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Ingresso no Brasil é caro e não vai baixar tão cedo

Demanda aquecida, infraestrutura precária e carga tributária pesada estão entre os fatores que jogam os valores dos ingressos nas alturas

Ingresso do show de Paul McCartney, o mais caro dos EUA, custou, em média, 252 reais (Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 17 de setembro de 2011 às 13h27.

São Paulo - Uma pesquisa realizada pela revista especializada norte-americana Pollstar, com base em mais de 1.200 turnês nos Estados Unidos, constatou que o ingresso de show mais caro no país foi o do ex-Beatle Paul McCartney. De acordo com o levantamento divulgado em junho, ele cobrou de seus fãs americanos, em média, 145,72 dólares (252 reais) nos doze meses anteriores (veja quadro sobre turismo musical). No Brasil, embora não haja estudo semelhante, o preço médio para o show do cantor e compositor inglês ficou bem acima disso. Os valores praticados em maio no Rio de Janeiro variaram de 150 reais a 700 reais. A apresentação de McCartney segue a regra da onda musical que, há alguns anos, tomou conta do Brasil: número crescente de artistas internacionais vem explorar o pujante mercado brasileiro, composto por milhares de fãs ávidos por consumir entretenimento – ainda que, para isso, seja necessário pagar caro. A má notícia é que, a despeito do natural amadurecimento deste setor, não há perspectiva de os ingressos ficarem mais baratos.

Demanda e custos elevados – Paul McCartney, que é uma lenda da música, pode até ter cacife para cobrar preços elevados onde quer que seja. Mas o que explica um ingresso para ver a cantora pop Rihanna, aquela da música Umbrella, chegar a 600 reais na pista premium em sua passagem por São Paulo? A resposta reside numa série de fatores que, combinados, que turbinam os custos das produções no país. Soma-se a isso o fato de que há muita gente disposta a pagar o preço que for para ver seu cantor preferido. Um exemplo disso é a banda americana Pearl Jam, que desembarca no Brasil em novembro para apresentações em São Paulo, Rio, Curitiba e Porto Alegre. Mesmo com ingressos a partir de 190 reais, as vendas foram tão bem-sucedidas, que o grupo já programou um show extra. “Enquanto a economia estiver bem, com o real forte, somado aos altos cachês dos artistas, os preços continuarão salgados”, diz João Marcello Bôscoli, da gravadora Trama.

Falta escala – Especialistas argumentam que um ponto fundamental para entender os preços exorbitantes dos shows no país é a dificuldade de ganhar escala. Nos Estados Unidos e na Europa, ao estruturar grandes turnês que percorrem dezenas de cidades, as produtoras conseguem baixar as despesas fixas de montagem e execução dos espetáculos. Em resumo, os custos por show ficam menores e permitem ingressos mais baratos.

No Brasil, infelizmente ocorre o contrário. A infraestrutura precária das cidades e a falta de um leque variado de lugares para realização de shows limitam as opções dos artistas. Na imprensa, é comum encontrar relatos de fãs que, além de pagarem preços altos, sofrem com o trânsito, a falta de transporte público e de táxis em número suficiente e, em alguns casos, com problemas típicos da má organização. Para completar o “inferno”, esses consumidores encontram locais superlotados. Muitos chegam com dez, doze horas de antecedência para garantir que ninguém estará na frente. “Há um excelente potencial econômico no país, mas a questão da infraestrutura ainda precisa melhorar muito”, avalia Toni Sando, diretor do São Paulo Convention & Visitors Bureau.


Para o presidente da SPTuris, Caio Luiz de Carvalho, o setor carece de investimentos. “Entretenimento é um setor estratégico para as economias locais. Os produtores lucram, mas são as pessoas que mais ganham. Enquanto os investimentos não acontecem, precisamos redobrar os cuidados com a logística e ter muita paciência”, disse.

Pessoas ligadas ao setor apontam que há escassez de locais específicos. No Brasil, quando se fala em apresentações musicais, logo as pessoas pensam num estádio ou numa casa de espetáculo, que são as opções mais comuns. Ora, eles representam dois extremos nesta indústria, pois o primeiro é mais apropriado a multidões e o segundo, a shows intimistas. Faltam espaços que seriam adequados a apresentações de porte médio.

