Petróleo: nesta segunda-feira, contrato de maio teve variação negativa pela primeira vez na história (Nick Oxford/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de abril de 2020 às 12h21.
Naquele que parece ser mais um dia de quedas nas cotações de petróleo pelo mundo, o óleo mineral amplia nesta terça-feira (21) as perdas diante da forte crise que golpeia o setor, repercutindo pânico com recuos na demanda e possibilidade de estoques lotados nos Estados Unidos.
Às 10h28, no horário de Brasília, o contrato do petróleo WTI para junho, o mais líquido negociados nos Estados Unidos, tombava 28,44%, sendo comercializado a US$ 14,65, o barril. Em Londres, os contratos de petróleo Brent para o mesmo mês despencavam 22,45%, negociado a US$ 19,86, o barril.
Já o contrato do WTI para maio, que ontem protagonizou a inusitada queda de 305,9% na Bolsa de Nova York, expira nesta terça-feira e sobe 96,07%, mas segue no território negativo, em -US$ 1,48 o barril.
Nesta segunda-feira, pela primeira vez na história, o preço do petróleo negociado nos Estados Unidos fechou com valor negativo, refletindo a forte contração da atividade econômica e o excesso de estoques do produto provocado pela pandemia do novo coronavírus.
Os contratos para entrega em maio do óleo tipo WTI - referência no mercado americano - desabaram ontem 305,9% na Bolsa de Nova York e fecharam cotados a US$ 37,63 negativos.
Ainda na Bolsa, os contratos para junho foram negociados a cerca de US$ 20 o barril, o que representou uma queda de 18,40%. Já o óleo Brent, em Londres, também para entrega em junho, encerrou o dia em baixa de 8,94%, a US$ 25,57 o barril.
No mercado futuro, o investidor coloca dinheiro em títulos de empresas petroleiras com a garantia de que, em poucos meses, vai poder receber o petróleo pelo qual pagou. Se a commodity estiver em alta, esse investidor pode revender o título a terceiros a um valor mais alto do que pagou inicialmente por ele.
Ontem, porém, os investidores não só não acharam novos interessados pelos papéis como também preferiram morrer com o título na mão, em vez de resgatar o petróleo pelo qual teriam direito. Do contrário, precisariam arcar com prejuízo ainda maior por conta do custo extra de armazenamento.
Para Edmar Almeira, professor do Instituto de Economia da UFRJ e pesquisador do Instituto de Energia da PUC (Iepuc), o mercado futuro deve conviver por mais quatro meses com a desvalorização da commodity e, até mesmo, com a negociação de novos contratos a preços negativos.
"Os EUA são a vítima da crise que provocaram, ao reduzir os custos de produção e encher o mercado de petróleo, gerando um desequilíbrio entre oferta e demanda", diz ele, acrescentando que a única solução é fechar poços produtores.
A visão do economista e coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo e Gás (Ineep), Rodrigo Leão, é de que a China também contribui com a queda abrupta da cotação do petróleo e que não deve ajudar na recuperação tão cedo. O especialista argumenta que o país asiático aumentou a importação no mês passado para ampliar seu estoque e a expectativa é que não volte às compras no mês que vem.
Além do excesso de estoque, os especialistas dizem que a queda de preços nos EUA também reflete outro fator: a avaliação de que o acordo anunciado há cerca de duas semanas pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) - para cortar a produção em 9,7 milhões de barris por dia - foi insuficiente para elevar os preços da commodity.
Visto inicialmente como positivo, o corte equivale a 10% da oferta global. A própria Opep admite que a demanda pelo produto deve cair em 6,8 milhões de barris por dia até o fim do ano.