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Netflix completa 9 meses com dificuldades no Brasil

América Latina é vista como peculiar para a empresa, que ainda esbarra em questões culturais e de infraestrutura para alavancar o serviço de streaming no país

A Netflix está presente hoje em 47 países e soma mais de 26 milhões de clientes (Gareth Cattermole/Getty Images)

A Netflix está presente hoje em 47 países e soma mais de 26 milhões de clientes (Gareth Cattermole/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 16 de maio de 2012 às 12h03.

Rio de Janeiro - Há quase nove meses, a norte-americana Netflix passou a disponibilizar no Brasil seus serviços de streaming. O que parecia natural nos Estados Unidos e no Canadá se tornou um desafio na América Latina por diversos fatores culturais e estruturais, entre eles a baixa qualidade de conexão com a internet, pouco uso de cartões de crédito e o fato de o brasileiro ainda não ter adquirido como hábito pagar para obter conteúdo na web.

A Netflix está presente hoje em 47 países e soma mais de 26 milhões de clientes. Seu faturamento trimestral é de cerca de US$ 900 milhões. No Brasil, os serviços começaram a ser disponibilizados em julho de 2011, mas a empresa ainda encontra dificuldades de penetração e considera o mercado da América Latina muito peculiar.

“Passamos um longo período escutando os consumidores e adaptando a Netflix para atender aos pedidos deles da melhor forma possível. Serviços de streaming são novos no Brasil e, por isso, ainda vai levar um tempo até que consigamos convencer as pessoas de como eles são fáceis e seguros de usar”, explica Joris Evers, Diretor de Comunicação Corporativa Global da Netflix.

Mudança de comportamento

Um dos principais obstáculos, no entanto, tende a desaparecer com o tempo. Apesar do público brasileiro ainda não estar habituado a pagar por material vindo da internet, a popularidade dos tablets, smartphones e Smart TVs deve, aos poucos, mostrar ao consumidor que vale a pena investir em conteúdo digital.


“Não existe ainda uma predisposição cultural do brasileiro a pagar por este tipo de serviço, mas isso varia muito de mídia para mídia. O brasileiro que usa tablet está mais disposto a pagar pela propriedade intelectual do que o que usa a internet aberta por uma questão de educação prévia”, comenta Fernando de La Riva, especialista em negócios digitais.

A barreira tecnológica é outro problema enfrentado pela Netflix no Brasil. O país conta com uma internet de baixa qualidade, o que impede uma melhor colocação da companhia no mercado nacional. De acordo com um levantamento do Ibope, 45% das pessoas acessam a internet com velocidades entre 512 Kbs e 2 Mbits. Apenas 10% dos usuários ativos se conectam acima de 8 Mb, enquanto 4% ainda têm conexões de até 128 Kb.

Barreira tecnológica

Em áreas onde a banda larga é pobre ou inexistente, além da pirataria, o serviço de locação de DVD é o campeão. Ao contrário de concorrentes online como a Netmovies e Blockbuster, a Netflix oferece apenas o serviço de streaming e não trabalha com a entrega e coleta de DVDs físicos nas residências dos consumidores.

“Para o mercado atual, um player que trabalhe com distribuição de conteúdo desse tipo teria ainda que ser capaz de fazer entrega de logística física e ir transicionando para um modelo mais definitivo de entrega de conteúdo em rede”, acredita de La Riva.

Outro ponto no qual esbarra a Netflix é a pouca utilização dos cartões de crédito e o fato de muitos bancos ainda considerarem transações de e-commerce como passíveis de fraude. Para tentar contornar a situação, a empresa vem estudando novas formas de pagamento para atender o consumidor brasileiro.


“Estamos considerando novas opções de pagamento, já que descobrimos que nem todos os assinantes no Brasil preferem efetuar a compra no cartão de crédito”, afirma o executivo da Netflix.

Adaptação ao mercado nacional

A própria Netflix considera que algumas estratégias de adaptação ao público não foram bem-sucedidas. Uma delas foi a adequação do conteúdo. Inicialmente, os filmes e séries do catálogo eram oferecidos em versão dublada. A iniciativa não foi bem aceita. Depois de consultar os usuários do serviço, a companhia percebeu que as versões com áudio original são as preferidas e, hoje, quase 100% do conteúdo, com exceção do infantil, é legendado.

“O Brasil tem um mercado bem diferente dos Estados Unidos e aprendemos cada dia mais. Como estamos crescendo no país, procuramos promover a adaptação do conteúdo para satisfazer o gosto dos brasileiros”, ressalta Evers.

Se por um lado as barreiras culturais e de infraestrutura emperram o avanço dos serviços de streaming no Brasil, por outro, o que se observa é um início de mudança na forma de pensar da população, que passa a aceitar com maior facilidade a obtenção de produtos intangíveis. Especialistas atribuem o fato à própria tecnologia, que trouxe para o Brasil os iPhones, iPads e smartphones com sistema operacional Android.

“A App Store e os equipamentos Android, que disponibilizam aplicativos e jogos, vêm ajudando a mudar essa consciência. Tudo isso tende a tornar o brasileiro mais predisposto a pagar. É uma mudança também madura da indústria, que para de ficar em uma posição de questionar o velho modelo e passa a abraçar a mudança”, diz o especialista em negócios digitais.

Continuar investindo no Brasil é um dos principais planos da Netflix, que considera o país, ao lado do México, como um mercado importante. Para os próximos meses, o objetivo é continuar adicionando conteúdo, incluindo filmes recentes, como o último vencedor do Oscar de Melhor Filme, O Artista.

A empresa também disponibiliza mais filmes locais no catálogo, além de documentários, comédias stand-up e programas clássicos esportivos. No início de 2012, por exemplo, foi incluída a seção Só para Crianças, dedicada a menores de 12 anos com programas da Disney e Nickelodeon.

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