“Na Europa, grande parte dos shows não acontece em estádios, mas em arenas, clubes e outros locais menores. Ainda assim, os produtores internacionais descobriram que o Brasil é um excelente negócio”, afirma Allan Sarkis, produtor das bandas de rock Angra e Sepultura, esta última um grande sucesso internacional. “Há no país um grande público para todos os estilos, em especial para o pop e o rock. A diferença entre um e outro é que o pop exige uma renovação mais rápida”, acrescenta. O mercado está tão aquecido que bandas como Iron Maiden e Metallica chegaram a aportar por aqui por duas ou mais vezes em curto período de tempo.

O velho problema dos impostos – Outro componente explosivo nos custos das entradas são os impostos. Cálculos realizados pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) apontam que 40% do preço deve-se à tributação – o cálculo inclui os impostos incidentes em todas as etapas de produção e comercialização do ingresso (emissão do bilhete, venda, distribuição, entrega, etc). Logo, num ingresso de 300 reais, 120 reais correspondem à parcela que o consumidor entrega ao estado.


Por fim, um dos argumentos da indústria para cobrar caro é que existe um número excessivo de vendas de meia-entrada. Produtores estimam que, de modo geral, metade do público possui algum artifício que lhe garante o benefício de pagar 50% do valor do ingresso. Se o show for em Brasília, onde há elevado número de funcionários públicos, este grupo de beneficiários chega a responder por 80% da comercialização de ingressos. A solução das produtoras é fazer o chamado ‘mix’ de preço: o valor tem de subir para que uma parcela do público, ao pagar ingressos caríssimos, compense aqueles que, de uma forma ou de outra, conseguem pagar menos. “Não há uma ciência exata para os preços dos ingressos, mas, se eles se esgotarem numa hora, a sensação é que deviam ter sido mais caros”, revela Leonardo Ganem, diretor da Geo Eventos – empresa criada em 2010 a partir de uma parceria das Organizações Globo com o Grupo RBS para explorar o filão de grandes eventos.

Avanços – A chegada de novas empresas confirma, aliás, a tendência de profissionalização do ramo. Em 1985, quando foi realizado o primeiro Rock in Rio, os ingleses do Queen tiveram de emprestar material a outras bandas, que, em outro caso, não teriam como se apresentar. Na edição de 2011, a partir da próxima sexta-feira, esse tipo de improviso é impensável. A figura do produtor aventureiro e romântico tem sido substituída por empresas altamente especializadas e profissionais. Além da Geo Eventos, outras organizações bem estabelecidas no mercado brasileiro, como a Time For Fun (T4F) e a XYZ, que é parte do Grupo ABC, do publicitário Nizan Guanaes, estão por trás da vinda de grandes nomes da música internacional. Estas empresas, aliás, têm estrutura e habilidade para fechar contratos de patrocínio que, além de complementar a renda dos shows, servem para custear os investimentos iniciais.

Para o consumidor, uma alternativa para pagar menos e ver muitos shows são os festivais de música – que também ganham força. Além do próprio Rock in Rio, outro destaque fica para o festival SWU, cuja próxima edição acontecerá em novembro na cidade de Paulínia, interior de São Paulo. Para o organizador Mac Chriesler – que trabalha ao lado do publicitário Eduardo Fischer, criador do evento –, o Brasil entrou de vez na rota dos shows. “Daqui a pouco as pessoas vão reservar parte do orçamento só para os ingressos”, aposta. Tamanho é o entusiasmo que um dos dias do festival acontecerá em plena segunda-feira, a mais de 100 quilômetros da capital paulista, que é o principal mercado consumidor deste tipo de entretenimento no país. Suas apostas para atrair o público paulistano neste dia são artistas consagrados como os do Faith No More, Sonic Youth, entre outros. O valor cobrado, de 210 reais, não é barato, mas dá direito a mais de vinte apresentações.

Ingresso não vai baixar – A opção do festival pode ser uma forma de o consumidor multiplicar seu poder aquisitivo na hora de consumir música. Trata-se de uma ideia claramente racional, ainda mais quando se considera que os preços exorbitantes dos ingressos no Brasil são uma realidade que, ao menos nos próximos anos, não deve se alterar. Os especialistas afirmam que os principais fatores que encarecem as entradas não apresentarão grande mudança no médio prazo: a infraestrutura dificilmente será aprimorada com rapidez; os impostos certamente não cairão; novos espaços para espetáculos não surgirão em número suficiente; continuará difícil ganhar escala; e a demanda não deverá refluir – pois não se espera que o país entre numa recessão ou que a renda da população despenque.

O alerta final fica para o câmbio: o real perdeu, em setembro, quase 9% de seu valor ante o dólar. Essa movimentação tem efeito direto sobre os custos das apresentações internacionais, que são cotados na moeda americana. Ainda é cedo, no entanto, para firmar a posição de que esta é uma tendência que veio para ficar, pois a economia internacional está carregada de incertezas.

