A França é o amigo ideal para o Brasil num mundo multipolar, diz Sarkozy em Paris
Ex-presidente francês defendeu entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU em evento do Grupo Esfera Brasil
Diretor de redação da Exame
Publicado em 13 de outubro de 2023 às 07h30.
Última atualização em 13 de outubro de 2023 às 07h40.
PARIS - O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy defendeu a aproximação entre Brasil e França num painel do Fórum Internacional do Grupo Esfera, nesta sexta-feira, em Paris.
O evento convidou empresários e políticos para tratar de oportunidades de negócios entre os dois países. A França é o país com mais empresas e empregos criados no Brasil, com mil negócios e 500.000 postos de trabalho.
- Sem precedentes: Google, Amazon e Cloudware confirmam que lidaram com ataque cibernético nunca visto
- Brasil vai obter empréstimo de US$ 1 bilhão com 'banco dos Brics'
- Marinho diz que 'não está fácil' chegar a acordo de regulamentação de trabalhadores por app
- Inter Miami x Cincinnati FC: onde assistir, escalações e horário do jogo pela MLS
- Sem apertos
- Onde encontrar
A aproximação pode se intensificar com novos negócios conectados sobretudo à economia verde e com a concretização do acordo de livre comércio entre Brasil e União Europeia. Os temas foram foco de diversos painéis nesta sexta-feira, e ganharam especial relevância na fala do ex-presidente francês.
Sarkozy presidiu a França entre 2007 e 2012, período em que lidou com a crise financeira global, compartilhado com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, novamente eleito em 2023.
"Lula e eu éramos como dois dedos de uma mão, mesmo que eu nunca tenha sido de esquerda", afirmou Sarkozy. "Ele falava com razão que o Brasil tem que escolher seus parceiros".
Segundo Sarkozy, este parceiro ideal não pode ser os Estados Unidos, um país potente "demais". "Eles têm um sapato 63, pisam em você e depois perguntam: o que você está fazendo embaixo da minha sola?", afirmou. "O amigo ideal para o Brasil não pode ser potente demais, nem fraco demais. É a França."
Os dois países, segundo ele, "são feitos para trabalhar juntos". "Vocês têm a matéria-prima e uma área 13 vezes a área da França; nós temos tecnologia e vocês, população. Nós somos de certa forma a potência do passado; vocês, a do futuro. Se nos somarmos, podemos ser a potência do presente", afirmou.
Mundo multipolar
Segundo Sarkozy, a união é especialmente relevante agora, em um momento de rearranjo geopolítico. "O sistema multilateral que conhecemos é o do século 20, e estamos no do século 21. Há três anos que nada mais funciona. Onde estão as Nações Unidas? Desapareceram", disse.
Sarkozy defendeu a construção de um novo sistema multipolar para abordar assuntos urgentes como guerras e crise climática. Quando o Conselho de Segurança da ONU foi formado, relembrou, o mundo tinha 2,5 bilhões de habitantes, e agora tem mais de 7 bilhões. Países africanos e sul-americanos deveriam integrar o conselho, e o Brasil seria uma escolha natural, segundo o ex-mandatário francês.
"Nada é mais urgente que o Brasil e a França assumirem a liderança para desenhar um sistema multilateral para o século 21", afirmou. "A cena política global precisa do Brasil. O Brasil é uma potência política global que tem que falar ao mundo".
Ele citou o exemplo da França, onde há décadas há intenso debate sobre taxação de grandes fortunas. O Brasil também debate taxação de heranças e de fundos de investimento exclusivos.
Segundo Sarkozy, o Brasil tem um desafio estratégico pela frente, ao escolher caminhos de crescimento. "Vocês querem menos ricos ou menos pobres? Se querem menos pobres, têm que querer mais ricos", defendeu.
"Quero que a França tenha mais Bernard Arnaults (empresário dono do império de luxo LVMH). Ele vende produtos para a China a partir da França", disse. "Não tenham medo do êxito. Aqueles países que têm medo do êxito são muito velhos para ter espírito jovem".
* O jornalista viajou a convite do Grupo Esfera