres, e o assessor presidencial palestino Nabil Shaath, saíram nesta semana em defesa dos acordos.

Sem Oslo, acredita Peres, Israel estaria hoje "em uma situação terrível", existiriam apenas "um único campo árabe, inimigo", e não existiria um presidente palestino, como Mahmoud Abbas, disposto a conversar.

Muito mais crítico que ele, Shaath reconhece, no entanto, que "ocorreram algumas coisas positivas, como temas importantes postos na agenda para se alcançar um acordo definitivo".

Apesar do fracasso em sua aplicação e do sofrimento acumulado por ambas as partes, a importância de Oslo está em sua essência, tão viva hoje como antes e que, com pequenas adaptações, fez parte de todas as conversas de paz desde então, incluídas as iniciadas em julho deste ano.

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Jerusalém - O 20º aniversário dos Acordos de Oslo passa despercebido e quase não é lembrado entre os palestinos, e mais ainda pelos israelenses, embora suas bases políticas continuam vigentes como há duas décadas e ainda façam parte das atuais negociações de paz.

"O que deveríamos celebrar exatamente? A paz nunca vimos. A única coisa que trouxeram foram mais e mais terrorismo", afirmou David Pilsk, morador de Jerusalém que hoje estava mais preocupado com os preparativos do Yom Kippur, a jornada mais sagrada do judaísmo e que começará ao entardecer desta sexta-feira.

Ocupado com as últimas compras antes do tradicional jejum, Pilsk esboça um sorriso de incredulidade ao ouvir falar de Oslo. Sua cabeça, sem dúvida, está em outro lugar.

Nem sequer os principais jornais israelenses, repletos hoje de material sobre o 40º aniversário da Guerra do Yom Kippur, mencionam os acordos que na época fixaram a base para paz entre israelenses e palestinos.

Em 13 de setembro de 1993, os já falecidos líderes israelense Yitzhak Rabin e palestino Yasser Arafat deram um morno aperto de mãos na Casa Branca para simbolizar o começo de um novo período e assinaram um acordo que criou a Autoridade Nacional Palestina (ANP) como entidade política transitória.

"O acordo permanente deveria ter sido assinado em maio de 1999. Estamos só quatorze anos atrasados", lembrou hoje, com ironia, um pequeno anúncio do bloco pacifista Gush Shalom no jornal "Haaretz".

Os obstáculos que extremistas de ambos os povos colocaram para a reconciliação (Rabin pagou com a própria vida) empurraram ladeira abaixo o processo, que desembocou em 2000 no pior enfrentamento armado na região, a Intifada de al-Aqsa.

Nascido em 1989, o palestino Amjad Jalil, da aldeia de Yabel Mukaber, em Jerusalém Oriental, tinha na ocasião 11 anos. Pouco se lembra dos Acordos de Oslo.

"Sei que existem e que os israelenses não cumpriram suas promessas e seguem roubando nossas terras. Em frente a nossa aldeia construíram Har Homa", afirmou em referência a um dos assentamentos que mais contribuiram para o fracasso da paz.


Deste período difícil, no qual até os israelenses e palestinos mais pacifistas perderam a inocência, cada parte prefere se lembrar de suas próprias feridas.

Os palestinos lembram as humilhações e a usurpação, os ataques de colonos, as demolições de casas, as restrições ao acesso de água, as barreiras (entre elas a que separa toda Cisjordânia), as batidas e operações militares, as mortes de milhares de milicianos e civis e, sobretudo, o temor de que a solução de dois Estados se dissolva pelos assentamentos (há cinco vezes mais colonos judeus do que há 20 anos).

"A comunidade internacional acreditava em qualquer processo que sentasse as duas partes juntas, ignorando a imensa disparidade entre ocupante e ocupado e fechando os olhos para as violações israelenses do direito internacional", explicou o atual negociador palestino para a paz, Saeb Erekat, em uma declaração por causa do aniversário de Oslo.

Segundo sua opinião, "a maior parte do fracasso de Oslo se deve à impunidade de Israel " e só se a comunidade internacional deixar de tratar o país "como um Estado que está acima da lei" as duas partes poderão negociar de igual para igual.

Para o lado oposto, "Oslo" é sinônimo de "terrorismo" e de "fanatismo islâmico" e os israelenses lembram o número de mortos sem precedentes que sofreram desde então em incontáveis atentados e vítimas de milhares de foguetes disparados desde Gaza e que hoje ameaçam mais da metade de seu território.

"Para alcançar uma solução é preciso olhar para frente e fazer um esforço para conseguir o final do terrorismo e da violência. Com isso se conseguirá a solução de dois Estados: um para o povo judeu e outro para o povo palestino, um ao lado do outro em coexistência, reconciliação e cooperação", afirmou Yigal Palmor, porta-voz da chancelaria israelense.

Apesar de, efetivamente, muitos dos objetivos estipulados em Oslo não terem saído do papel, dois de seus artífices, o atual presidente israelense, Shimon Peres, e o assessor presidencial palestino Nabil Shaath, saíram nesta semana em defesa dos acordos.

Sem Oslo, acredita Peres, Israel estaria hoje "em uma situação terrível", existiriam apenas "um único campo árabe, inimigo", e não existiria um presidente palestino, como Mahmoud Abbas, disposto a conversar.

Muito mais crítico que ele, Shaath reconhece, no entanto, que "ocorreram algumas coisas positivas, como temas importantes postos na agenda para se alcançar um acordo definitivo".

Apesar do fracasso em sua aplicação e do sofrimento acumulado por ambas as partes, a importância de Oslo está em sua essência, tão viva hoje como antes e que, com pequenas adaptações, fez parte de todas as conversas de paz desde então, incluídas as iniciadas em julho deste ano.

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