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Como funciona a usucapião coletiva em áreas urbanas?

O processo de usucapião coletiva pode ser movido judicialmente por um grupo de moradores

Ao final do processo, caso a usucapião seja concedida, o juiz determinará a regularização da área ocupada (Marcelo Almeida/Site Exame)

Ao final do processo, caso a usucapião seja concedida, o juiz determinará a regularização da área ocupada (Marcelo Almeida/Site Exame)

Publicado em 24 de setembro de 2024 às 11h44.

A usucapião coletiva é um instituto jurídico previsto na legislação brasileira que visa regularizar a posse de imóveis ocupados por várias pessoas em áreas urbanas, promovendo a democratização do acesso à moradia e garantindo direitos a quem, por diversas razões, não possui o título de propriedade do local onde vive. Essa modalidade é particularmente importante em situações de ocupação coletiva de terrenos, como favelas ou assentamentos urbanos informais.

O que é a usucapião coletiva?

A usucapião coletiva foi introduzida no Brasil pelo Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001), e visa a regularização de imóveis ocupados por um grupo de pessoas em área urbana. Trata-se de uma forma de assegurar o direito à moradia para populações de baixa renda que ocupam coletivamente uma área por um longo período, de maneira contínua e pacífica, sem a oposição do proprietário ou do poder público.

Essa modalidade de usucapião é um mecanismo de inclusão social, utilizado principalmente em áreas onde não é possível individualizar a posse de cada ocupante, ou seja, em terrenos ocupados por várias famílias de forma conjunta.

Requisitos para a usucapião coletiva

Para que a usucapião coletiva seja possível, é necessário cumprir alguns requisitos, que são semelhantes aos exigidos em outras modalidades de usucapião, mas com particularidades devido à coletividade da posse:

  1. Posse prolongada e ininterrupta: A posse do imóvel ou terreno deve ter sido exercida de forma contínua e pacífica por, no mínimo, 5 anos. Além disso, essa posse precisa ser exercida de boa-fé, ou seja, os ocupantes devem acreditar que têm o direito de estar naquela área.
  2. Finalidade de moradia: A área ocupada deve ser utilizada para fins de moradia, ou seja, as famílias que vivem no local devem ter transformado o espaço em seu lar, onde realizam suas atividades cotidianas.
  3. Área urbana: A usucapião coletiva se aplica apenas a imóveis ou terrenos localizados em áreas urbanas, excluindo-se áreas rurais.
  4. Impossibilidade de individualização da posse: A usucapião coletiva é utilizada em situações onde não é possível delimitar ou dividir a posse de cada ocupante de forma individual. Em áreas urbanas densamente ocupadas, como favelas ou assentamentos, a divisão da posse seria inviável ou injusta.
  5. Área maior que 250 metros quadrados: A área ocupada coletivamente deve ser maior que 250 metros quadrados. Para áreas menores, pode ser aplicada a usucapião especial urbana individual, que também tem previsão legal no Estatuto da Cidade.
  6. Ocupação por pessoas de baixa renda: A usucapião coletiva é voltada, principalmente, para a regularização de áreas ocupadas por pessoas de baixa renda que não possuem outro imóvel.

Procedimento para a usucapião coletiva

O processo de usucapião coletiva pode ser movido judicialmente por um grupo de moradores que preenchem os requisitos legais. O primeiro passo é reunir a documentação necessária, que incluirá:

  • Documentos pessoais dos ocupantes;
  • Prova de posse contínua e pacífica, como contas de luz, água, IPTU, ou qualquer documento que demonstre o uso e ocupação da área;
  • Planta e memorial descritivo da área ocupada, realizado por profissional habilitado (engenheiro ou arquiteto).

Início do processo

O pedido de usucapião coletiva é feito por meio de uma ação judicial em que os ocupantes da área ou uma associação de moradores solicitam o reconhecimento da posse e a concessão do título de propriedade. Durante o processo, o juiz poderá nomear um perito para verificar a ocupação da área e confirmar se os requisitos estão sendo cumpridos.

Caso o proprietário do imóvel se manifeste durante o processo, ele poderá contestar o pedido de usucapião, mas o ônus de comprovar que a posse dos ocupantes é ilegítima caberá a ele.

Regularização e concessão de título

Ao final do processo, caso a usucapião seja concedida, o juiz determinará a regularização da área ocupada e a concessão do título de propriedade aos ocupantes. Esse título poderá ser compartilhado por todos os ocupantes, já que não é possível individualizar a posse em áreas de usucapião coletiva.

Uma vez expedido o título, ele será registrado no Cartório de Registro de Imóveis, conferindo aos ocupantes a propriedade plena da área, que até então era apenas objeto de posse.

Por que você precisa saber disso

A usucapião coletiva é um importante instrumento de regularização fundiária em áreas urbanas ocupadas por populações de baixa renda. Ela reconhece a posse coletiva de terrenos e garante o direito à moradia de famílias que, muitas vezes, vivem em situação de informalidade há anos. Ao seguir os trâmites legais e comprovar os requisitos exigidos, é possível obter o título de propriedade e, com isso, trazer mais segurança jurídica e dignidade às famílias envolvidas.

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