Setor imobiliário perde fôlego no 3º trimestre
Lançamentos cresceram 19,2% no terceiro trimestre, mas as vendas líquidas não cresceram na mesma proporção
Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de outubro de 2021 às 09h32.
Última atualização em 23 de outubro de 2021 às 20h31.
Após vários meses consecutivos de alta, o mercado imobiliário abriu o trem de pouso e começou a baixar voo. Os relatórios operacionais preliminares divulgados pelas maiores incorporadoras do País mostram que o setor ampliou os lançamentos no terceiro trimestre, mas as vendas não acompanharam.
Os lançamentos cresceram 19,2% no terceiro trimestre, na comparação com o mesmo período de 2020, chegando a R$ 9,023 bilhões. Mas as vendas líquidas não cresceram na mesma proporção: a alta foi de apenas 1,7%, alcançando R$ 7,090 bilhões.
Os dados representam a soma dos resultados das 14 incorporadoras listadas na Bolsa de Valores que já divulgaram suas prévias operacionais: Cury, Direcional, MRV, Tenda, Plano & Plano, Cyrela, Even, Eztec, Helbor, Lavvi, Melnick, Mitre, Moura Dubeux e RNI.
O mercado de média e alta renda teve desempenho mais fraco do que o segmento popular. Empresas como Cyrela, Even, Eztec e Melnick apresentaram recuo nas vendas, apesar de aumentar os lançamentos. Lavvi e Moura Dubeux tiveram expansão em ambos. No Casa Verde e Amarela, MRV e Tenda tiveram aumento de vendas discreto, enquanto Direcional e Cury registram alta mais forte.
De modo geral, a estagnação das vendas vem da diminuição do poder de compra dos consumidores, que viram os preços dos imóveis na planta subirem para compensar a disparada nos custos dos materiais de construção. Também pesou nas contas a elevação dos juros dos financiamentos imobiliários pelos bancos.
Em setembro, enquanto a Caixa anunciou redução de 0,4 ponto porcentual nos financiamentos atrelados à poupança, os grandes bancos privados aumentaram suas taxas em cerca de 1 ponto nas linhas de crédito tradicionais. Também no mês passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros em 1 ponto, levando a Selic para 6,25% ao ano. Novo aumento deve vir na reunião do colegiado da semana que vem.
"A demanda está marginalmente pior", diz o analista do BTG Pactual Gustavo Cambauva. "As famílias se retraíram porque o affordability (capacidade de pagamento) diminuiu. Quem compra imóvel para investir saiu um pouco desse mercado porque está mais cauteloso com o aumento dos juros."
O levantamento dos dados das empresas também demonstra que a velocidade média de vendas do setor baixou de 25,5% para 20,2% - esse indicador calcula o porcentual das vendas no período diante da oferta total de lançamentos e estoques.
"A velocidade de vendas forte que víamos no passado caiu", afirma Cambauva. "As empresas estavam vendendo até metade dos apartamentos na largada. Isso não é comum."
Analista de mercado imobiliário do Credit Suisse, Daniel Gasparete concorda que a demanda está esfriando e acrescenta outra razão para a menor velocidade de vendas.
"O consumidor está vendo que há bastante oferta. Basta atravessar a rua ou dobrar a esquina para encontrar outro estande", diz. "As incorporadoras lançaram bastante nos últimos meses e aumentaram estoques. A oferta está mais alta, só que a demanda está mais baixa."