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Pequeno investidor mantém sangue frio na turbulência

Ao contrário do que aconteceu durante a crise das bolsas chinesas em fevereiro, desta vez pessoas físicas não correram para zerar investimentos em ações

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

A crise do setor imobiliário americano há semanas monopoliza as preocupações dos investidores, mas um tropeço sobre o qual ninguém comenta mais - a queda histórica da Bolsa de Xangai, responsável por uma rasteira nos mercados do mundo todo, cinco meses antes do início da turbulência mais recente - começa agora a mostrar-se decisivo para entender como os brasileiros que investem suas finanças pessoais na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) têm agido.

Em 27 de fevereiro deste ano, a Bolsa de Xangai despencou 9%, fechou o dia com a maior perda em dez anos e arrastou para baixo as bolsas do mundo inteiro, durante dias. O temor dos investidores surgiu do boato de que o governo chinês aumentaria as taxas sobre ganhos no mercado de ações - suspeita confirmada no fim de maio. A perspectiva de redução dos lucros afugentou capitais e trouxe tensão em escala global, mas a situação no país asiático aos poucos voltou ao normal. Hoje, a China está fora da berlinda, mas a lição deixada por essa crise ajuda a entender como os brasileiros comportam-se na do subprime. No último mês foi verificada uma atitude surpreendentemente tranqüila do pequeno investidor mesmo diante de um cenário de incertezas na principal economia do planeta, a dos Estados Unidos. Segundo analistas, a rápida recuperação das bolsas após a crise da China ajudou a moldar essa postura menos impulsiva.

A mudança de comportamento do pequeno investidor pode ser vista nos números da Bovespa. Durante o mês de março, imediatamente seguinte ao início da Crise da China, a venda de posições por parte de pessoas físicas, na bolsa, totalizou 19,287 bilhões de reais, ante 19,013 bilhões de compra. A diferença indica interesse maior de quem aplica seu capital pessoal em se desfazer dos papéis que possuía do que em adquirir novos. Já em agosto, do início do mês até o dia 23 - período seguinte ao início da crise dos subprimes - as compras feitas por pessoas físicas chegaram a 21,867 bilhões de reais, ante 21,021 bilhões de reais em vendas.

Essa disposição em injetar capital no mercado de ações, mesmo num momento instável, contrastou, inclusive, com a dos investidores institucionais, responsáveis por mais movimentos de venda do que de compra nesse mesmo período.

"O movimento de saída com a crise das hipotecas tem sido muito menor do que na crise da China. Na época, soubemos de investidores que venderam seus papéis logo na abertura do mercado, assim que estourou o problema. Dessa vez, a quantidade de informações sobre o problema é maior e elas são mais confiáveis, o que aumenta a confiança de que manter as posições pode ser melhor do que sair", explica Clodoir Vieira, da corretora Souza Barros.

"Vacina" chinesa

A própria crise iniciada com a queda da Bolsa de Xangai, no entanto, serviu como estímulo à visão de que ganhos a longo prazo podem compensar as perdas momentâneas.

Enquanto fundos estrangeiros recebiam bilhões de dólares dos parceiros como "remédio" para sobreviver, quem tem apenas suas economias pessoais como capital via na crise uma oportunidade de adquirir papéis em baixa para realizar lucros quando as altas voltarem.

"O investidor aprende mais com experiências do que com teoria, então, quem vendeu ações na crise da China e, depois, viu que se tivesse comprado teria ganhado mais, certamente mudou de postura, nessa fase de crise das hipotecas. A China ajudou a vacinar o investidor", afirma Theo Rodrigues, diretor geral do Instituto Nacional de Investidores.

O apetite por ganhos futuros ficou visível nas movimentações dos clientes da corretora paulista Infra. Nas duas últimas semanas, o número de pessoas físicas que aumentaram os investimentos na Bovespa foi muito maior do que o de pessoas que zeraram suas posições, segundo o gestor de fundos de renda variável da empresa, Henrique de Camargo.

"O investidor entendeu que as principais empresas brasileiras de capital aberto têm fundamentos sólidos e boa governança. Por isso, não há motivo para retirar capital no primeiro momento. Fica cada vez mais claro para o brasileiro que as perdas fazem parte do sistema financeiro e que é preciso planejar a longo prazo", ele aponta.

Para o coordenador de clubes de investimento da Spinelli Corretora, Giácomo de Oliveira, o efeito "educativo" da turbulência da China, em fevereiro, pode se fazer sentir não apenas na crise atual, mas se incorporar ao comportamento do pequeno investidor nas próximas oscilações.

"A crise da China foi um primeiro teste depois de uma fase longa de altas constantes nas bolsas. Ela permitiu que cada um tivesse a sua experiência individual e muitos acabaram vendendo ações, mas na instabilidade atual, mais pessoas mantiveram suas posições. O nosso "feeling" é de que há um aprendizado constante de olhar para o longo prazo e ele deve se estender daqui em diante", prevê.

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