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Fundo de previdência até o exterior: Galapagos aposta na evolução do setor

Para Bruno Carvalho, sócio da empresa de investimentos, tendência do mercado é a busca da diversificação no exterior em produtos para a aposentadoria

Bruno Carvalho, sócio da Galapagos Capital: novo fundo de previdência para conquistar clientes dos grandes bancos (Galapagos Capital/Divulgação)

Bruno Carvalho, sócio da Galapagos Capital: novo fundo de previdência para conquistar clientes dos grandes bancos (Galapagos Capital/Divulgação)

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Marcelo Sakate

Publicado em 4 de dezembro de 2020 às 06h20.

Última atualização em 4 de dezembro de 2020 às 10h53.

O patrimônio de brasileiros em fundos de previdência se aproxima de 1 trillhão de reais: estava em 955,2 bilhões de reais no fim de outubro. Desse montante, 816,3 bilhões de reais -- o equivalente a 85% do total -- está concentrado nos cinco maiores bancos do país: Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco, Caixa e Santander, pela ordem.

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Mas esse segmento do mercado também começa a ser atacado pelas demais instituições, sejam seguradoras ou gestoras independentes, em uma disputa que tem um grande vencedor: o investidor pessoa física. Neste ano, foram lançados 327 novos fundos de previdência, um aumento de 16% em relação ao fim de 2019, só comparável no mercado de capitais ao avanço de fundos de ações (+19%), segundo dados da Anbima.

Para Bruno Carvalho, sócio da Galapagos Capital, é um jogo que está só no começo. "É uma transformação que passa pela educação financeira, junto com o multiplicador de acesso pelas plataformas abertas independentes. Tudo isso vai criar um movimento pela diversificação tanto de ativos que vão além da renda fixa como geográfica", afirmou à EXAME Invest. É a tese da diversificação multiclasse e multirregião.

De olho nesse mercado, a Galapagos lançou em agosto o seu primeiro produto no segmento, um fundo de previdência com atuação global em renda fica e variável, moedas, commodities e crédito privado e soberano, o Galapagos Icatu Darwin Previdência Global. 

"Decidimos oferecer para o investidor qualificado (com mais de 1 milhão de reais aplicados) porque era a forma que tínhamos para acessar os mercados lá fora, respeitando as normas do regulador. Mas gostaríamos de ter colocado o produto para o público geral", diz Carvalho, um profissional com mais de 20 anos no mercado e experiências no BTG Pactual, Goldman Sachs, Brasil Plural e Triar, da qual foi um dos fundadores.

Segundo ele, a internacionalização é necessária porque permite a entrega de resultados descorrelacionados com o mercado doméstico e com bastante diversificação. É algo que já acontece nos fundos mútuos. "Isso vai acontecer naturalmente com os fundos de previdência, com produtos claramente expostos a mercados globais", diz.

O acesso do varejo a fundos com a maior parte dos ativos no exterior é um pleito recorrente do setor, que sustenta que não faz sentido privar o pequeno investidor da diversificação geográfica, com base no pressuposto de que patrimônio seja sinônimo de conhecimento de mercado. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) colocou o tema em audiência pública nesta semana e sinalizou que deve atender aos anseios do mercado.

Veja abaixo, por tópicos, outros trechos da entrevista de Bruno Carvalho à EXAME Invest:

Risco Brasil

Segundo o sócio da Galapagos, a configuração predominante de fundos de previdência com alocação em ativos domésticos é decorrente do contexto histórico. "Vemos muito risco Brasil dentro dos portfólios, algo muito estimulado pela própria natureza do Brasil: o mercado de capitais provia tudo que era necessário com juros muito elevados. O portfólio de renda fixa contemplava o diferencial de rentabilidade necessária", afirma.

"Quando o gestor percebe que tem que diversificar para entregar os retornos, se depara com um problema: dentro do mercado de capitais do Brasil, não se consegue diversificar e ficar grande o suficiente. É por isso que muitos fundos estão fechados (para captação)."

Tomada de risco

"A previdência é complementar. Ela só terá o efeito real no futuro se houver uma rentabilidade diferenciada. Com o juro muito baixo, não faz sentido ter a previdência", argumenta Carvalho. "Tomar risco em previdência é algo necessário. É um investimento para 20, 30 anos. As ações pagam dividendos, vão se perpetuando etc."

Pressão do investidor

Carvalho afirma que o movimento de diversificação de fundos de previdência acontece por causa de pressão nas duas pontas. Na ponta da demanda, ele afirmou que "o investidor tem hoje mais educação financeira e acesso à informação. Consegue ficar mais crítico. Percebe que a plataforma fechada do seu banco oferece poucas alternativas."

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Ele diz que os grandes bancos, na média, possuem fundos de previdência ainda muito alocados em renda fixa -- uma herança de tempos recentes em que a taxa básica de juros estava na casa dos dois dígitos.

Na ponta da oferta, o movimento acontece graças ao avanço da tecnologia, que possibilitou novos canais de distribuição.

Acesso aos bancos

O novo fundo da Galapagos é distribuído na maior parte das plataformas abertas, além do acesso a family offices; no futuro, Carvalho diz esperar que seja também em bancos. "É algo que começa a acontecer com gestores independentes. Vai ser um movimento natural que a arquitetura seja aberta também para os fundos de previdência."

Potencial de migração

Carvalho sustenta que, apesar do aumento recente, a oferta de produtos de previdência ainda fica aquém diante do tamanho do potencial desse mercado. "Há um volume gigantesco de recursos que pode migrar."

"O regulador tem percebido esse movimento (de busca pela diversificação) e tem criado mecanismos para facilitar a migração, como a portabilidade dos recursos aplicados em previdência. Começou a flexibilizar a regulação de fundos de previdência, aproximando-a da regulação de fundos mútuos tradicionais na questão da diversificação de portfólios, com produtos que não tenham tanta correlação com a renda fixa."

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