Há oportunidades nos títulos prefixados curtos em função do prêmio existente na curva em 2023 e 2024 (Getty Images/Getty Images)
Marília Almeida
Publicado em 4 de maio de 2022 às 06h00.
Última atualização em 12 de maio de 2022 às 16h33.
A continuidade da guerra na Ucrânia e da política contra a covid na China pioram problemas nas cadeias globais de produção e pressionam o preço de commodities. Como resultado, tornam o cenário global para o combate da inflação mais desafiador.
Contudo, ainda que essas duas incógnitas tenham elevado incertezas sobre as projeções para a Selic nas últimas semanas, a maior probabilidade dentre os cenários dos economistas ouvidos pelo Boletim Focus é que a taxa básica de juros encerre o ano a 13,25%. Ou seja, o ciclo de alta da Selic, caso não se encerre hoje, está, certamente, perto do fim.
Atualmente em 11,75% ao ano, a expectativa é de que o Copom aumente a taxa básica de juros em 1 ponto porcentual, para 12,75% ao ano, ao final da reunião desta quarta-feira, 4. "O mercado ficará atento sobre se o Copom vai indicar mais 0,5 ponto porcentual de aumento na próxima reunião, se vai deixar em aberto qual será a próxima alta ou se irá, de fato, encerrar o ciclo de alta dos juros nesta reunião" diz Kiki Knudsen, analista e gestor da Vitreo.
Mas mais importante do que o término do ciclo de alta da Selic, é quando os juros voltarão a cair, complementa o analista. Em 2023 a expectativa é de que a taxa comece a cair e encerre o ano a 9,25%. No entanto, se analisada a mediana das 5 instituições que mais acertam no longo prazo, a Selic para 2023 ficará em 11,25%, segundo analistas do BTG Pactual.
Nesse cenário, onde é melhor investir na renda fixa? Veja abaixo o que dizem os especialistas:
O prêmio relativamente baixo dos títulos prefixados com vencimento em prazos longos versos os títulos com vencimento no curto prazo reforça a indicação do BTG de alocação em papéis com vencimento no curto e médio prazo.
Segundo analistas do banco, há oportunidades atrativas nos títulos prefixados curtos em função do prêmio existente na curva em 2023 e 2024. A visão é reforçada por Knudsen, da Vitreo, "Na curva de juros em janeiro de 2025 a taxa está em 12,20%".
Nos títulos mais longos o prêmio talvez seja maior, mas o risco também é mais alto, especialmente por conta do risco fiscal do país, explica o analista. "Portanto, o melhor risco e retorno atualmente é encontrado em títulos prefixados, vendidos pelo Tesouro Direto, com vencimento em 2025."
Outra forma de capturar rendimentos proporcionados pelo nível mais elevado da Selic é aplicar em Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com prazo de 12 e 24 meses.
Além de garantidos pelo FGC, o vencimento em dois anos é o mais adequado para pessoas físicas, pois permite pagar menos IR no resgate, diz Knudsen. Para vencimentos maiores do que dois anos, já é possível pagar a alíquota mínima, de 15%.
Papéis atrelados à inflação são atrativos em momento de juros reais alto e inflação potencialmente elevada no curto prazo. Contudo, Knudsen não indica adquirir títulos de curto ou médio prazo, pois no nível mais alto da Selic não é possível capturar uma alta dos preços em prazos mais curtos. "O maior rendimento da inflação ficou para trás."
O mais recomendável agora, portanto, é buscar títulos Tesouro IPCA com vencimento em 2030 e 2035, que garantem atualmente uma taxa de 5,68% além da alta dos preços. "É uma boa taxa, considerando que há dois anos esses títulos pagavam 4% a 3% acima da alta dos preços."
Para quem deseja ter um rendimento maior do que o oferecido por títulos do Tesouro Direto, as debêntures são uma opção.
Contudo, para pequenos investidores, o foco deve ser adquirir títulos de empresas com bom risco de crédito, o chamado triple A. Esses títulos são emitidos por grandes companhias, como a Vale e a Petrobras.
Para esses títulos, analistas do BTG Pactual começam a ver uma relação risco-retorno atrativa, tanto no mercado primário como no secundário.
Em um ambiente macroeconômico complexo, empresas com maior risco de crédito só são indicadas caso estejam inseridas no portfólio de fundos diversificados, diz Knudsen, da Vitreo. "Se alguma empresa dá calote, um fundo perde apenas 3% do seu patrimônio. E um fundo consegue acompanhar e trocar os papéis antes que problemas maiores aconteçam."