Tarifa alta de bancos brasileiros é mito, diz consultoria
Pesquisa da Accenture comparou as tarifas bancárias de 15 países e concluiu que os preços brasileiros estão entre os menores
Da Redação
Publicado em 31 de outubro de 2011 às 06h48.
São Paulo – Uma pesquisa da consultoria Accenture comparou as tarifas bancárias cobradas em 15 países e descobriu que os preços brasileiros estão entre os menores. A consultoria chegou a essa conclusão ao montar dois pacotes globais de tarifas, um para um consumidor que usa frequentemente os serviços bancários e outro com uma utilização mais moderada. Nos sete maiores bancos brasileiros, o custo médio mensal desses pacotes foi de 59,60 reais e 27,70 reais, respectivamente. Entre os países pesquisados, os valores são superiores somente aos cobrados na Índia, no México e na França, conforme o gráfico abaixo:
Luís Simões Gouveia, executivo-sênior da área de finanças da Accenture, disse que ele próprio ficou tão surpreso com os resultados que, após a chegada dos primeiros dados, pediu à equipe responsável que conferisse tudo como forma de verificar se não havia sido cometido nenhum erro. No final, sua conclusão foi a de que existe um “mito” no Brasil de que as tarifas são altas, que pode ser explicado por dois motivos.
O primeiro deles é que os juros bancários brasileiros são realmente elevados e engordam o lucro dos bancos. Uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial divulgada em 2009 mostrou que os “spreads” (a diferença entre a taxa que o banco capta dinheiro no mercado e o juro que ele cobra ao emprestar esses recursos aos clientes) no Brasil só não são maiores que os do Zimbábue. Como o consumidor tende a olhar o custo bancário total, e não as tarifas isoladamente, fica com a impressão de que mesmo os serviços que não envolvem o pagamento de juros têm preços abusivos.
Outro motivo que alimenta o mito das tarifas altas é que o pacote básico de serviços é realmente caro no Brasil. Foi o próprio Banco Central quem definiu que o pacote básico brasileiro deveria incluir oito operações de saques, quatro extratos do mês, dois extratos do mês anterior e quatro transferências de recursos entre contas da própria instituição. Em troca desses serviços, os sete maiores bancos brasileiros cobram entre 11 e 16 reais ao mês, uma das mais elevadas taxas do mundo (veja abaixo). Em muitos países da Europa e da Ásia, sequer é necessário remunerar os bancos por isso.
A Accenture lembra, entretanto, que o pacote básico representa apenas uma pequena parte dos serviços oferecidos por uma instituição financeira e consumidos globalmente. Para chegar a uma conclusão válida, a consultoria levantou os serviços mais utilizados nos 15 países pesquisados e montou um pacote de tarifas que levasse em consideração as especificidades de cada um deles. Entre os serviços incluídos, há diversos que são bem mais baratos no Brasil do que no resto do mundo.
A realização de uma transferência de recursos entre bancos via TED ou DOC, por exemplo, custa em média 7,50 reais no Brasil. O custo médio nos países europeus chega a 17 enquanto na Argentina, essa tarifa alcança 61 reais (veja tabela).
Outro serviço que é relativamente barato é o de saques em caixas eletrônicos. Cinco países pesquisados não cobram pelos saques. No Brasil, isso só não acontece quando a operação é realizada nos caixas das agências. A tarifa média para o uso do caixa eletrônico além do que já está incluído no pacote básico é de 0,88 real. Na Alemanha, o mesmo serviço sai por 3,32 reais (veja abaixo).
Divulgação
Já a anuidade do cartão de crédito nacional está dentro da média mundial. O serviço custa em média 52 reais. Estados Unidos e Inglaterra não cobram pelo serviço, mas, na Argentina, a anuidade média sai por 83 reais.
Como gastar menos
Gouveia, da Accenture, acredita que manter apenas uma conta corrente em uma única instituição é a melhor forma de economizar com tarifas bancárias. Segundo ele, o custo dos bancos locais que destoa dos estrangeiros é exatamente o do pacote básico de tarifas. Uma pessoa que mantém relacionamento com apenas uma instituição ganha de duas formas: paga por apenas um pacote e, se tiver um volume de transações representativo, pode negociar com o gerente descontos em troca da fidelidade.
Outra estratégia interessante é pesquisar entre os bancos as melhores tarifas antes de decidir abrir uma conta. O custo do pacote básico varia até 62% entre um banco brasileiro e outro. Já as tarifas individuais podem variar até 175%.
Do ponto de vista dos bancos, Gouveia acredita que a pesquisa deixa claro que as tarifas poderiam estar mais bem equilibradas. Segundo a Accenture, preços competitivos de tarifas são o principal fator que pode levar um brasileiro a trocar de banco. Se uma instituição cobrar uma tarifa um pouco menor pelo pacote básico, muito provavelmente poderá atrair clientes das rivais.
Já para se tornar o principal banco de quem possui de mais uma conta, o banco precisa investir em serviços de qualidade. O brasileiro quer a comodidade de resolver qualquer problema em qualquer dia e horário, seja pelo home banking, call center, caixas eletrônicos ou agências. Também deseja manter um relacionamento com um gerente que lhe permita tirar dúvidas de maneira personalizada. “Os bancos que quiserem ganhar mercado precisam dar tratamento de alto padrão a clientes de qualquer renda porque todos acabam sendo rentáveis”, diz Gouveia.