EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
As alterações no cálculo da Taxa Referencial (TR) anunciadas pelo governo na última quinta-feira (19/7) devem favorecer não só os poupadores, mas também quem aplica em fundos de investimentos. A medida, que reduz as perdas da caderneta de poupança em função da queda na taxa de juros (veja abaixo, na tabela 1), deve fazer com que os bancos diminuam as taxas de administração cobradas nos fundos de renda fixa.
"Quando a mudança no cálculo da TR entrar em operação, os bancos deverão se movimentar para evitar a migração de recursos dos fundos DI e Renda Fixa para a poupança", afirma Carlos Alberto Ercolin, diretor executivo de Economia, Banking e Finanças da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Até o final do ano, no entanto, nada deve mudar. Isso porque, na prática, as alterações na TR só passarão a valer quando a Taxa Básica Financeira (TBF), utilizada na definição da TR, cair abaixo de 10,5% ao ano. Hoje, esta taxa encontra-se em 11,123%¨ao ano e, pelos cálculos dos especialistas, só ficará abaixo de 10,5% no primeiro semestre de 2008.
As instituições financeiras, porém, já estão se preparando. De acordo com o estrategista do Private Banking do Santander, Odair Abate, além da TR, outro fator deve impulsionar os bancos a rever suas taxas de administração: a rápida queda na taxa básica de juros (Selic). "Os investidores estão muito atentos à remuneração de suas aplicações. Hoje, fundos DI e de Renda Fixa com taxas de administração acima de 2% ao ano já não são atrativos - e os investidores sabem disso. Com a alteração no cálculo da TR, os investidores devem ficar ainda mais exigentes e cobrar dos bancos taxas mais baixas", diz o executivo.
Como a poupança é isenta de taxa de administração e Imposto de Renda, há casos em que é mais vantajoso transferir os recursos do fundo para a caderneta (veja abaixo, na tabela 2). Mas isso pode vir a mudar no futuro. "Claro que o governo sabe de tudo isso e já deixou claro que, quando a TBF chegar a 9% ao ano, novas medidas deverão ser adotas. Daí, é possível que passem a cobrar Imposto de Renda na poupança", afirma Ercolin.
Novo perfil de investidor
As constantes reduções na taxa básica de juros promovidas pelo Banco Central nos últimos meses estão provocando mudanças também no perfil dos investidores. "Está cada vez mais difícil ser conservador quando o assunto é investimentos pessoais", diz o estrategista do Private Banking do Santander, Odair Abate.
Este ano, até junho, a poupança rendeu apenas 4%, e o CDI - que serve de referência para os fundos de renda fixa -, 6,01%. No mesmo período, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) subiu 22,30% ( clique aqui e veja o gráfico comparativo). "Não tem jeito. Nenhuma alteração na poupança ou nos fundos de renda fixa vai garantir ao investidor retornos altos, com baixo risco, como antigamente. Quem quiser melhor rentabilidade vai ter que aceitar mais risco e migrar para a renda variável", afirma Abate.
No primeiro semestre deste ano, os resgates nos fundos DI superaram as aplicações em 11,5 bilhões de reais, enquanto os fundos multimercados e os fundos de ações registraram saldo positivo em 12 bilhões de reais e 10 bilhões de reais, respectivamente.
