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Por que o dólar ainda deve subir, mas não vale mais investir

Especialistas defendem que momento de aproveitar a alta da moeda já passou e aplicações de renda fixa podem ser mais vantajosas


	Notas de dólar: Segundo especialistas, variação da Selic pode ser maior que a alta do dólar
 (Stock.xchng)

Notas de dólar: Segundo especialistas, variação da Selic pode ser maior que a alta do dólar (Stock.xchng)

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Da Redação

Publicado em 13 de fevereiro de 2014 às 05h00.

São Paulo – As perspectivas de alta do dólar brilham aos olhos de muitos investidores. Mas especialistas alertam que o momento de ganhar com a moeda já passou e tudo indica que investimentos mais simples e conservadores podem ser melhor opção que o dólar.

“O grande erro da maioria dos investidores é entrar no investimento quando ele já está caro. Quem ganhou com o dólar, ganhou. O grande ‘pulo’ da moeda já foi”, crava Alexandra Almawi, economista da Lerosa Investimentos.

Ela justifica que, com a moeda a 2,40 reais e com a perspectiva de elevação da Selic a 11% ao ano, o dólar teria que subir os mesmos 11% para ser mais vantajoso do que as aplicações de renda fixa. “Isso significa que dólar teria que chegar a 2,66 ou 2,67 reais. É pouco provável que ele traga esse retorno”, esclarece a economista.

Além disso, se forem consideradas as taxas envolvidas nos investimentos, a moeda teria que superar os 2,66 reais. Segundo Alexandra, se para obter ganhos com o dólar o investidor aplicasse em um fundo com taxa de administração de 2% ao ano, para bater a variação de 11% da Selic e ainda a taxa cobrada de 2%, o dólar teria que subir a 2,72 reais.

Segundo a mais recente pesquisa do Boletim Focus do Banco Central, que reflete as perspectivas do mercado, a moeda deve chegar a 2,47 reais até o final de 2014.

Conforme Alexandra acrescenta, o Banco Central ainda não esgotou suas reservas e pode ser mais agressivo para conter a alta da moeda. Afinal, não é interessante para o país ter um real extremamente desvalorizado, já que as nossas dívidas atreladas ao dólar podem deixar as contas do governo ainda mais apertadas.

Renda fixa e dólar tendem a se igualar

Outro fator que explica por que a moeda pode não trazer ganhos superiores aos produtos mais conservadores do mercado consiste no fato de que a variação do dólar e a variação da nossa taxa básica de juros, a Selic, tendem a ter o mesmo desempenho em um período mais longo.

Conforme explica Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo Investimentos, um investidor estrangeiro que pretende investir em um país de moeda mais desvalorizada, vai querer que a taxa de juro oferecida supere a inflação deste país (já que a aplicação é na moeda local) e a possível desvalorização cambial prevista. “Por isso o juro acaba, indiretamente, embutindo a inflação mais a variação cambial”, diz.

É o mesmo que dizer que um americano que pretende investir no Brasil vai “exigir” que a taxa de juro oferecida no investimento (que normalmente é balizada pela taxa básica de juros) reflita tanto uma eventual desvalorização do real, que pode ocorrer ao longo dos meses, quanto a inflação do período.

Assim, a taxa básica de juros fixada aqui teoricamente deve contemplar essas duas variáveis. Por esse motivo, a variação da Selic tende a ser a mesma que o dólar ao longo do tempo, resultando no mesmo efeito para uma aplicação em investimentos atrelados à Selic ou ao dólar. “Para quem não vai utilizar o dinheiro no médio prazo, a flutuação do dólar será compensada pela Selic.” Afirma Bittencourt.

Alexandra Almawi também concorda que a nossa taxa de juro já precifica a variação do dólar: “O dólar e o juro precisam caminhar próximos porque no fundo eles refletem a mesma coisa, que é a economia do país”.


Alternativa para ganhar com o dólar, mas só quando for conveniente

Apesar dos argumentos na linha “o dólar já deu o que tinha que dar”, um investimento disponível no mercado permite ao investidor aproveitar eventuais altas da moeda, mas sem abrir mão do retorno do CDI (taxa próxima à Selic, que baliza aplicações de renda fixa): o fundo multimercado juros e moedas. 

Nos fundos multimercados em geral, o gestor tem a liberdade de investir em diferentes produtos buscando a melhor estratégia de acordo com o cenário econômico. No caso do multimercados tipo juros e moedas, é possível investir tanto em títulos de renda fixa pré ou pós-fixados, quanto no mercado de câmbio ou de juros futuros.

“Os fundos juros e moedas têm maior liberdade. Se o CDI estiver bom, o gestor surfa no CDI. Já se o dólar puder ganhar de outros indexadores, e o gestor for bom, ele entra no dólar e pode se beneficiar com a alta da moeda”, explica Alexandra Almawi.

Paulo Bittencourt também acredita que esse tipo de fundo pode ser o melhor dos mundos para o investidor que busca alguma aderência ao à moeda americana. “Ele absorve a remuneração do título público, que traz a segurança da renda fixa, e acrescenta sobre a operação prêmios no mercado de dólar”, diz.

Ele afirma que as taxas para esse tipo de fundo variam de 1% a 2,5% ao ano, de acordo com o risco. São fundos que permitem aportes iniciais a partir de mil reais, mas na média exigem investimentos mínimos de 5 mil a 10 mil reais.

Por que outros investimentos não compensam

Além dos motivos já citados, características particulares dos investimentos atrelados ao dólar também tornam os ganhos com a moeda mais complexos.

Segundo a economista da Lerosa, os fundos cambiais, por exemplo, são mais restritos que os multimercados juros e moedas e precisam necessariamente investir em ativos atrelados ao dólar, aumentando o risco do investimento.

No caso do mini contrato futuro de dólar - derivativos negociados em bolsa que permitem ao investidor comprar o dólar por um valor pré-acordado em prazos futuros -, como a estratégia do investimento se resume a operar a moeda sem envolver ativos que possam diversificar a aplicação, o investimento oferece um risco de concentração em um momento em que a perspectiva é de que o CDI supere o dólar.

Já em relação aos fundos multimercados multiestratégia que investem em ativos no exterior, além do fato de que eles podem comprar no máximo 20% dos ativos do mercado externo, o fundo pode investir em ativos que não são realmente vantajosos.

“É preciso tomar muito cuidado para não achar que, só porque a economia brasileira está mal e a economia americana está bem, qualquer fundo que investe no exterior é vantajoso. É preciso entender o que o fundo compra no exterior”, afirma Alexandra.

Por fim, outra opção seriam as ações que se beneficiam pela alta do dólar, como as de companhias exportadoras. Mas mesmo que a empresa se beneficie pela valorização da moeda, muitos outros fatores podem contribuir para que a ação se desvalorize e não acompanhe a flutuação do câmbio.

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