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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Os economistas costumam dizer que em momentos de muitas incertezas a melhor decisão é não tomar nenhuma decisão. A julgar por um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o conselho foi bem recebido por grande parte dos consumidores. O levantamento mostra que 34% dos entrevistados em setembro optaram ao menos por adiar seus planos de aquisição de bens duráveis, como veículos ou imóveis. O posicionamento reflete a insegurança gerada pela crise financeira e deve ajudar a colocar um freio no forte movimento de valorização de casas e apartamentos verificado nos últimos anos, afirmam os especialistas.
"Para os imóveis de até 350 mil reais, que são financiados pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH), a expectativa é de manutenção dos preços, enquanto os imóveis de alto padrão poderão ter seus valores de venda reduzidos", avalia o advogado especializado em mercado imobiliário Renato Mirisola, sócio do escritório Bicalho e Mollica Advogados. A provável queda nos preços dos imóveis de alto padrão é justificada pela tendência de encarecimento do crédito imobiliário, já que fora do SFH os juros variam de acordo com as condições de mercado. Como a crise financeira enxugou os recursos disponíveis para empréstimos, os bancos devem passar a cobrar mais pelos financiamentos nos próximos meses. "Além disso, as instituições estão mais rigorosas na concessão de crédito", ressalta Mirisola.
Em São Paulo, os números já apontam desaquecimento na demanda. Um estudo realizado pelo Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-SP) junto a 1.538 imobiliárias de 37 cidades do estado mostra que as vendas de imóveis caíram 8,55% em agosto. Na capital e no litoral o recuo foi mais acentuado: 19,18% e 34,94%, respectivamente.
Se por um lado o mercado imobiliário sofre com o encarecimento do crédito, por outro, ganha com a volatilidade da Bolsa. No segmento de imóveis comerciais, geralmente preferido pelos investidores por proporcionar retornos mais atraentes, não houve e não deve haver queda na demanda, afirma o diretor de Vendas da consultoria Jones Lang LaSalle, André Rosa. "Existem pouquíssimos imóveis comerciais à venda e em alguns casos há até investidores aguardando oportunidades", diz.
Assim como outros especialistas do setor, Rosa acredita que, devido à crise financeira, parte dos recursos que seriam aplicados pelos investidores em ações deve ser redirecionado ao setor imobiliário. "O brasileiro vê nos imóveis um investimento seguro", afirma.
Mesmo os imóveis na planta, que no passado fizeram muita gente perder dinheiro, atualmente são considerados um investimento de baixo risco. As ações das construtores tiveram forte desvalorização na bolsa, mas especialistas descartam a possibilidade de falência das empresas. Além disso, a legislação hoje é mais favorável ao comprador. Casos como o da construtora Encol, que faliu na década de 1990 deixando milhares de casas e apartamentos inacabados, não devem se repetir. Atualmente os empreendimentos são constituídos como sociedades de propósitos específicos (SPE) ou adotam o patrimônio de afetação instrumento que permite separar do patrimônio da construtora os recursos da obra. Dessa forma, mesmo que a construtora decrete falência, o empreendimento terá seus recursos garantidos. "Nesse caso, o condomínio poderá contratar outra construtora para terminar a obra", explica João Crestana, presidente do Secovi-SP.
Além disso, analistas consideram exageradas as desvalorizações de ações de construtoras como a Inpar, que já supera 90%. Segundo Eduardo Silveira, analista da corretora Fator, os papéis estão valendo menos que o patrimônio das empresas. "Isso não faz sentido", afirma. Em sua avaliação, as construtoras devem reduzir o ritmo de lançamentos nos próximos meses, mas não parar de construir. Se faltar recursos para os projetos, há mais duas formas de consegui-los: por meio de novas parcerias ou pela venda de terrenos e outros ativos. No pior dos cenários, haveria uma fase de consolidação do setor, com as empresas mais fortes comprando as mais fracas um movimento que para Rosa seria "natural e saudável".