Tabela 1
Como deverá ficar o rendimento da poupança com as mudanças na TR | ||||
TBF |
TR
| RENDIMENTO DA POUPANÇA | ||
AO ANO (%) | AO MÊS (%) | AO ANO (%) | AO MÊS (%) | AO ANO (%) |
12,00 | 0,1441 | 1,7427 | 0,6448 | 8,02 |
11,50 | 0,1187 | 1,4338 | 0,6193 | 7,69 |
11,00 | 0,0932 | 1,1245 | 0,5937 | 7,36 |
10,75 | 0,0804 | 0,9696 | 0,5808 | 7,20 |
10,50 | 0,0676 | 0,8146 | 0,5680 | 7,03 |
10,25 | 0,0629 | 0,7574 | 0,5632 | 6,97 |
10,00 | 0,0498 | 0,5998 | 0,5501 | 6,80 |
9,75 | 0,0754 | 0,9087 | 0,5758 | 7,13 |
9,50 | 0,0613 | 0,7386 | 0,5617 | 6,95 |
9,25 | 0,0693 | 0,8349 | 0,5697 | 7,05 |
9,00 | 0,0546 | 0,6572 | 0,5549 | 6,87 |
Como ficaria o rendimento na poupança sem as mudanças na TR | ||||
TBF |
TR
| RENDIMENTO DA POUPANÇA | ||
AO ANO (%) | AO MÊS (%) | AO ANO (%) | AO MÊS (%) | AO ANO (%) |
12,00 | 0,1441 | 1,7427 | 0,6448 | 8,02 |
11,50 | 0,1187 | 1,4338 | 0,6193 | 7,69 |
11,00 | 0,0932 | 1,1245 | 0,5937 | 7,36 |
10,75 | 0,0804 | 0,9696 | 0,5808 | 7,20 |
10,50 | 0,0676 | 0,8146 | 0,5680 | 7,03 |
10,25 | 0,0548 | 0,6595 | 0,5551 | 6,87 |
10,00 | 0,0419 | 0,5043 | 0,5421 | 6,70 |
9,75 | 0,0290 | 0,3489 | 0,5292 | 6,54 |
9,50 | 0,0161 | 0,1934 | 0,5162 | 6,37 |
9,25 | 0,0032 | 0,0378 | 0,5032 | 6,21 |
9,00 | -0,0098 | -0,1179 | 0,4901 | 6,04 |
Fonte: Prof. José Dutra Vieira Sobrinho, economista |
Tabela 2
Poupança X Fundos
Rendimento das aplicações
TBF ANUAL (em %) | TBF MENSAL (em %) | POUPANÇA MENSAL (%) |
TAXAS DE ADMINISTRAÇÃO (AO ANO)
| |||||||
4,0% | 3,5% | 3,0% | 2,5% | 2,0% | 1,5% | 1,0% | 0,5% | |||
12,00 | 0,9489 | 0,6448 | 0,49 | 0,52 | 0,56 | 0,59 | 0,62 | 0,66 | 0,69 | 0,73 |
11,50 | 0,9112 | 0,6193 | 0,46 | 0,49 | 0,53 | 0,56 | 0,59 | 0,63 | 0,66 | 0,70 |
11,00 | 0,8735 | 0,5937 | 0,43 | 0,46 | 0,50 | 0,53 | 0,56 | 0,60 | 0,63 | 0,67 |
10,75 | 0,8545 | 0,5808 | 0,42 | 0,45 | 0,48 | 0,52 | 0,55 | 0,58 | 0,62 | 0,65 |
10,50 | 0,8355 | 0,5680 | 0,40 | 0,43 | 0,47 | 0,50 | 0,53 | 0,57 | 0,60 | 0,63 |
10,25 | 0,8165 | 0,5632 | 0,39 | 0,42 | 0,45 | 0,49 | 0,52 | 0,55 | 0,59 | 0,62 |
10,00 | 0,7974 | 0,5501 | 0,37 | 0,40 | 0,44 | 0,47 | 0,50 | 0,54 | 0,57 | 0,60 |
9,75 | 0,7783 | 0,5758 | 0,35 | 0,39 | 0,42 | 0,46 | 0,49 | 0,52 | 0,56 | 0,59 |
9,50 | 0,7592 | 0,5617 | 0,34 | 0,37 | 0,41 | 0,44 | 0,47 | 0,51 | 0,54 | 0,57 |
9,25 | 0,7400 | 0,5697 | 0,32 | 0,36 | 0,39 | 0,42 | 0,46 | 0,49 | 0,52 | 0,56 |
9,00 | 0,7207 | 0,5549 | 0,31 | 0,34 | 0,38 | 0,41 | 0,44 | 0,48 | 0,51 | 0,54 |
Fonte: Prof. José Dutra Vieira Sobrinho, economista