O FED (Federal Reserve Bank), em português, Sistema de Reserva Federal, é o órgão governamental responsável por regular a economia dos Estados Unidos. (Brendan McDermid/Reuters)
Colunista
Publicado em 9 de setembro de 2024 às 15h00.
Última atualização em 9 de setembro de 2024 às 15h49.
Setembro chegou, nos aproximando do dia D dos juros em 2024: o primeiro corte da taxa Fed Funds pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano). A essa altura, ninguém tem dúvida que o movimento será de corte da taxa, e a dúvida fica apenas na magnitude (se 25 ou 50 pontos).
Paralelamente, paira sobre o mercado, sem consenso, a possibilidade de o Banco Central do Brasil também mexer na Selic. Neste caso, a nossa taxa básica de juros iria na direção oposta: na última terça-feira, 3, a curva de juros embutiu mais de 60% de chance de elevação de 0,5 ponto, ainda que o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, tenha dito que um eventual ajuste na taxa seria gradual.
Como especialistas em investimentos no exterior, a pergunta que mais recebemos neste contexto é: e o dólar? A resposta está intimamente ligada ao conceito de diferencial de juros.
Em resumo, num cenário hipotético em que tudo mais se mantenha constante, o movimento de alta relativa da Selic em relação ao juro americano (com ou sem subida de juros pelo BCB) tende a ser positivo para a moeda brasileira.
Os ativos de renda fixa emitidos pelo tesouro americano, os Treasuries, são considerados o investimento mais seguro do mundo. Eles são a base para a precificação de todos os outros investimentos do planeta: o mercado cobra mais para se expor ao risco de investir em cada ativo, partindo do “zero”, que é, justamente, a taxa de juros americana.
Se a taxa de juros americana cai, a remuneração obtida com segurança diminui. Com isso, uma parte maior dos investidores pode optar por buscar maiores retornos em ativos mais arriscados, o que pode incluir produtos brasileiros. Bônus se a Selic subir, porque aumenta ainda mais o retorno da nossa renda fixa doméstica. Essa demanda maior gera fluxo positivo de dólares para o nosso país, tendendo a valorizar nossa moeda pelo aumento da demanda.
Podemos concluir que o dólar vai cair, então? Infelizmente, não é tão simples. Primeiro porque ambos os bancos centrais estão muito focados em observar os dados futuros de inflação e atividade antes de firmar um ritmo de ajustes dos juros, o que gera incerteza e pode se traduzir em volatilidade. Um desses dados relevantes será o relatório de geração líquida de empregos de agosto, o famoso payroll - justamente o dado que trouxe fortes temores de recessão há cerca de um mês. Números piores que as expectativas podem trazer de volta o sentimento de que os juros deveriam ter sido cortados mais cedo, e podem mudar o balanço de riscos e trazer mais volatilidade.
Em segundo lugar, porque há muito em jogo além do diferencial de juros. Em agosto, o Ibovespa foi muito beneficiado pela projeção de queda das taxas de juros nos EUA. Nossa bolsa teve variação positiva de 7,6% no mês, beneficiada por um fluxo estrangeiro de mais de R$ 9 bilhões. Mesmo assim, o dólar fechou o mês em R$ 5,63, praticamente estável em relação ao fechamento do mês anterior, e isso após duas intervenções do Banco Central no câmbio para diminuir a volatilidade no último pregão do mês.
Entre os fatores a monitorar estão, por exemplo, as eleições americanas, as tensões geopolíticas em algumas regiões do mundo, a possibilidade ainda não totalmente descartada de recessão nos EUA e a dívida pública (tanto brasileira quanto americana), para citar só alguns. Por isso, para os brasileiros, continua sendo importante manter uma parcela dos seus investimentos dolarizados de forma estrutural, como uma proteção contra a volatilidade da nossa própria moeda.