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Onde vale a pena investir após o primeiro turno das eleições

Veja as principais recomendações de 15 profissionais do mercado financeiro para a bolsa, a renda fixa e o setor de fundos

Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) (Montagem/Exame)

Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) (Montagem/Exame)

GN

Giuliana Napolitano

Publicado em 9 de outubro de 2018 às 10h00.

Última atualização em 9 de outubro de 2018 às 10h07.

São Paulo — Os mercados viveram um dia de euforia logo depois do primeiro turno da eleição presidencial. A bolsa subiu quase 5%, enquanto o dólar e os juros futuros caíram. O oba-oba reflete a maior chance de vitória de Jair Bolsonaro, que, na visão de boa parte dos analistas do mercado financeiro, é quem tem mais condições de aprovar reformas e outras medidas de ajuste fiscal.

Ainda assim, há muitas dúvidas sobre como seria o governo Bolsonaro —e em que medida ele, de fato, seria melhor que uma administração de Fernando Haddad. Espera-se que os candidatos deixem suas propostas mais claras nos próximos dias, e isso pode deixar bolsa, dólar e juros bastante voláteis.

Mas o que vale a pena fazer com o dinheiro agora? É melhor deixar tudo num fundo DI esperando o resultado da eleição? Ou arriscar para tentar ganhar com a aposta certa? Um pouco dos dois, dizem 15 analistas, assessores financeiros e gestores de fundos ouvidos por EXAME. Veja, a seguir, suas principais recomendações para investidores conservadores e arrojados.

Fundos DI e títulos atrelados ao CDI

Em períodos muito voláteis, vale a pena ter uma parte do patrimônio – de 20% a 45%, dependendo do perfil do investidor -- disponível para investir se surgirem oportunidades. Esses recursos devem ficar aplicados em alternativas conservadoras e com liquidez diária, como os fundos DI (procure os que têm taxa de administração inferior a 0,5% ao ano) e os títulos públicos atrelados ao CDI.

“Não vale a pena fazer grandes investimentos de uma vez. É hora de ser tático e se posicionar quando o cenário ficar mais claro, ou quando aparecer algo muito interessante”, diz Otavio Vieira, sócio da assessoria financeira Taler. Esses recursos também podem ser usados em imprevistos ou emergências.

Como a expectativa é de aumento de juros, o rendimento dessas aplicações tende a aumentar. A maioria dos analistas acredita que a alta começará apenas em 2019, mas, para Tony Volpon, economista-chefe do banco UBS no Brasil, os aumentos podem ter início ainda neste ano, em razão da subida da inflação. A previsão média do mercado indica que a taxa Selic chegará a 8% até o fim do ano que vem.

Quanto investir em fundos DI e títulos atrelados ao CDI (% do patrimônio)

Para quem é conservador: 45%

Para quem é agressivo: 20%

Títulos atrelados à inflação

Faz anos que todos os especialistas recomendam esses papéis. Eles têm duas vantagens: protegem o patrimônio em caso de aumento da inflação (como se vê agora) e permitem que o investidor garante um retorno real elevado por prazos longos. Os títulos públicos atrelados à inflação que vencem de 2024 a 2050 oferecem um rendimento de 5,5% a quase 6% ao ano, além do IPCA.

Outra opção são os papéis privados, como os CDBs de bancos de médio porte. A rentabilidade, para um prazo de cinco anos, está em torno de 7% ao ano mais a variação da inflação. Os especialistas recomendam aplicar até 250 000 reais nesses CDBs, que é o patamar coberto pelo Fundo Garantidor de Créditos caso a instituição financeira que emitiu o papel passe por problemas financeiros.

O risco dos títulos atrelados à inflação (públicos e privados) é a volatilidade até o vencimento. As cotações variam se os juros sobem mais que o esperado. Por isso, a recomendação é comprar apenas se pretender manter até o final.

Quanto investir em títulos atrelados à inflação (% do patrimônio)

Para quem é conservador: 20%

Para quem é agressivo: 15%

Fundos de renda fixa e títulos prefixados

A incerteza eleitoral está mexendo com dólar e bolsa mas também com o mercado de renda fixa. A dúvida sobre qual será a trajetória da inflação e dos juros ao longo do próximo governo elevou o rendimento dos títulos prefixados, que determinam hoje o rendimento que será pago no futuro. Para quem tem dinheiro para investir, esse cenário criou uma oportunidade.

