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A busca pela excelência: entre referências e descobertas

Ao nos libertarmos das restrições impostas pelos definidos como “melhores”, podemos explorar a riqueza da diversidade e inovação que o mundo tem a oferecer

Avaliações de usuários se tornaram referência num mundo conectado (Carol Yepes/Getty Images)
Taiza Krueder

CEO do Grupo Clara Resorts

Publicado em 30 de outubro de 2023 às 17h14.

A busca pela excelência permeia cada aspecto da nossa vida, moldando desde escolhas do dia a dia até a seleção de destinos de viagem. Vivemos em uma era em que a informação está ao alcance dos nossos dedos, e, naturalmente, queremos fazer as escolhas certas. Este desejo de acertar, de ter a melhor experiência possível, é profundamente enraizado no nosso medo de errar e no desejo de otimizar nosso precioso tempo.

Antigamente, contávamos com menos ferramentas, como o Guia Quatro Rodas, ou apenas procurávamos os hotéis pelo custo-benefício, número de estrelas e valores. Atualmente, um novo fenômeno turístico emergiu: viajar para hotéis premiados, restaurantes com estrelas Michelin ou lugares recomendados por influenciadores.

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Este comportamento não é apenas uma tendência, mas uma busca pela garantia de uma experiência inesquecível. É a “síndrome do cardume” - em que desejamos algo exclusivo, mas, ainda assim, procuramos validação em índices e guias que testam, aprovam e recomendam.

Um estudo do “Think with Google” sobre as influências dos consumidores nas escolhas que fazem na internet analisou o comportamento dos 152 milhões de usuários brasileiros na hora de comparar qualidade, valor, eficiência de produtos, marcas e serviços antes de tomar a decisão de compra. Entre os seis principais vieses cognitivos, também conhecidos como atalhos mentais, estão a Confirmação Social, por meio de recomendações e comentários de outros usuários, e o Viés de Autoridade, quando são convencidos por um especialista ou  uma fonte confiável.

Por que essa tendência é tão prevalente em nossa sociedade moderna? Em parte, é devido ao medo de tomar decisões erradas. As pessoas buscam validação em guias conhecidos para evitar decepções. Para livros, por exemplo, a consulta é na lista de mais vendidos da Amazon ou no aplicativo GoodReader; os restaurantes são no Guia Michelin ou nas listas dos melhores do mundo; para vinhos, o parâmetro é a escala Robert Parker; para hotéis, atualmente, o TripAdvisor e a revista Conde Nast Traveller são as maiores referências e, nos filmes, somos guiados pelos críticos do Oscar. Buscamos sempre a excelência. Queremos nos assegurar de que estamos investindo nosso dinheiro e tempo em algo que valha a pena.

Os prêmios e recomendações são, sim, muito importantes. São um porto seguro para quando precisamos fazer escolhas (quase) garantidas. Sempre me lembro de quando fomos premiados pela primeira vez, da emoção e do orgulho de toda a equipe dos resorts por ter o nosso trabalho reconhecido. É importante, traz credibilidade e a responsabilidade de mantermos a excelência.

O advento das redes sociais tem contribuído para mudar essa dinâmica. As plataformas digitais permitiram que os usuários compartilhassem suas experiências em tempo real, fornecendo uma visão autêntica e imediata. No entanto, essa democratização também trouxe desafios, como a proliferação de avaliações fraudulentas. Apesar disso, essas plataformas continuam a dar visibilidade àqueles que, genuinamente, merecem esse reconhecimento.

Os influenciadores desempenham um papel crucial nesse cenário. A geração mais jovem, como minha filha de 21 anos, descobre novos lugares e experiências através do TikTok. Os vídeos que ela assiste mostram “a alma” por trás de uma avaliação criteriosa. Estes microinfluenciadores proporcionam uma perspectiva autêntica, por vezes descobrem joias escondidas dos guias tradicionais e trazem o sabor dos moradores locais. Na nossa última viagem, ela nos levou a shows e pequenos bistrôs que jamais teríamos ido.

Por isso, acredito que precisamos estar abertos a fazer algo fora dos guias: experimentar, errar e acertar. É importante testar por conta própria. Caso contrário, ficamos “pasteurizados”: todos visitam os mesmos lugares, tiram as mesmas fotos, provam os mesmos pratos. Temos que nos arriscar para ter vivências novas e emocionantes.

Ao nos libertarmos das restrições impostas pelos definidos como “melhores”, podemos explorar a riqueza da diversidade e inovação que o mundo tem a oferecer. A busca pela excelência deve ser equilibrada com uma disposição para aventuras, permitindo-nos criar nossas próprias histórias e memórias. Então, que possamos brindar não apenas aos “best-sellers”, mas também às inúmeras possibilidades que o novo e o desconhecido nos oferecem.

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