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Quem são as crianças que investem na Bolsa

O número de jovens até 15 anos tem aumentado na Bolsa. Algumas já até ensinam que investir não é brincadeira de criança

Felipe Moleiro, 12 anos | Investe em ações de empresas como Petrobras, Taesa e BR Malls, além de ETFs — fundos de investimento cujas cotas são negociadas na bolsa. Planeja ser gestor de seu próprio fundo de hedge.  (Germano Lüders/Exame)

Felipe Moleiro, 12 anos | Investe em ações de empresas como Petrobras, Taesa e BR Malls, além de ETFs — fundos de investimento cujas cotas são negociadas na bolsa. Planeja ser gestor de seu próprio fundo de hedge. (Germano Lüders/Exame)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 30 de agosto de 2020 às 08h03.

Última atualização em 31 de agosto de 2020 às 09h43.

Cerca de 13 mil jovens até 15 anos investem na bolsa brasileira. Há 10 anos, o número não passava de 2.000. O crescimento de crianças e adolescentes na Bolsa é reflexo do aumento geral de novos investidores no mercado. Há uma década, a bolsa não tinha 500 mil investidores. Atualmente, são cerca de 3 milhões. 

O aumento dos novos investidores se deve principalmente à redução da taxa básica de juros no país. Em 2010, a Selic estava em 10% ao ano. Hoje, ela está em 2% ao ano. Com os cortes seguidos na taxa básica de juros, o brasileiro tem encontrado na renda variável uma opção para ter retornos mais atraentes. 

A alta do Ibovespa nos últimos anos também tem ajudado. Em 2019, o principal índice da B3 acumulou alta de 31,58%, depois ter subido 15% em 2018. Em 2017, a alta foi de 26,86%, enquanto em 2016, foi de 38,93%. Somado a isso, aprender sobre como investir está cada vez mais acessível. Na internet, há uma série de cursos, vídeos e materiais disponíveis.

O interesse do público infanto-juvenil no mercado financeiro já fez surgir alguns produtos específicos para este nicho. O banco Inter, por exemplo, lançou no mês passado uma conta Kids, que dá acesso à plataforma de investimento do banco, possibilitando o investimento em modalidades como renda fixa (CDB, LCI e LCA), fundos de investimento, previdência privada, renda variável e ofertas públicas. O next, do Bradesco, também lançou uma conta voltada para crianças e adolescentes até 17 anos. O produto foi lançado em parceria com a Disney para promover a educação financeira de maneira lúdica. A expectativa é alcançar até o final do ano a marca de 300 mil clientes. 

EXAME conversou com dois jovens que começaram a investir na bolsa ainda na infância. Confira:

Influencer mais novo do mercado

Aos 12 anos, Felipe Molero fala de investimentos como gente grande. Pelas redes sociais, o jovem compartilha dicas de investimentos para quem está iniciando no mercado. Conhecido como “Kid Investor”, ele tem 46 mil seguidores no Instagram e 14 mil no Youtube. O interesse pelo assunto surgiu aos 9 anos. “Ficava pensando como alguém pode ter tanto dinheiro para comprar mansões e carrões. E descobri que o dinheiro surge tanto pelo empreendedorismo como por investimento.”

Querendo aprender sobre o assunto, Felipe decidiu buscar informações por conta própria por meio de livros e vídeos na internet. Munido de informações, ele pediu ao pais para abrir uma conta em uma corretora. “Eles não investiam e acharam que meu pedido era uma brincadeira de criança.” Após muita insistência,  eles autorizaram.

Mas antes de abrir a conta, o jovem armou um plano para conseguir levantar capital e ter dinheiro para investir. Foi na escola que ele conseguiu o dinheiro por meio da venda de livros usados e de doces entre os colegas. “Em um dos eventos da escola, eu decidi que venderia sucos. Para ser diferente coloquei seco gelo no copo. A minha mãe fez o marketing passeando pela escola. Naquele dia, consegui mais de 500 reais.”

Com o dinheiro em mãos, Felipe fez seu primeiro investimento. A escolha foi por fundos imobiliários incentivado pelo pagamento de dividendos. Foi em março, quando chegou à pandemia de coronavírus, que o jovem comprou suas primeiras ações. A escolha pelos papéis da Petrobras que estavam bem descontados. Ele investe também na Taesa, Metal Leve, Itaúsa, BR Malls, além de ETFs. “A minha carteira é modesta.” Se os investimentos ainda são pequenos, o sonho é grande. Felipe planeja ser gestor do seu próprio fundo de hedge. 

Do patins à bolsa

Foi o desejo de ganhar um par de patins que levou Carolina Bartunek, 18, a começar a investir na bolsa. Aos 12 anos, ela pediu ao pai que lhe desse este presente de Natal.  A resposta que ouviu era que se ela pegasse aquele dinheiro, investisse e tivesse um pouco de paciência, logo ela teria como comprar dois pares de patins. “Dois com certeza é melhor que um”, brinca a jovem.

A proposta foi feita por Florian Bartunek, um dos gestores mais renomados do país e pai de Carolina. “Foi assim que ele começou a explicar o que era ação e como poderíamos ser sócio comprando um pedacinho da empresa.”

O segundo ensinamento foi sobre como escolher as empresas para investir. Carolina optou por ações de empresas em que é familiarizada, como Google, Nike e Apple. “Comprei BDRs de empresas que estão no meu dia a dia.” Com o passar dos anos e aprendendo como investir e montar uma carteira, Carolina montou um grupo na escola para discutir e trocar informações com os colegas. “O clube de investimentos” tem cerca de 20 jovens. “Nós somos uma geração de imediatistas. Queremos o resultado logo. Mas no mercado é importante estudar e ter calma.” Carolina gostou tanto de aprender sobre finanças que planeja estudar economia no próximo ano.

 

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