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Títulos da Argentina podem valer menos de 40 centavos em default

A probabilidade implícita de default nos próximos cinco anos ainda é de 85%

Argentina: os bônus ficaram bastante próximos de testar esses níveis na semana passada (Getty Images/Getty Images)

Argentina: os bônus ficaram bastante próximos de testar esses níveis na semana passada (Getty Images/Getty Images)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 21 de agosto de 2019 às 11h21.

(Bloomberg) -- Menos de dois anos depois de a Argentina fazer um grande estrondo nos mercados ao vender US$ 2,75 bilhões em títulos de 100 anos, uma nova reestruturação da dívida é vista como uma possibilidade real, após a surpreendente derrota do presidente Mauricio Macri na eleição primária.

Gestores de ativos e analistas de bancos incluindo Citigroup e Bank of America dizem que os investidores deverão recuperar menos de 40 centavos de dólar de seus investimentos em papeis do país se a Argentina renegar sua dívida pela terceira vez em duas décadas.

Os bônus ficaram bastante próximos de testar esses níveis na semana passada, quando algumas notas foram negociadas a até 45 centavos em meio à preocupação de que Alberto Fernandez e sua companheira de chapa, a ex-presidente Cristina Fernandez de Kirchner, poderiam desfazer a agenda favorável ao mercado de Macri.

Em meio à onda de vendas, os yields dos títulos em dólar mais curtos da Argentina chegaram a superar 50%. Enquanto ativos tiveram uma ligeira recuperação desde então, a probabilidade implícita de default nos próximos cinco anos ainda é de 85%, segundo dados da CMA.

“A probabilidade de uma reestruturação é alta no próximo ano, dadas as grandes necessidades financeiras, o acesso limitado ao mercado e os desafios fiscais em meio a uma recessão”, diz Claudio Irigoyen, chefe da estratégia de renda fixa e câmbio de América Latina no Bank of America Merrill Lynch, em Nova York, em nota.

Se isso acontecer, o valor de recuperação nos bônus denominados em dólar provavelmente seria inferior a 40 centavos, segundo Irigoyen. Esse é um cenário um pouco mais otimista que o do Citigroup, que diz que os detentores de títulos provavelmente conseguiriam algo na faixa de 30 centavos em caso de não pagamento das notas soberanas.

“Em dívida externa, acreditamos que é necessário ter mais certeza sobre os planos do próximo governo, já que o mercado ainda não está precificando o valor de recuperação de pior caso”, afirma estrategista de mercados emergentes do Citigroup, com sede em Nova York, Donato Guarino em nota, acrescentando que só pode vir “mais perto da eleição”.

Houve algumas pistas sobre o que Fernandez faria se vencesse a votação de 27 de outubro. Em várias entrevistas com jornais locais no domingo, o principal candidato falou sobre o que considerou negociações de dívida bem-sucedidas durante seu tempo como chefe de gabinete que levou a uma reestruturação dos títulos e à necessidade de negociar com os detentores de bônus.

Embora ele não tenha dito que necessariamente pressionaria por uma reestruturação, ele disse que “ninguém sabe melhor do que nós o dano causado pela default”. Ele também apontou para títulos ligados ao crescimento econômico, que foram oferecidos nas reestruturações de 2005 e 2010, como uma maneira de convidar os investidores a serem “parceiros em nosso crescimento”.

Na segunda-feira, o conselheiro econômico do candidato Guillermo Nielsen disse que não há planos para reestruturar a dívida do país.

A posição do FMI provavelmente será fundamental para qualquer reestruturação da dívida. O fundo, que no ano passado concedeu um resgate de US$ 56 bilhões ao país sul-americano depois de uma queda no peso, em breve decidirá se vai desembolsar cerca de US$ 5 bilhões em recursos adicionais no mês que vem.

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