Empresas adaptam produtos para terceira idade
CVC, Tecnisa e Maturi querem conquistar os brasileiros que vivem mais e com qualidade de vida
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.
Rio de Janeiro - Os brasileiros estão vivendo mais e impondo novos desafios às empresas que precisam se adaptar a essa realidade. Em 2008, a média de vida no Brasil era de 72,8 anos. Em 2020 deve chegar a 76,1, e, em 2050, a 81,3, segundo dados do IBGE. Apartamentos alterados, celulares e cosméticos voltados para o público sênior mostram que este segmento começa a entrar na estratégia das companhias.
Os consumidores mais velhos também estão com mais dinheiro. A faixa etária representa 43% da classe de renda mais alta (acima de dez salários mínimos) e indica que a tendência é que o país envelheça melhor. Em 2005, apenas 17% dos brasileiros tinham mais de 50 anos e a expectativa é que o número chegue a 29% até 2025.
"O Brasil está prestes a passar pelo que chamamos de bônus demográfico, quando a massa de população economicamente ativa é maior do que a de crianças e idosos. Até 2035, cada vez mais crescerá o número de idosos, enquanto a taxa de fecundidade continuará caindo. É importante que as empresas estejam atentas para atender esse consumidor", aponta Paulo Carramenha, diretor presidente da GFK CR Brasil, em entrevista.
Imóveis com características especiais
A Tecnisa percebeu a oportunidade de investir em produtos focados nesse consumidor. Desde 2008, a construtora vem estudando as necessidades dessas pessoas e apresenta agora o seu primeiro empreendimento com características que atendem à chamada "melhor idade".
"Há dois anos lançamos um empreendimento e vimos que 15% dos compradores estavam na faixa etária acima de 55 anos. Como não tínhamos grandes preocupações voltadas para este público, contratamos uma empresa de gerontologia com profissionais que fizeram um relatório com erros e acertos", explica Patrícia Valadares, gerente de projetos da Tecnisa, em entrevista.
Apesar de não ser específico para a terceira idade, o Bossa Nova, localizado em Santos, litoral paulista, é resultado de um trabalho de pesquisa que identificou pequenos detalhes que poderiam fazer a diferença na vida destes moradores. As áreas comuns lembram a de qualquer outro empreendimento, mas sofreram mudanças que garantem mais qualidade de vida, segurança e conforto.
Projeto baseado na inclusão
O trabalho envolveu desde o mobiliário até a escada da piscina, passando pelo piso e pela decoração do salão de festa, que não contam apenas com a imagem de crianças e jovens, mas trazem também a de idosos. Todo o processo foi baseado na inclusão. "Percebemos a nova formatação social e que a terceira idade é um nicho de mercado. Essas pessoas estão consumindo com qualidade. Compram imóveis porque casaram de novo, ou porque os filhos saíram de casa e querem um apartamento menor", ressalta Patrícia.
O interior dos apartamentos também não foi alterado, mas, para aqueles que quiserem adaptá-lo, a Tecnisa oferece a consultoria de profissionais e o trabalho de reforma a preço de custo. Lançado há menos de um mês, o Bossa Nova já está 40% vendido, totalizando 79 unidades. Em 2011, a construtora espera lançar o Araribá, segundo projeto com características para a terceira idade.
Pensando na inclusão dos idosos, a ZTE, fabricante chinesa de equipamentos de telecomunicações, também vislumbrou uma oportunidade. A empresa lança no Rio de Janeiro o seu primeiro celular desenvolvido para a terceira idade, o S302. Disponível nas lojas da rede VIP, com preço sugerido de R$ 169,00, o aparelho tem teclas grandes e bem iluminadas, além de funções simplificadas com fácil acesso ao rádio FM, bateria com duração de até dez dias e lanterna LED.
Beleza na terceira idade
Outro diferencial do S302 é a tecla SOS. O botão foi acoplado na parte de trás do telefone para ser utilizado em caso de emergência. Quando o usuário aperta a tecla durante três segundos, o aparelho liga automaticamente para até quatro números pré-cadastrados, um por um, até que um deles atenda. Quando um dos números atende, o viva-voz começa a funcionar automaticamente e a função também envia uma mensagem de texto para todos os quatro números pré-definidos.
"O modelo não é específico para o Brasil, mas desenvolvido para o mercado mundial, com foco em regiões onde a população está envelhecendo, como a Europa. Aqui também observamos uma oportunidade para este mercado e, em breve, o produto estará disponível em São Paulo", explica Bernardo Weisz, Diretor de Terminais da ZTE no Brasil, em entrevista.
A Maturi não só enxergou o potencial da terceira idade, como foi além. A marca de cosméticos nasceu para atender as necessidades e os desejos destes consumidores. "Nossos produtos focam pessoas com pele madura, o que começa a ser observado aos 40 anos. Não propomos rejuvenescimento, mas oferecemos soluções para quem busca qualidade e saúde para a pele e os cabelos", aponta Flávio Rijo, diretor geral da Maturi.
Maturi quer expandir marca
A linha com sete itens, entre shampoo, condicionador e hidratante, foi lançada em outubro do ano passado e está presente em 150 pontos-de-venda de São Paulo e do Rio de Janeiro, além da loja virtual que entrega em todo o Brasil. Agora, a Maturi chega ao Rio Grande do Sul e já pensa em expansão de marca, com o lançamento de produtos de vestuário e alimentação funcional para o ano que vem.
Até o fim de 2011 serão lançados outros 10 produtos da linha de cosméticos, cinco no primeiro semestre e outros cinco no segundo. A estratégia de marketing da Maturi contempla principalmente a informação e o esclarecimento sobre os benefícios da marca. Para isso, a empresa conta com promotoras treinadas no ponto-de-venda e se preocupa em não isolar os produtos, que ficam sempre juntos dos demais nas gôndolas.
"Não queremos segregar e rotular a marca. Buscamos credibilidade e confiança. Não nos preocupamos apenas com o conteúdo, mas também com a usabilidade dos produtos. A embalagem tem uma pegada mais fácil, mesmo molhada não escorrega, e traz somente as informações essenciais, com fontes maiores para facilitar a leitura", ressalta Rijo.
Renda deve chegar a R$ 25 bi até 2020
A expansão deste mercado é favorável ainda para empresas que não atendem apenas os consumidores seniores. Hoje, a CVC conta com 750 mil clientes com mais de 50 anos. A expectativa é que em 2011 esse número chegue a 1,4 milhão. Somente em 2009, a operadora embarcou mais de 91 mil passageiros acima dos 60 anos, em viagens nacionais e internacionais, respondendo por aproximadamente 20% das vendas totais.
Uma das opções preferidas da terceira idade são os cruzeiros marítimos, que correspondem a 60% dos pacotes comercializados para estes consumidores. De acordo com a operadora, o estilo de comportamento faz com que os clientes mais velhos sejam bons planejadores de viagens, fechando a compra do pacote com bastante antecedência e viajando com mais frequência, pelo menos uma vez ao ano.
A expansão do orçamento dos idosos, aliada à qualidade de vida cada vez mais presente, mostra a importância desse público no mercado de consumo. "Em 2006, o rendimento desse grupo era de R$ 16 bilhões ao ano e deve chegar a R$ 25 bilhões até 2020, um crescimento de 56%. Quanto mais dinheiro, mais os brasileiros chegarão à terceira idade com poder de compra. Na Fiat, por exemplo, 12% dos compradores têm mais de 50 anos e a previsão é que, em 2030, sejam 20%", diz Carramenha.
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