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São Paulo - Uma pesquisa realizada pela revista especializada norte-americana Pollstar, com base em mais de 1.200 turnês nos Estados Unidos, constatou que o ingresso de show mais caro no país foi o do ex-Beatle Paul McCartney. De acordo com o levantamento divulgado em junho, ele cobrou de seus fãs americanos, em média, 145,72 dólares (252 reais) nos doze meses anteriores (veja quadro sobre turismo musical). No Brasil, embora não haja estudo semelhante, o preço médio para o show do cantor e compositor inglês ficou bem acima disso. Os valores praticados em maio no Rio de Janeiro variaram de 150 reais a 700 reais. A apresentação de McCartney segue a regra da onda musical que, há alguns anos, tomou conta do Brasil: número crescente de artistas internacionais vem explorar o pujante mercado brasileiro, composto por milhares de fãs ávidos por consumir entretenimento – ainda que, para isso, seja necessário pagar caro. A má notícia é que, a despeito do natural amadurecimento deste setor, não há perspectiva de os ingressos ficarem mais baratos.

Demanda e custos elevados – Paul McCartney, que é uma lenda da música, pode até ter cacife para cobrar preços elevados onde quer que seja. Mas o que explica um ingresso para ver a cantora pop Rihanna, aquela da música Umbrella, chegar a 600 reais na pista premium em sua passagem por São Paulo? A resposta reside numa série de fatores que, combinados, que turbinam os custos das produções no país. Soma-se a isso o fato de que há muita gente disposta a pagar o preço que for para ver seu cantor preferido. Um exemplo disso é a banda americana Pearl Jam, que desembarca no Brasil em novembro para apresentações em São Paulo, Rio, Curitiba e Porto Alegre. Mesmo com ingressos a partir de 190 reais, as vendas foram tão bem-sucedidas, que o grupo já programou um show extra. “Enquanto a economia estiver bem, com o real forte, somado aos altos cachês dos artistas, os preços continuarão salgados”, diz João Marcello Bôscoli, da gravadora Trama.

Falta escala – Especialistas argumentam que um ponto fundamental para entender os preços exorbitantes dos shows no país é a dificuldade de ganhar escala. Nos Estados Unidos e na Europa, ao estruturar grandes turnês que percorrem dezenas de cidades, as produtoras conseguem baixar as despesas fixas de montagem e execução dos espetáculos. Em resumo, os custos por show ficam menores e permitem ingressos mais baratos.

No Brasil, infelizmente ocorre o contrário. A infraestrutura precária das cidades e a falta de um leque variado de lugares para realização de shows limitam as opções dos artistas. Na imprensa, é comum encontrar relatos de fãs que, além de pagarem preços altos, sofrem com o trânsito, a falta de transporte público e de táxis em número suficiente e, em alguns casos, com problemas típicos da má organização. Para completar o “inferno”, esses consumidores encontram locais superlotados. Muitos chegam com dez, doze horas de antecedência para garantir que ninguém estará na frente. “Há um excelente potencial econômico no país, mas a questão da infraestrutura ainda precisa melhorar muito”, avalia Toni Sando, diretor do São Paulo Convention & Visitors Bureau.


Para o presidente da SPTuris, Caio Luiz de Carvalho, o setor carece de investimentos. “Entretenimento é um setor estratégico para as economias locais. Os produtores lucram, mas são as pessoas que mais ganham. Enquanto os investimentos não acontecem, precisamos redobrar os cuidados com a logística e ter muita paciência”, disse.

Pessoas ligadas ao setor apontam que há escassez de locais específicos. No Brasil, quando se fala em apresentações musicais, logo as pessoas pensam num estádio ou numa casa de espetáculo, que são as opções mais comuns. Ora, eles representam dois extremos nesta indústria, pois o primeiro é mais apropriado a multidões e o segundo, a shows intimistas. Faltam espaços que seriam adequados a apresentações de porte médio.

“Na Europa, grande parte dos shows não acontece em estádios, mas em arenas, clubes e outros locais menores. Ainda assim, os produtores internacionais descobriram que o Brasil é um excelente negócio”, afirma Allan Sarkis, produtor das bandas de rock Angra e Sepultura, esta última um grande sucesso internacional. “Há no país um grande público para todos os estilos, em especial para o pop e o rock. A diferença entre um e outro é que o pop exige uma renovação mais rápida”, acrescenta. O mercado está tão aquecido que bandas como Iron Maiden e Metallica chegaram a aportar por aqui por duas ou mais vezes em curto período de tempo.

