A cidade iraquiana que teve a cultura assíria apagada pelo EI
A cidade de Nimrud costumava ter monumentos arqueológicos que datavam do século 13 a.C
EFE
Publicado em 11 de janeiro de 2017 às 13h49.
Nimrud - O grupo terrorista Estado Islâmico (EI) reduziu a pó os monumentos arqueológicos da cidade de Nimrud, que fica ao sul de seu principal reduto no Iraque , Mossul, e que datavam do século 13 a.C.
Os touros e leões alados foram destruídos e agora são apenas pequenos pedaços de pedra, enquanto o resto está protegido por fortes medidas de segurança dos membros do Exército e da Polícia, que estão na cidade histórica, libertada em novembro do ano passado pelas forças iraquianas na primeira ofensiva contra o EI para recuperar a província de Ninawa.
Nimrud, também conhecida como Kalhu pelos assírios, conserva hoje alguns restos de pedras, muros e zigurate (torre piramidal e escalonada), que sobraram dos ataques jihadistas, depois da tomada do local em 2014.
O responsável pela administração do sítio arqueológico, Saadi Ali, disse à Agência Efe que os monumentos mais importantes da cidade assíria são o zigurate e o palácio real do rei da Assíria, Assurnasirpal II, do século 4 a.C. Segundo ele, o lugar, que tinha um grande museu com centenas de peças arqueológicas, foi totalmente destruído com explosivos pelo EI.
A cidade também tinha dez entradas, cada uma com dois grandes leões e touros alados. A entrada principal tinha oito leões, assim como a entrada do palácio da deusa babilônica do amor, da beleza, da vida e da fertilidade, Ishtar.
Ali contou que o governo iraquiano criou um Comitê Governamental de Antiguidades e Patrimônio para avaliar os prejuízos causados e reabilitar 90% da cidade, que é o que acredita-se que foi danificado.
"O EI não deixou nada intacto. Cometeu o crime da era contra a civilização iraquiana", lamentou Ali.
O diretor da inteligência militar iraquiana, Ali al Dahlaki, por sua vez, relatou à Efe que os membros de sua organização, com a cooperação da segurança nacional, encontraram em 26 de dezembro "algumas peças preciosas dos monumentos roubados de Nimrud".
Segundo Al Dahlaki, um dos líderes do EI escondeu objetos roubados em uma casa da cidade de Al Qasr, no leste de Mossul, que depois foram entregues às autoridades competentes.
O grupo terrorista saqueou Nimrud, e para o Ministério do Turismo e das Antiguidades essa é uma "agressão contra relíquias iraquianas de 3 mil anos de antiguidade".
As forças iraquianas da IX divisão blindada anunciaram em 13 de novembro de 2016 que suas tropas tomaram o controle de Nimrud, dois anos depois que o EI a invadir. Alguns meses antes, em junho, o grupo terrorista divulgou um vídeo mostrando como fazia para detonar dos maiores templos e imagens de outros vestígios arqueológicos.
Um membro da organização terrorista, identificado como Abu al-Hassan Al Ansari, aparecia na frente do templo Nabu e, apontando para a porta, dizia que ia apagar um dos monumentos mais importantes Nimrud.
Registros históricos assinalam que o deus Nabu, representante da sabedoria, era uma das divindades mais significativas da Mesopotâmia e muito adorada pelo povo.
Mahdi al Yabouri, de 48 anos, é morador de Nimrud e sobreviveu à morte depois de ter sido capturado pelos terroristas.
"Ninguém entra mais nos museus, exceto delegações governamentais e visitantes estrangeiros", revelou.
Segundo ele, o EI tinha a intenção de transformar as salas do museu em celas de prisão, depois de ocupar a cidade. No entanto, "mudou de opinião e decidiu explorar os vestígios, e comprovar a autenticidade das peças".
"O EI saqueou todas as relíquias originais, destruiu todas as esculturas e as grandes estátuas, explodiu tudo", lamentou.
Em meados de dezembro, o escritório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) fez uma visita de avaliação por Nimrud.
Em comunicado, a entidade informou que o objetivo da missão é preservar o estado atual da cidade, especialmente após a destruição, e determinar as medidas de emergência para sua conservação.
"É um grande passo para o povo iraquiano porque é fundamental para a segurança e para a estabilidade na região, da mesma forma que para a história da humanidade", afirmou a diretora geral da Unesco, Irina Bokova.