Os especialistas recomendam aplicar em papéis públicos e privados, que rendem de 11% a 13% ao ano, e vencem a partir de 2025. “É muito difícil saber como os juros estarão daqui a alguns anos. Mas, mesmo que subam mais que rendimento oferecido pelos prefixados, o investidor começará a receber esse retorno elevado agora, o que compensa o risco”, diz Conrado Navarro, especialista em finanças pessoais da plataforma de investimentos Modalmais.

Os assessores financeiros também sugerem aplicar em fundos de crédito, que investem em papéis públicos e privados, alguns de risco mais elevado, para ter um rendimento maior sem sair da renda fixa.

Quanto investir em títulos prefixados e fundos de renda fixa (% do patrimônio)

Para quem é conservador: 15%

Para quem é agressivo: 15%

Fundos multimercado

Ao menos em tese, os fundos multimercado são os mais indicados para períodos como o atual, em que o cenário muda rapidamente e, para ganhar dinheiro, é preciso se ajustar investindo em diferentes ativos (juros, câmbio, ações etc.). Na prática, porém, muitos gestores vêm sofrendo para entregar essa agilidade aos clientes. Na média, o rendimento dos multimercado é pouco superior ao CDI neste ano, e alguns dos principais gestores do país – como Luis Stuhlberger, da Verde, e Marcio Appel, da Adam -- vem entregando retornos inferiores ao CDI.

Ainda assim, os assessores financeiros recomendam insistir. Motivo: mesmo bons fundos têm meses ruins. A recomendação é analisar o histórico em vários anos e investir pensando no longo prazo – quem fizer isso no caso de Stuhlberger verá que seu principal fundo, o Verde, rendeu cerca de 15 000% desde 1997; já o Adam Macro rendeu 37% desde maio de 2016, quando foi criado, enquanto o CDI ficou em 26% no período.

“Somos bastante otimistas com esse segmento”, diz Ernesto Leme, diretor da gestora de investimentos Claritas. “Temos uma certeza: a volatilidade continuará e os bons gestores de fundos devem ser capazes de transformar isso em rentabilidade.” Os especialistas recomendam investir parte dos recursos destinados aos multimercado em fundos que aplicam no exterior. O objetivo é proteger o patrimônio das flutuações do câmbio.

Quanto investir em fundos multimercado (% do patrimônio)

Para quem é conservador: 15%

Para quem é agressivo: 30%

Bolsa

As previsões de curto prazo para a bolsa não são boas. Se Bolsonaro for eleito, os analistas estimam que o Ibovespa poderá chegar a cerca de 90 000 pontos até dezembro, patamar muito próximo ao do fechamento de ontem, de 86 186 pontos. Já se Haddad for eleito, espera-se uma queda de cerca de 20% no índice. Ou seja, a chance de perda é relevante, enquanto e a possibilidade de ganhos é pequena.

Ainda assim, a maioria dos especialistas recomenda comprar ações. Um levantamento do banco UBS mostra que cerca de 60% dos analistas que acompanham as principais ações do Ibovespa acredita que este é o momento de investir na bolsa. Motivo: no longo prazo, as perspectivas são positivas.

Para Henrique Bredda, sócio da gestora Alaska, a recuperação da economia brasileira e o aumento dos preços das commodities indicam que haverá uma fase favorável para a bolsa nos próximos anos. Um governo reformista pode beneficiar mais o mercado, mas é possível ganhar dinheiro “não importa quem for o presidente”, diz ele.

“É claro que há riscos. Se o próximo governo falhar no ajuste fiscal, teremos um período ruim para a economia e, por consequência, para a bolsa. Mas, para ter ganhos maiores, é preciso arriscar um pouco”, diz Victor Candido de Oliveira, economista-chefe da corretora Guide.

Quanto investir em ações (% do patrimônio)

Para quem é conservador: 5%

Para quem é agressivo: 20%

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