Esta é a crise de refugiados mais ignorada do mundo
Nos últimos cinco anos, pedidos de refúgio de pessoas da Guatemala, Honduras e El Salvador aumentaram 597%. Mas o mundo vem ignorando esse problema
Clara Cerioni
Publicado em 15 de novembro de 2016 às 07h00.
Última atualização em 15 de novembro de 2016 às 07h00.
São Paulo - Os países da América Central enfrentam hoje uma das piores crises de refugiados da sua história e que é ignorada em todo o mundo. Em 2015, os pedidos de asilo de pessoas oriundas da Guatemala, Honduras e El Salvador aumentaram 597% na comparação com 2010.
Ao todo, no ano passado, 56 mil pessoas pediram para fugir da violência, pobreza e desigualdade que prevalecem nesses países. Em 2010 as solicitações não chegavam a 10 mil, de acordo com números da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
Além dos conflitos internos, outro agravante para a crise é o descaso da comunidade internacional. Segundo Fernanda Frinhani, professora de relações internacionais da UniSantos, o mundo enxerga esses pedidos de refúgio com um caráter meramente econômico, interpretando o fenômeno de maneira equivocada.
"As pessoas desqualificam a real necessidade de fuga e acreditam ser apenas por um desejo de conquistar uma estabilidade econômica em países mais desenvolvidos e viver longe da pobreza. Os líderes estrangeiros olham para o conflito como uma questão de segurança pública interna, mas não é. É uma questão de sobrevivência", completa.
Dos três países, a situação mais crítica está em El Salvador . Em 2014, uma trégua entre as principais gangues do país, estabelecida dois anos antes, foi rompida e resultou no aumento de 60% dos homicídios e de 97% nos pedidos de refúgio no ano seguinte.
Na Guatemala e em Honduras , a realidade não é muito diferente: os dois países foram classificados pela ONU como um dos mais violentos fora de zonas de guerra e, juntos, tiveram mais de 10 mil homicídios registrados ano passado.
“O problema desses países é a violência generalizada das gangues e do tráfico. Quem vive em El Salvador não tem para onde se deslocar porque não se sentirá segura em nenhum lugar”, pontua. Ela explica, ainda, que esses refugiados só se sentem protegidos no Estados Unidos, uma vez que na Nicarágua e no México, países vizinhos, o cenário também é de violência.
Uma crise invisível
A Anistia Internacional denunciou em um relatório chamado de “Lar doce Lar: o papel de Honduras, Guatemala e El Salvador na crescente crise de refugiados” o descaso dos governos desses países e órgãos internacionais em relação ao panorama enfrentado por essas pessoas.
No documento, a organização aponta que os líderes destes três países, que em conjunto são conhecidos como "Triângulo Norte da América Central", estão falhando duas vezes em proteger os seus cidadãos, uma vez que as condições sociais oferecidas vão de mal a pior e, por consequência, as cidades tornam-se cada vez mais violentas.