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Lucro a jato

O novo Sistema de Pagamentos Brasileiro deslancha os negócios das pequenas empresas de tecnologia de São Paulo

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.

Quem visitou uma agência bancária no último dia 22 de abril, data de estréia do novo Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), não deve ter notado diferença nenhuma. Isso porque o novo SPB, que tornará as operações financeiras mais rápidas e seguras, não vai, pelo menos por enquanto, afetar a vida da maioria das pessoas. Mas o clima de calmaria ficou restrito ao outro lado do balcão. Dentro das empresas de tecnologia que desenvolveram softwares para integrar o antigo e o novo sistema, sobraram ansiedade e nervosismo. Muita gente passou o fim de semana anterior à estréia do SPB em claro, de prontidão para eventuais falhas no sistema, que levou quase três anos para sair do papel e consumiu mais de 1,7 bilhão de reais.

Um dos profissionais que viveram dias de insônia nos últimos meses foi o administrador de empresas Renê Lopes, sócio-diretor da CRK Informática, de São Paulo. Naquele tão esperado dia 22, Lopes exibia enormes olheiras ao falar a EXAME SP. "Estou aqui desde 5 da manh", disse. "Mas vim só por precaução. Não tivemos grandes problemas de transição para o novo sistema." As noites maldormidas serão mais do que compensadas. O SPB está sendo responsável por um belo empurrão nos negócios da CRK e de várias outras pequenas empresas de tecnologia de São Paulo. Graças ao novo sistema de pagamentos, a CRK conquistou dois grandes clientes para sua carteira, os bancos HSBC e Patagon, e faturou no ano passado 12,5 milhões de reais, quase 40% a mais que em 2000. A expectativa é crescer mais 20% a 30% neste ano.

Atuando no mercado de softwares para a área financeira desde 1985, a CRK nasceu da união entre dois analistas de sistemas e um economista. A empresa começou a deslanchar na década de 90. Na época, Lopes tinha a própria empresa de suporte técnico de hardware, mas resolveu largar tudo e entrar como sócio da CRK. Valeu a pena? A CRK é hoje líder no segmento de sistemas de renda fixa e Swap, que são usados por cerca de 60 dos pouco mais de 190 bancos do país. "Somos o principal parceiro da Microsoft no SPB", afirma Lopes.

Para quem não conhece esse mercado, parece surpreendente o fato de a CRK e outras pequenas empresas conquistarem clientes de peso, mesmo concorrendo com multinacionais como as americanas Compaq e Unysis e a holandesa Getronics. O que muita gente não sabe é que o Brasil tem uma das tecnologias bancárias mais avançadas do mundo. Segundo a Febraban, o país lidera o ranking mundial de menor tempo de compensação de operações financeiras, tem três instituições na lista das dez que mais usam a internet em suas transações e gasta cerca de 2,8 bilhões de reais por ano para desenvolver novas tecnologias. Tudo isso foi impulsionado pela altíssima inflação -- que beirou os 100% ao mês no fim da década de 80. "Os bancos tiveram de investir para diminuir o tempo que o dinheiro ficava parado, pois ocorria uma desvalorização de 3% a 4% ao dia", diz Luís Fernando Pacheco Pereira, diretor comercial da Mintter, outra empresa paulistana que está lucrando com o SPB.

Fundada há 19 anos por três ex-integrantes do mercado financeiro, a Mintter aumentou seu faturamento em 50% no ano passado graças principalmente ao novo SPB. Com uma carteira de clientes que inclui nomes como Deutsche Bank, Lloyds, Sudameris, Nossa Caixa e Banco Rural, a Mintter fornece uma ampla lista de softwares para cerca de 70 bancos. "Nosso produto principal é o sistema de câmbio", diz Pereira. "Estimamos que 40% das operações de câmbio do país sejam controladas por nosso programa." Para a integração de dados com o novo SPB, a Mintter criou um pacote com soluções para o acompanhamento em tempo real da conta de reservas bancárias e para o controle de todo o serviço de mensagens, necessário para a troca de informações entre agências e com o Banco Central. "O grande desafio foi fazer tudo isso interagir com os dados e os sistemas que os bancos já tinham", diz Pereira.

Outra empresa que recebeu uma grande injeção de ânimo com o SPB é a Software Design, sediada em Campinas. Criada em 1987 por um grupo de amigos recém-formados pela Unicamp, a Software Design conseguiu atrair 18 novos clientes de pequeno e médio porte, como as subsidiárias nacionais do Bank of America e JP Morgan, além de bancos como Fininvest e Cruzeiro do Sul. "Enquanto os negócios no setor de telecom minguavam, encontramos outra saída para crescer", diz Carlos Augusto Leite Netto, diretor da Software Design.

Além do lucro proporcionado pelos bancos, o novo SPB abriu para as empresas de tecnologia a perspectiva de um crescimento ainda maior em outro mercado: o corporativo. Com a necessidade de controlar recebimentos e pagamentos em tempo real, as grandes empresas estão pesquisando as soluções tecnológicas disponíveis no mercado. "Em princípio, todas as empresas no ranking das 500 maiores do país são compradoras em potencial dessa tecnologia", afirma Lopes, da CRK. De olho na nova onda de investimentos que deve ter início no segundo semestre deste ano, as empresas de tecnologia começaram a adaptar os sistemas para o SPB corporate. "É um novo mundo que está se abrindo", diz Pereira. Ele prevê um crescimento de 50% no faturamento da Mintter até o fim de 2003.

Com uma estratégia um pouco mais arrojada, a Software Design não só começou a buscar clientes corporativos como também organiza a criação de um consórcio que deverá definir uma linguagem padrão para a troca de mensagens entre bancos e empresas. Com isso, a empresa espera aumentar seu faturamento em 70% no próximo ano. Já a C&M Software tenta colocar São Paulo de vez no mapa mundial de tecnologia financeira: está sondando clientes em potencial no Peru e na Venezuela. "O know-how brasileiro é muito grande. Nenhum dos países do G7 tem a nossa tecnologia", afirma Orli Machado, diretor-geral da C&M.

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