Bombardeio de Israel na Faixa de Gaza no dia 17 de novembro d 2012 (Getty Images / Scott Olson)
Da Redação
Publicado em 19 de novembro de 2012 às 20h46.
São Paulo - Novos ataques aéreos de Israel contra regiões da superpovoada Faixa de Gaza elevaram a 109 o número de palestinos mortos nos bombardeios dos últimos dias, informaram autoridades locais nesta segunda-feira. Um integrante do alto escalão da Jihad Islâmica morreu num bombardeio a um centro de mídia na Cidade de Gaza, mas a maior parte das vítimas dos ataques israelenses é civil.
Israel intensificou os bombardeios durante o fim de semana e passou a atacar casas de líderes do Hamas, agremiação que governa a Faixa de Gaza. Com isso, 24 civis morreram em apenas dois dias, disse um funcionário da secretaria de saúde de Gaza.
A intensificação dos bombardeios israelenses ocorre em um momento no qual o Egito tenta mediar um cessar-fogo entre Israel e o Hamas. Os dois lados se dizem "abertos" a uma solução diplomática, mas os mediadores ainda não conseguiram conciliar as exigências das partes em conflito.
Até agora, em seis dias de violência, 109 palestinos e três israelenses morreram. Dos mais de cem palestinos mortos, 56 eram civis. Os três israelenses mortos eram civis atingidos por um foguete disparado de Gaza em direção a Tel-Aviv.
Os bombardeios israelenses a Gaza também feriram 840 pessoas, inclusive 225 crianças, segundo Ashraf al-Kidra, da secretaria de saúde de Gaza. Já os disparos de foguetes por militantes palestinos feriram dezenas de pessoas.
Em um dos episódios de violência ocorridos hoje, Israel bombardeou o prédio onde funciona o centro de imprensa em Gaza. O ataque matou Ramez Harb, um integrante do alto escalão das Brigadas Al-Quds, braço armado da Jihad Islâmica. Um civil que estava no local no momento do bombardeio também morreu. Segundo jornalistas que trabalham no local, o prédio foi bombardeado hoje pelo segundo dia seguido.
Cessar-fogo - No início da noite, pelo horário local, o gabinete de governo israelense reuniu-se para discutir uma proposta egípcia de cessar-fogo em Gaza, informou a rádio pública de Israel. Não há detalhes sobre a proposta feita pelo Egito, que resultou de um dia de negociações indiretas entre representantes israelenses e palestinos no Cairo.
Os esforços egípcios, no entanto, encontram resistência em ambos os lados. Um líder do Hamas disse que o grupo islâmico rejeita a exigência israelense de interrupção dos disparos de foguetes.
Khaled Meshal, um líder histórico do Hamas, disse no Cairo que o grupo "não aceita a condição porque Israel é o agressor", mas afirmou que um cessar-fogo será aceito se suas reivindicações de fim do bloqueio forem atendidas.
No lado israelense, uma fonte no governo manifestou preferência pela via diplomática. "Mas se virmos que as negociações não vão gerar frutos, podemos realizar uma nova escalada", declarou.
Em meios às gestões egípcias, a União Europeia (UE) prepara-se para exigir um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, segundo rascunho da declaração ao qual o Wall Street Journal teve acesso. Ao conclamar as partes a um cessar-fogo, a UE criticará os disparos de foguetes contra Israel e exigirá do Estado judeu uma reação "proporcional" aos ataques. O rascunho da declaração saiu de uma reunião entre ministro das Relações Exteriores dos 27 países que integram a UE ocorrida hoje em Bruxelas. Segundo o rascunho, a UE manifesta "grave preocupação com a situação em Gaza e Israel" e "lamenta profundamente a perda de vidas civis nos dois lados".
Enquanto isso, a Casa Branca divulgou nota informando que Obama telefonou hoje para o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e para o presidente do Egito, Mohammed Morsi, para discutir a onda de violência no Oriente Médio. Segundo a Casa Branca, Obama enfatizou a Morsi a "necessidade" de interrupção dos disparos de foguetes contra Israel. Na conversa com Netanyahu, Obama recebeu uma "atualização" da situação em Gaza e em Israel. A nota não menciona nenhuma cobrança em relação ao fim dos bombardeios israelenses. Obama telefonou para Morsi e para Netanyahu durante visita de Estado ao Camboja. As informações são da Dow Jones e da Associated Press.
Também nesta segunda-feira, o embaixador da Rússia na Organização das Nações Unidas (ONU), Vitaly Churkin, criticou nesta segunda-feira o silêncio do Conselho de Segurança (CS) da entidade sobre a violência entre israelenses e palestinos em Gaza. Churkin disse que a delegação do Marrocos na ONU circulou um comunicado na última quinta-feira sobre o assunto, mas a posição de "um membro" do CS da ONU impede que o assunto vá adiante. As declarações do CS da ONU precisam de aprovação unânime de seus 15 membros.
Ele não mencionou nominalmente o país que vem emperrando a divulgação de um comunicado do CS da ONU sobre o assunto, mas disse que o atraso é proposital e que qualquer "conhecedor" dos trâmites no organismo sabe de quem se trata. O mais provável é que Churkin esteja se referindo aos Estados Unidos. O país é o principal aliado externo de Israel e costuma vetar declarações e resoluções que contrariem interesses do Estado judeu.
Ainda segundo o diplomata, a Rússia pretende apresentar uma proposta de resolução exigindo que israelenses e palestinos se engajem em um cessar-fogo e retomem as negociações de paz.
Terrorismo de Estado - Em Istambul, o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, chamou Israel de "Estado terrorista" por sua atual ofensiva contra a sitiada Faixa de Gaza.
Falando após regressar do Cairo, onde participou de conversas com o presidente do Egito, Mohammed Morsi, Erdogan também criticou os países ocidentais por não serem capazes de agir para dar fim à guerra na Síria.
"Aqueles que associam os muçulmanos ao terror deixam de enxergar quando os muçulmanos são massacrados em massa", disse Erdogan.
"Aqueles que deixam de ver a discriminação contra muçulmanos em seus próprios países também ignoram o massacre de crianças inocentes em Gaza. É por isso que eu digo que Israel é um Estado terrorista."
Os comentários de Erdogan foram feitos um dia depois de congressistas dos Estados Unidos terem conclamado os governos de Turquia e Egito a ajudarem a mediar o conflito no Oriente Médio. As informações são da Dow Jones e da Associated Press.