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O melhor do rali de fim de ano da bolsa brasileira já acabou, diz estrategista do J.P. Morgan

Emy Shayo Cherman prevê entrada de estrangeiros no início do próximo ano e afirma: "o Brasil é quase Miss Universo dos emergentes"

Emy Shayo Cherman, estrategista de ações paraa América Latina do J.P. Morgan: "Janeiro é um mês em que entra muito capital estrangeiro. O grande rali de novembro já aconteceu" (Leandro Fonseca/Exame)

Emy Shayo Cherman, estrategista de ações paraa América Latina do J.P. Morgan: "Janeiro é um mês em que entra muito capital estrangeiro. O grande rali de novembro já aconteceu" (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 23 de novembro de 2023 às 15h56.

Última atualização em 23 de novembro de 2023 às 18h08.

O Ibovespa subiu mais em novembro do que em todo os outros meses juntos. No mês, a alta acumulada do principal índice da B3 está próxima de 12%. Até o fim de outubro, o índice havia avançado apenas 3,37%. Apesar do movimento positivo, Emy Shayo Cherman, estrategista de ações para a América Latina do J.P. Morgan, acredita que o melhor deste já passou na bolsa brasileira.

"Acho que já vimos o melhor do rali de fim de ano. É possível que agora tenhamos algum respiro. O fim de ano tende a ser mais calmo nos mercados", afirmou em conversa com jornalistas em evento realizado nesta quinta-feira, 23, pela Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi).

O próximo rali da bolsa brasileira, prevê, deverá ficar para o início do próximo ano. "Janeiro é um mês em que entra muito capital estrangeiro. O grande rali de novembro já aconteceu."

Cherman se classifica como otimista com o futuro do mercado de ações local. Em sua visão, a bolsa brasileira está e muito barata.

"Miss Universo dos emergentes"

Única representante de uma instituição internacional a participar da 18ª edição do SIAC, da Acrefi, Cherman foi na contramão da visão consensual ao afirmar que há grandes oportunidades de investimento na bolsa brasileira.

"O Brasil é quase a Miss Universo dos mercados emergentes", afirmou. A China está desacelerando, justificou, a Índia está cara e o México não deve ser tão beneficiado pelo nearshoring como imaginam os investidores.

Tudo isso, disse, em um momento em que os fluxos globais de investimentos deverão se voltar para os países emergentes.

A alocação de investimentos globais se concentraram nos últimos 10 anos nos Estados Unidos, explicou, levando a uma exposição de apenas 6% a mercados emergentes. O patamar, disse Cherman, está muito abaixo de uma exposição neutra, que seria de 11%.

O que impulsionou essa concentração dos recursos nas bolsas americanas, segundo a estrategista, foi baixo patamar dos juros dos Estados Unidos. "Os Estados Unidos sugaram os investimentos do mundo inteiro desde 2013, enquanto os investimentos em emergentes seguiram estagnados."

Mas esse cenário já começou a mudar, disse Cherman. "Não tem mais juro zero nos Estados Unidos.  Isso deverá haver uma diversificação dos investimentos internacionais. A partir daí podemos voltar a sonhar em um fluxo de investimentos para emergentes como foi no boom de commodities. É um movimento que leva tempo, mas há uma disfunção muito grande [nos níveis atuais de alocação]." O juro normalizado nos Estados Unidos, explicou, seria uma taxa entre 2% e 2,5%.

A última pernada da bolsa brasileira ocorreu paralelamente à queda dos rendimentos dos títulos de 10 anos do Tesouro americano, que, em um mês, caiu de 5% para abaixo de 4,5%.

Enquanto déficit fiscal, sustentabilidade da dívida e o futuro do Banco Central sob um novo comando rondam entre as preocupações de investidores locais, Chermam pontua que cerca de 80% da precificação do mercado brasileiro é ditada por fatores internacionais. Um exemplo disso foi o próprio rali de novembro, impulsionado pelo maior apetite ao risco no exterior, a partir da queda dos rendimentos dos títulos americanos.

Resultados em tendência de melhora

Além da parte macroeconômica, a estrategista do J.P. Morgan avalia que que a parte micro também pode jogar a favor da bolsa brasileira. Segundo ela, é provável que os resultados das empresas brasileiras comecem a ganhar tração daqui para frente.

Alguma melhora já foi observada nos resultados do terceiro trimestre, em que as empresas do Ibovespa apresentaram 6% de crescimento de lucro, excluindo os setores de energia e mineração, prejudicado pela queda de commodities.

"Acredito que o fundo do poço dos resultados já tenha sido alcançado. Mas isso deve se consolidar mesmo a partir do ano que vem, com os juros e inflação mais baixos propiciando uma melhora operacional. A base de comparação também ajuda, porque foi muito negativo neste ano", afirmou. Segundo Cherman, o mercado deverá começar a revisar para cima as expectativas de lucro.

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