Minhas Finanças

O que fazer com as ações do Pão de Açúcar

Dois dias depois da empresa anunciar intenção de se unir ao Carrefour, analistas recomendam que investidor venda o papel para embolsar a valorização já sofrida

Segundo especialistas, ação do Pão de Açúcar deve enfrentar volatilidade nos próximos dias (Arquivo)

Segundo especialistas, ação do Pão de Açúcar deve enfrentar volatilidade nos próximos dias (Arquivo)

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Da Redação

Publicado em 30 de junho de 2011 às 11h11.

São Paulo – Se a terça-feira foi de euforia para os papéis preferenciais do Pão de Açúcar, com alta de 12,64%, no pregão de ontem a ação liderou o ranking das maiores quedas com uma desvalorização de 3,07%. Ainda assim, o saldo final permanece positivo para a companhia: depois de divulgar a proposta de fusão com as operações do Carrefour no Brasil, o papel pulou de 65,03 para 71 reais – alta de 9,18%. Nesses dois dias, o Ibovespa subiu apenas 1,82%.

Para analistas e professores consultados por EXAME.com, quem ainda não realizou os lucros no dia do anúncio, faz um bom negócio em vender as ações agora. “O mercado já está antecipando os ganhos com uma fusão que pode não se confirmar”, alerta Ricardo Almeida, professor de finanças do Insper.

Segundo ele, é difícil prever o que vai acontecer daqui para frente e, justamente por isso, o pequeno investidor pode sair perdendo de um dia para o outro. “Esse virou um papel para especialistas”, sustenta.

Para o analista da SLW Cauê Pinheiro, quem está de olho no longo prazo - e tem estômago para as oscilações - pode segurar a ação por mais tempo. “Desconsiderando toda essa questão com o Carrefour, na nossa avaliação o papel teria preço justo de 82,72 reais para o fim do ano, o que mostra que ainda há um potencial de alta”, pondera.

Diferenças à parte, o consenso é que as perspectivas serão sim favoráveis se o acordo for aprovado tal como proposto. Com a injeção de 3,9 bilhões de reais por parte do BNDESPar, braço de investimentos do BNDES, e 1,84 bilhão do BTG Pactual, o Pão de Açúcar se transformaria em uma nova companhia - a Novo Pão de Açúcar.

Com o arranjo, a empresa seria acionista do Carrefour mundial e dividiria com ele, na proporção de 50%, a gestão do Grupo Pão de Açúcar e do Carrefour no Brasil.

Por aqui, o resultado seria a formação de uma gigante do varejo que abocanharia mais de 30% do mercado supermercadista. Com mais musculatura, a rede aumentaria seu poder de negociação junto aos fornecedores, comprando por um preço menor e potencialmente aumentando sua margem de lucro.

“Quem é sócio do Pão de Açúcar se tornaria sócio do maior business de varejo de alimentos no Brasil”, afirma Leonardo Milane, da Santander Corretora. Pelo desenho sugerido, todas as ações do Novo Pão de Açúcar seriam ordinárias, sendo que os atuais acionistas receberiam 0,95 ação ordinária por cada papel na carteira. “Entendemos que essa é uma troca justa e outro ponto positivo caso o acordo vá para frente”, diz Milane. Na avaliação da Santander Corretora, a ação passaria então ao preço-alvo de 92 reais.


Se os ganhos parecem patentes, os argumentos que levantam dúvidas sobre a viabilidade do negócio são apontados em uníssono pelos especialistas que recomendam a venda do papel. A orientação é aproveitar a expressiva valorização antes que ela vire pó, pulverizada por um possível imbróglio judicial.

Acionista majoritário do Pão de Açúcar, o grupo francês Casino aumentou ontem sua participação na empresa depois do comunicado da intenção de fusão, comprando mais ações e ampliando sua fatia de 36,9% para 43,1%. A empresa necessariamente precisa dar seu aval para o negócio se concretizar. E a manobra denuncia que ela não estaria disposta a ceder tão facilmente. Além de ter sua participação atual diluída e perder o direito de assumir o controle da companhia em 2012 (acordado em 2005), o Casino se tornaria acionista indireto do seu maior rival na França, o Carrefour.

Não por menos, a rede divulgou anúncio criticando a jogada do empresário Abílio Diniz. De quebra, o Casino afirmou reiterar a confiança de que o governo brasileiro não irá permitir "qualquer ameaça ou estratagema destinado a violar direitos legitimamente constituídos de acordo com as leis do país".

“Raríssimas vezes a gente viu o resultado de uma disputa societária ser bom para o pequeno investidor”, diz Milane, da Santander Corretora. “A operação da Telemar ficou barata por muitos anos e apesar de ser uma grande geradora de caixa, o mercado não tomou o risco de apostar em uma empresa com governança corporativa ruim, com várias classes de ações e com um controlador que já havia prejudicado o minoritário”, ilustra. 

Wagner Salaverry, analista chefe da Geração Futuro, lembra que se o acordo vingar, o problema da concentração de mercado será outra pedra no sapato da nova empresa. “Na operação da Sadia e Perdigão, o Cade já está dando mostras que a avaliação está sendo feita de forma rigorosa”, afirma. “Não vai ser diferente com Pão de Açúcar e Carrefour – a situação ainda é muito nebulosa para mensurarmos o ganho de sinergia.”

Colocadas as variáveis na mesa, o professor de finanças da FGV Rogério Sobreira aconselha o investidor a aproveitar o pico de preço já alcançado pelo papel. “Não vale a pena esperar outra valorização. Ela pode até acontecer, mas os movimentos daqui para frente serão envoltos em muita incerteza.”

O próprio desempenho da ação preferencial do Pão de Açúcar deu mostras da volatilidade que deve vir pela frente: depois de atingir o pico de 82,11 reais nesta terça – perto do preço-alvo traçado por muitas corretoras para o fim do ano – o papel fechou o pregão mais de dez reais mais barato, no dia em que a ação da companhia movimentou mais dinheiro na Bolsa do que Petrobras e Vale juntas.

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