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Abdullah rejeita resultado eleitoral e acende crise política

Abdullah Abdullah se declarou vencedor das eleições e rejeitou a vitória de seu oponente Ashraf Gani, o que abre uma crise política e étnica no país


	Candidato à presidência Abdullah Abdullah (c): "somos os ganhadores das eleições"
 (Wakil Kohsar/AFP)

Candidato à presidência Abdullah Abdullah (c): "somos os ganhadores das eleições" (Wakil Kohsar/AFP)

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Da Redação

Publicado em 8 de julho de 2014 às 11h25.

Cabul - Abdullah Abdullah se declarou nesta terça-feira vencedor das eleições presidenciais do Afeganistão e rejeitou a vitória de seu oponente Ashraf Gani, o que abre uma crise política e étnica no país asiático a meses da retirada das tropas da Otan.

"Somos os ganhadores das eleições e devemos formar um governo legítimo", afirmou Abdullah em reunião na Loya Jirga - assembleia tradicional - em Cabul, um dia depois que os resultados preliminares apontaram Gani como vencedor.

O ex-dirigente da Aliança do Norte contra os talibãs anunciou que nos próximos dias seu governo anunciará a pedido "legítimo de seus eleitores" e ameaçou levar seus eleitores às ruas.

No entanto, não apoiou a criação de um governo paralelo como pediam alguns de seus aliados, pedido que despertou a preocupação diante de um possível conflito étnico.

Gani, um tecnocrata com experiência no Banco Mundial, é pashtun, etnia que representa 40% dos afegãos, enquanto Abdullah descende de pai pashtun e mãe tajique, por isso o candidato vencedor é vinculado a essa última.

"Não queremos a partilha do Afeganistão. Queremos preservar a união nacional e a dignidade do Paquistão. Não queremos uma guerra civil, mas estabilidade", ressaltou o político.

A Comissão Eleitoral do Afeganistão (IEC) anunciou ontem os resultados preliminares do segundo turno das eleições realizadas em 14 de junho e pôs em cabeça a Gani com 56,44% dos votos, frente aos 43,56% de Abdullah.

No primeiro turno, realizado em 5 de abril, Abdullah obteve 45% dos votos, enquanto Gani ficou com 31%.

Os resultados finais serão anunciados em 22 de julho e está previsto que o novo presidente tome posse em 2 de agosto.

Abdullah acusou o líder que está deixando o cargo, Hamid Karzai, à IEC e Gani de organizar uma fraude em "escala industrial" com a introdução de votos falsos nas urnas e em várias ocasiões pediu a apuração das cédulas.

A IEC chegou a fazer recontagem de votos em quase 2 mil seções eleitorais, uma medida insuficiente para Abdullah e para os observadores eleitorais da União Europeia, que em comunicado afirmou que poderia haver fraude em 6 mil centros.

O político se retirou no segundo turno do pleito de 2009 perante Karzai entre denúncias de fraude.

O candidato afirmou que manteve conversas telefônicas com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e com o secretário de Estado desse país, John Kerry, quem segundo Abdullah viajará para Cabul na sexta-feira.

Kerry advertiu ontem que Washington cancelará a ajuda financeira ao Afeganistão se ficar determinado que o vencedor nas eleições presidenciais ficou com o poder de forma ilegítima.

"Qualquer ação para ficar com o poder por métodos não legais custará ao Afeganistão o apoio financeiro e de segurança dos EUA e a comunidade internacional", afirmou em comunicado o secretário de Estado americano.

As eleições presidenciais afegãs representam a saída do poder de Karzai após 13 anos na presidência, já que a Constituição proíbe um terceiro mandato.

O processo eleitoral acontece enquanto o conflito do Afeganistão está em um de seus momentos mais sangrentos desde a invasão dos Estados Unidos, que propiciou a queda do regime talibã em 2001.

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