O velho problema dos impostos – Outro componente explosivo nos custos das entradas são os impostos. Cálculos realizados pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) apontam que 40% do preço deve-se à tributação – o cálculo inclui os impostos incidentes em todas as etapas de produção e comercialização do ingresso (emissão do bilhete, venda, distribuição, entrega, etc). Logo, num ingresso de 300 reais, 120 reais correspondem à parcela que o consumidor entrega ao estado.


Por fim, um dos argumentos da indústria para cobrar caro é que existe um número excessivo de vendas de meia-entrada. Produtores estimam que, de modo geral, metade do público possui algum artifício que lhe garante o benefício de pagar 50% do valor do ingresso. Se o show for em Brasília, onde há elevado número de funcionários públicos, este grupo de beneficiários chega a responder por 80% da comercialização de ingressos. A solução das produtoras é fazer o chamado ‘mix’ de preço: o valor tem de subir para que uma parcela do público, ao pagar ingressos caríssimos, compense aqueles que, de uma forma ou de outra, conseguem pagar menos. “Não há uma ciência exata para os preços dos ingressos, mas, se eles se esgotarem numa hora, a sensação é que deviam ter sido mais caros”, revela Leonardo Ganem, diretor da Geo Eventos – empresa criada em 2010 a partir de uma parceria das Organizações Globo com o Grupo RBS para explorar o filão de grandes eventos.

Avanços – A chegada de novas empresas confirma, aliás, a tendência de profissionalização do ramo. Em 1985, quando foi realizado o primeiro Rock in Rio, os ingleses do Queen tiveram de emprestar material a outras bandas, que, em outro caso, não teriam como se apresentar. Na edição de 2011, a partir da próxima sexta-feira, esse tipo de improviso é impensável. A figura do produtor aventureiro e romântico tem sido substituída por empresas altamente especializadas e profissionais. Além da Geo Eventos, outras organizações bem estabelecidas no mercado brasileiro, como a Time For Fun (T4F) e a XYZ, que é parte do Grupo ABC, do publicitário Nizan Guanaes, estão por trás da vinda de grandes nomes da música internacional. Estas empresas, aliás, têm estrutura e habilidade para fechar contratos de patrocínio que, além de complementar a renda dos shows, servem para custear os investimentos iniciais.

Para o consumidor, uma alternativa para pagar menos e ver muitos shows são os festivais de música – que também ganham força. Além do próprio Rock in Rio, outro destaque fica para o festival SWU, cuja próxima edição acontecerá em novembro na cidade de Paulínia, interior de São Paulo. Para o organizador Mac Chriesler – que trabalha ao lado do publicitário Eduardo Fischer, criador do evento –, o Brasil entrou de vez na rota dos shows. “Daqui a pouco as pessoas vão reservar parte do orçamento só para os ingressos”, aposta. Tamanho é o entusiasmo que um dos dias do festival acontecerá em plena segunda-feira, a mais de 100 quilômetros da capital paulista, que é o principal mercado consumidor deste tipo de entretenimento no país. Suas apostas para atrair o público paulistano neste dia são artistas consagrados como os do Faith No More, Sonic Youth, entre outros. O valor cobrado, de 210 reais, não é barato, mas dá direito a mais de vinte apresentações.

Ingresso não vai baixar – A opção do festival pode ser uma forma de o consumidor multiplicar seu poder aquisitivo na hora de consumir música. Trata-se de uma ideia claramente racional, ainda mais quando se considera que os preços exorbitantes dos ingressos no Brasil são uma realidade que, ao menos nos próximos anos, não deve se alterar. Os especialistas afirmam que os principais fatores que encarecem as entradas não apresentarão grande mudança no médio prazo: a infraestrutura dificilmente será aprimorada com rapidez; os impostos certamente não cairão; novos espaços para espetáculos não surgirão em número suficiente; continuará difícil ganhar escala; e a demanda não deverá refluir – pois não se espera que o país entre numa recessão ou que a renda da população despenque.

O alerta final fica para o câmbio: o real perdeu, em setembro, quase 9% de seu valor ante o dólar. Essa movimentação tem efeito direto sobre os custos das apresentações internacionais, que são cotados na moeda americana. Ainda é cedo, no entanto, para firmar a posição de que esta é uma tendência que veio para ficar, pois a economia internacional está carregada de incertezas.

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