Saída forçada
Com volumes de vendas cada vez menores, o negócio de importação de carros interessa a poucos
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h55.
No dia 2 de maio, a sede da Abeiva, a associação que reúne os importadores independentes de automóveis, localizada em São Paulo, mudou pela quarta vez de endereço desde a sua criação, em 1991. Dessa vez, ao contrário das três primeiras, a mudança foi para um escritório menor e teve o objetivo de reduzir custos. A Abeiva tem hoje apenas sete empresas associadas. Em meados dos anos 90, contava com 30. Dez empresas deixaram a associação por um bom motivo: resolveram investir no Brasil e montaram fábri cas. As demais, não. Elas saíram do mercado brasileiro devido à queda nas vendas causada pela pasmaceira da economia e pela alta do dólar. A última a se retirar foi a japonesa Suzuki, que em março deste ano anunciou que não venderia mais seus carros no Brasil.
No ano passado, as associadas da Abeiva tiveram o pior desempenho desde a abertura do mercado brasileiro há pouco mais de uma década. Venderam apenas 8 600 veículos -- enquanto em 1995 o volume chegou a quase 120 000. Neste ano, as vendas, na melhor das hipóteses, ficarão em 6 000 unidades. O mercado de importados está reduzido a nichos bem específicos, como os carros de alto luxo. "Esse mercado é pequeno mas não pára", diz Pedro Caltabiano, concessionário com duas lojas Chrysler em São Paulo. Ele afirma vender por mês cerca de 15 jipes Cherokee, na faixa de 180 000 reais, e dez peruas Grand Caravan, cujo preço com blindagem pode alcançar 300 000 reais.
Com volumes de vendas diminutos, a rede de distribuição das importadoras, que já foi de 660 concessionárias em 1997, está atualmente em 123. A saída da Suzuki, cujas 25 revendas ainda não foram fechadas, puxará o número mais para baixo. "As empresas que importam em euros, como nós, estão sendo ainda mais castigadas", diz André Müller Carioba, presidente da Abeiva e presidente da BMW no Brasil. A BMW viu sua rede ser diminuída de 30 para 17 concessionárias nos últimos cinco anos. De um ano para cá, a valorização do euro em relação ao dólar foi próxima de 30%. Resultado: segundo Carioba, todas as associadas da Abeiva estão operando abaixo do ponto de equilíbrio, ou seja, estão perdendo dinheiro. "Poucas das importadoras que restaram agüentarão a situação por muito tempo", diz ele.
"O consumidor brasileiro perde com o nosso enfraquecimento", afirma Carioba. Como? Com a saída dos importados, o desenvolvimento da indústria automobilística brasileira estaria deixando de ter uma base de comparação. "Ninguém garante que dentro de dez anos as montadoras não voltarão a produzir carroças", diz.