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A contundente vitória de Mauricio Macri na Argentina

ÀS SETE - A frente Cambiemos venceu as legislativas em Buenos Aires em 13 das 23 províncias. Governistas já falam em um projeto de 20 anos para o país

No nível nacional, o governo obteve cerca de 40% dos votos, como previam as pesquisas

No nível nacional, o governo obteve cerca de 40% dos votos, como previam as pesquisas

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Da Redação

Publicado em 23 de outubro de 2017 às 06h15.

Última atualização em 23 de outubro de 2017 às 07h34.

Buenos Aires — O governo de Mauricio Macri obteve neste domingo uma contundente vitória sobre a oposição liderada pela ex-presidente Cristina Kirchner. A frente Cambiemos (“Vamos mudar”) venceu as eleições legislativas em Buenos Aires em 13 das 23 províncias, incluindo Santa Cruz, o reduto eleitoral de Kirchner.

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No nível nacional, o governo obteve cerca de 40% dos votos, como previam as pesquisas. A oposição recebeu mais votos, mas ela está dividida entre peronistas que apoiam e rejeitam Kirchner, além da extrema esquerda não peronista.

Kirchner conquistou uma cadeira no Senado, de onde liderará a oposição, mas teve menos votos que o candidato de Macri, o ex-ministro da Educação Esteban Bullrich: 41% a 37%. O placar mostra que ela terá vida dura na oposição.

Os resultados não asseguram maioria absoluta para o governo no Congresso — até porque foram renovados apenas metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado —, mas credenciam Macri para negociar com os setores peronistas não vinculados a Kirchner.

O presidente tem um plano de reformas gradual, que inclui flexibilização das leis trabalhistas, cortes nos gastos públicos e mudanças nas leis tributárias e previdenciárias.

A coalizão governista foi favorecida pela alta rejeição a Kirchner — entre 60% e 70% —, envolvida em vários escândalos de corrupção e abuso de poder, e pela melhora recente na economia, com crescimento econômico e queda da inflação.

Para muitos eleitores argentinos, Macri, um empresário, ficou identificado com o “futuro” e a modernização, enquanto Kirchner está associada ao “passado” de corrupção e ineficiência.

“Estamos começando a transformar nossa querida Argentina”, discursou Macri, na sede de campanha do Cambiemos, em Buenos Aires. “É um dia muito importante, porque hoje confirmamos nosso compromisso com a mudança, que é um compromisso sério. Somos a geração que está mudando a história.”

O presidente, que chefia desde dezembro de 2015 um governo de minoria, estendeu a mão, no entanto, à oposição: “Sempre vamos escutá-los”. Seu principal canal de negociação com a oposição são os governadores, que dependem das verbas do governo central.

Esses resultados colocam Macri em uma posição de força para se candidatar à reeleição em 2019. Dentro do governo, fala-se de um projeto de modernização do país de 20 anos.

E também para pressionar o Mercosul a se abrir para acordos comerciais com outros blocos e países, como fez Macri em uma carta no início do mês ao presidente Michel Temer, cobrando a implementação de um acordo de convergência de normas técnicas e fito-sanitárias.

Kirchner tentou impor um clima de alarmismo e de revolta, alertando que haverá um “tarifaço” depois das eleições, e acusando o governo de responsabilidade pela morte de Santiago Maldonado, um tatuador de 28 anos que desapareceu no dia 1.º de agosto, durante um confronto entre indígenas e a polícia nacional na região da Patagônia.

Seu corpo foi encontrado na terça-feira, afogado em um rio, e uma perícia preliminar indicou na sexta-feira que ele não tinha sinais de violência. O resultado final sairá em duas semanas.

Os índios, da etnia mapuche, haviam sido expulsos, por ordem da Justiça, de terras pertencentes ao empresário Luciano Benetton. Eles bloqueavam uma estrada em protesto. Quando a polícia chegou, lançaram-se nas águas geladas do rio Chúbut. Maldonado, que não era da região, estava vestido com três calças e várias camisas, para suportar o frio.

Ele também tinha panos atados ao pescoço, para se proteger do gás lacrimogêneo. Tudo isso deve ter dificultado sua tentativa de atravessar o rio a nado, estima a polícia. Sua família se recusou a reconhecer seu corpo e mantém uma atitude de desconfiança, explorada pela oposição.

A candidata a deputada Elisa Carrió, da frente do governo, fez declarações desastradas sobre o caso, dizendo que havia 20% de chance de Maldonado estar no Chile com o grupo Resistência Ancestral Mapuche, e que a temperatura baixa do rio poderia conservá-lo, citando a lenda urbana de que Walt Disney teria sido congelado até ser encontrada a cura para sua doença.

Foi muito criticada por isso. Mesmo assim, elegeu-se com mais de 50% dos votos em Buenos Aires, derrotando os candidatos de Kirchner e dos outros peronistas.

Macri manteve um tom sereno, insistindo que a opinião pública esperasse os resultados das investigações. Kirchner procurou capitalizar o caso, encerrando sua campanha na terça-feira, quando o corpo foi encontrado, para dar ênfase ao luto pela morte de Maldonado. Ao longo desses quase três meses, a esquerda explorou o desaparecimento à exaustão, chamando Macri de “assassino”.

Houve também ameaças anônimas de bombas contra escolas onde se realizava a votação. O governo da província de Buenos Aires montou um forte aparato de segurança, e a polícia antibombas foi acionada várias vezes. Mas todos os alertas eram falsos. Os governos acusaram os “cristinistas”, como são chamados os seguidores da ex-presidente, de estar por trás dessas ameaças. Já os cristinistas disseram que era armação do governo para evitar a votação em redutos da oposição.

Quanto ao tarifaço, de fato economistas ouvidos por EXAME na semana passada confirmaram que o governo continuará a retirar os subsídios à eletricidade, gás e combustíveis, cujos preços ficaram muito defasados por um congelamento imposto por Kirchner. Macri já começou a fazer isso desde que assumiu em dezembro de 2015, causando uma explosão inflacionária, que chegou a 40% no ano passado. Para este ano, a estimativa é de 20%.

O plano de Macri a partir de agora é negociar setor por setor a flexibilização das leis trabalhistas para diminuir os custos para o empregador. Não haverá uma reforma trabalhista geral, como no Brasil. Ele já tem redigida uma proposta de lei de responsabilidade fiscal para as províncias, que passará agora a negociar com os governadores.

Para isso, conta com a vitória de sua frente tanto em Buenos Aires quanto nas principais províncias do país. Somadas, elas representam 66% da população argentina. Os governadores argentinos são pragmáticos. Eles perceberão para que lado o vento está soprando. Ou pelo menos é isso o que Macri espera.

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