Pausa no empréstimo somente deve ser utilizada para quem realmente precisa de fôlego no orçamento (Gustavo Mellossa/iStock/Getty Images)
Marília Almeida
Publicado em 24 de agosto de 2020 às 16h06.
Última atualização em 24 de agosto de 2020 às 18h22.
Para mitigar o impactos da pandemia do Covid-19 os bancos continuam a permitir a suspensão ou adiamento do primeiro pagamento de novos empréstimos em prazos máximos que variam de 60 a 90 dias. A exceção é o crédito imobiliário na Caixa, que permite a pausa de até 180 dias. Contudo, o consumidor tem de ter cautela com o custo adicional que essa suspensão gera, que pode chegar a R$ 1,4 mil em um financiamento de carro, segundo simulações feita pela Anefac para a EXAME.
A pausa também é válida para empréstimos já existentes. Neste caso cada banco pode propor prazos diferentes de suspensão ou início de pagamentos e número de parcelas. Eventuais modificações podem gerar um recálculo das parcelas, aumentando o valor das remanescentes.
De qualquer forma, durante o período de suspensão ou adiamento os juros continuam incidindo normalmente, mas na repactuação e novas operações não incide IOF.
Mas será que compensa? Vale a pena renegociar o prazo da dívida e os juros? Qual é, enfim, o efeito da pausa no crédito? Andrew Frank Storfer, diretor de economia e membro do conselho de administração da Anefac, realizou, a pedido da EXAME, duas simulações do efeito da pausa sobre empréstimos. Veja abaixo os resultados:
Crédito tomado: R$ 3.000
Data da operação original: 01/11/2019
Início do pagamento original de parcelas: 01/12/2019
Prazo da operação original (meses): 24
Taxa de juros na contratação original (% ao mês): 3,42%
Parcela original: R$ 185,25
Custo total original: R$ 4.446,05
Caso 1
Suspensão de 60 dias e diluição no restante do prazo. Ou seja, mantém o prazo final e diminui o número de parcelas restantes, mantendo a taxa de juros original
Total pago em 01/8/2020 | R$ 1.667,27 |
Saldo devedor em 01/08/2020 | R$ 2.778,78 |
Acréscimo nas parcelas pela diluição de duas parcelas não pagas | R$ 37,64 |
Nova parcela a partir de 01/10/2020 (16 parcelas) | R$ 222,89 |
Novo custo total | R$ 4.564,83 |
Acréscimo de custo com relação ao custo original | R$ 118,78 |
Caso 2
Suspensão de 60 dias e mantendo o número de parcelas. Ou seja, mantém o número de parcelas e prorroga o prazo final, mantendo a taxa de juros original
Total pago até 01/08/2020 | R$ 1.667,27 |
Saldo devedor em 01/08/2020 | R$ 2.778,78 |
Acréscimo nas parcelas pelo diferimento de 2 parcelas não pagas | R$ 13,17 |
Nova parcela a partir de 01/10/2020 (18 parcelas) | R$ 198,42 |
Novo custo total | R$ 4.643,58 |
Acréscimo de custo com relação ao custo original | R$ 197,53 |
Como é possível observar, prorrogar o prazo da dívida torna o valor da parcela semelhante ao do empréstimo original: R$ 198, enquanto no empréstimo original era de R$ 185. Caso não haja prorrogação do prazo, a parcela sobe para R$ 217,28.
Contudo, o custo fica maior, já que o consumidor vai pagar juros por mais tempo: paga-se R$ 233 a mais no final do empréstimo dado como exemplo, enquanto sem a prorrogação do prazo o valor adicional é de R$ 142.
Por isso, a extensão do prazo apenas vale para quem está com o orçamento realmente apertado. O melhor cenário, para quem não tem mesmo como pagar o empréstimo e precisa do fôlego de 60 dias ou 90 dias, o ideal é manter as condições do financiamento, tanto de juros como prazo, para que o efeito da pausa seja menor.
Valor financiado: R$ 50 mil
Data da operação original: 01/09/2018
Início do pagamento original de parcelas: 01/10/2018
Prazo da operação original (meses): 48
Taxa de juros na contratação original (% ao mês): 1,81%
Parcela original: R$ 1.567,71
Custo total original: R$ 75.250,23
Caso 1
Suspensão de 60 dias e diluição no restante do prazo. Ou seja, mantém o prazo final e diminui o número de parcelas restantes, mantendo a taxa de juros original
Total pago até 01/08/2020 | R$ 36.057,40 |
Saldo devedor em 01/08/2020 | R$ 39.192,83 |
Nova parcela a partir de 01/10/2020 (26 parcelas) | R$ 1.740,17 |
Novo custo total | R$ 76.081,38 |
Acréscimo de custo com relação ao custo original | R$ 831,14 |
Caso 2
Suspensão de 60 dias e mantendo o número de parcelas. Ou seja, mantém o número de parcelas e prorroga o prazo final, mantendo taxa de juros original
Total pago até 24/08/2020 | R$ 36.057,40 |
Saldo devedor em 24/08/2020 | R$ 39.192,83 |
Nova parcela a partir de 24/10/2020 (28 parcelas) | R$ 1.625,89 |
Novo custo total | R$ 76.704,54 |
Acréscimo de custo com relação ao custo original | R$ 1.454,31 |
Ou seja, no seguro de carro do exemplo, mantendo prazo e juros da dívida, as parcelas futuras após a pausa sobem em R$ 152. Ou seja, é importante que o consumidor avalie se a pausa é realmente necessária, já que pode pressionar ainda mais o orçamento no futuro.
No financiamento de carro, estender o prazo tem um efeito muito maior porque, naturalmente, o financiamento tem valores mais altos. No exemplo dado, suspender a pausa e prorrogar o prazo da dívida pode custar R$ 1,6 mil a mais para quitar o empréstimo.
Você optou por contratar um empréstimo pessoal para pagar daqui a 90 dias, mas conseguiu aumentar a sua renda e quer amortizar as parcelas? Cuidado: é sempre mais vantajoso você optar por pagar as últimas parcelas do empréstimo, que podem ser amortizadas por um valor bem menor do que a parcela atual.
A amortização das próximas parcelas do financiamento só deve ser a opção para quem ainda não está com a renda estável. Isso porque, caso pague as próximas parcelas, a pausa contratada vai sendo adiada também. Ou seja, caso, no exemplo citado de crédito pessoal, o consumidor pague uma parcela em agosto, mesmo que só começaria a pagar em outubro, ele vai começar a pagar apenas em novembro após efetuar esse pagamento.
Outra opção é cancelar a pausa do empréstimo e começar a pagar as próximas parcelas normalmente, caso o orçamento tenha sido estabilizado e o consumidor não queira pagar custos adicionais pelo empréstimo.
Se o consumidor tem dívidas mais caras para pagar, como o cheque especial, vale a pena pausar o crédito pessoal para liquidar esse pagamento, já que o custo adicional não será tão alto quanto os juros pagos na modalidade de crédito.