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5,5 bi de pessoas carecem de analgésicos para dores intensas

Número significa que "três quartos do mundo têm pouco ou nenhum acesso a tratamentos paliativos da dor" para doenças graves


	Remédios: 92% da morfina é consumida por 17% da população do planeta e se concentra nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa Ocidental e na Austrália
 (Miguel Medina/AFP)

Remédios: 92% da morfina é consumida por 17% da população do planeta e se concentra nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa Ocidental e na Austrália (Miguel Medina/AFP)

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Da Redação

Publicado em 3 de março de 2015 às 14h19.

Viena - A ONU alertou nesta terça-feira que cerca de 5,5 bilhões de pessoas têm pouco ou nenhum acesso a analgésicos opioides, como morfina e codeína, usados para atenuar a intensidade das dores de doenças como o câncer.

Esse número significa que "três quartos do mundo têm pouco ou nenhum acesso a tratamentos paliativos da dor" para doenças graves, terminais ou crônicas, denunciou a Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife) em seu relatório de 2014, divulgado nesta terça-feira em Viena.

Como contraste, 92% da morfina é consumida por 17% da população do planeta e se concentra nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa Ocidental e na Austrália.

A Jife é o órgão da ONU encarregado de velar pelo cumprimento dos tratados internacionais sobre drogas, que não só proíbem certos narcóticos, mas também pretendem garantir o acesso para fins médicos a substâncias sob controle, como a morfina.

"Este problema se agravou devido a desastres naturais e conflitos armados, que aumentaram a necessidade de substâncias fiscalizadas para tratar de feridos e doentes", destaca no documento o presidente da Jife, o sul-africano Lochan Naidoo.

O uso reduzido destses analgésicos para o tratamento da dor em muitos países se deve a um acúmulo de fatores, segundo os especialistas da Jife. Entre esses fatores estão a regulamentação inadequada, pouca capacitação dos profissionais de saúde, preconceitos culturais, fatores econômicos e a falta de acesso a esses remédios.

Sobre a situação das drogas no mundo, a Jife pede para que os países lutem contra os "aspectos socioeconômicos" que estimulam o consumo e o tráfico de drogas. Entre esses aspectos estão a pobreza, a desigualdade econômica, a exclusão social, a falta de perspectivas de emprego e a exposição à violência, entre outros fatores.

Quanto aos aspectos regionais, a oferta de cocaína continua a diminuir na América do Sul, em linha com a tendência à queda da superfície cultivada de folha de coca. No entanto, há diferenças por países, já que o cultivo diminuiu no Peru e na Bolívia em 2013.

Não houve mudanças na Colômbia. O país fechou 2013 com uma estimativa de 48 mil hectares de coca cultivados, a mesma quantidade que em 2012, mas muito longe dos 140 mil hectares semeados contabilizados em 2001.

O Peru tem atualmente a maior extensão de folha de coca, com 49,8 mil hectares cultivados, frente aos 60,4 mil de 2012. A Bolívia, com 23 mil hectares, reduziu em 2.300 o número do ano anterior.

A Junta afirma que a cocaína é a droga mais consumida pelos que recebem tratamento de reabilitação na América do Sul e considera "preocupante" o uso de diversas variedades de cocaína fumada, como o crack.

O relatório lembra que a América Central não continua apenas sendo a principal rota de passagem da cocaína rumo aos EUA, o que gera violência e corrupção pelo caminho. A região observa um aumento da produção e do consumo de substâncias proibidas.

Os altos lucros resultados do tráfico de cocaína provocam uma feroz concorrência entre quadrilhas e provocou o aumento da violência na região.

"As zonas mais preocupantes em relação à violência são no litoral de Honduras, em ambos os lados da fronteira entre Guatemala e Honduras, e na Guatemala, ao longo das fronteiras com Belize e México", detalha a Junta.

Em geral, na América do Norte (México, Estados Unidos e Canadá) as apreensões de cocaína caíram 44% entre 2007 e 2012, até chegar a 109 toneladas.

Apesar da diminuição do consumo de drogas registrada nos últimos anos, a América do Norte tem a maior taxa de mortalidade do mundo por esse motivo, situada em 142,1 mortos por milhão de pessoas com idades entre 15 e os 64 anos.

"Nos Estados Unidos, as mortes por overdose de drogas, relacionadas sobretudo a opioides de venda com receita médica, superam atualmente as mortes por homicídio e acidentes de trânsito", afirma a Jife, que não divulgou mais detalhes.

Outra tendência preocupante é o crescimento do consumo de heroína nos EUA, que fica mais fácil de ser obtida e é mais barata que os opioides com receita médica, assinala o relatório.

A Jife ressaltou também sua "preocupação" com a legalização da maconha em vários estados dos EUA e no Uruguai, um passo que, segundo a entidade, vai contra os tratados internacionais, que não contemplam o uso recreativos da substância.

Na Europa, a Junta enfatiza como um perigo para a saúde pública a proliferação das "novas substâncias psicoativas", algumas vendidas inclusive de forma legal porque seus componentes químicos não estão proibidos.

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